PEREGRINAÇÃO

Corrida pela presidência da Câmara terá romaria a São Paulo para reuniões com Kassab

Fortalecido pelas eleições, Kassab se encontrará com o líder de seu partido e candidato à presidência da Câmara, Brito, e também com a cúpula do União Brasil

Por Lara Alves
Publicado em 01 de novembro de 2024 | 13:58

BRASÍLIA As articulações pela presidência da Câmara dos Deputados não terão pausa no fim de semana, mas acontecerão fora dos limites de Brasília. A cúpula do União Brasil se encontrará com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, em São Paulo, que também receberá o líder de seu partido, deputado Antonio Brito, no páreo pela cadeira mais importante da Câmara hoje ocupada por Arthur Lira (PP-AL). 

Na última quinta-feira (31), o líder da bancada do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), confirmou que se encontrará com Kassab. O presidente de seu partido, Antonio de Rueda, e o vice ACM Neto também participarão da reunião em São Paulo. Eles negociarão com o cacique do PSD a manutenção da candidatura de Elmar à presidência ou a desistência dele.

O que está em xeque é o desejo de Elmar de se manter candidato, o pacto que ele firmou com Antonio Brito e a intenção da bancada do União Brasil de indicar apoio público à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB), que é o nome de Lira para a sucessão. 

Brito também se encontrará com Kassab. Interlocutores do líder do PSD na Câmara têm dito que ele não abrirá mão da própria candidatura porque, apesar de não ter o apoio formal das bancadas, ele coleciona as promessas de votos dos deputados, segundo aliados. Brito tem se movimentado, inclusive, pela manutenção da candidatura de Elmar — que prometeu apoiá-lo em um eventual segundo turno na disputa pela presidência da Câmara. 

As declarações de apoio de oito partidos à candidatura de Hugo Motta atravessaram a bancada do União Brasil, que se reuniu na quarta-feira (30) à noite e também na quinta-feira (31). Havia o desejo de que Elmar desistisse da disputa e ainda a intenção de que o partido se colocasse à disposição de Motta, tratado por algumas bancadas como franco favorito a vencer a eleição.

Mas, nada mudou no partido, que deve se reunir para mais uma rodada de discussões na terça-feira (5). O encontro com Kassab deve ser decisivo para o União Brasil tomar uma decisão sobre o rumo que tomará nesse pleito. 

Quem é quem na eleição para a presidência da Câmara 

Arthur Lira 

Líder do PP na Câmara dos Deputados antes de assumir a presidência, Arthur Lira (AL) assumiu a cadeira mais importante da Casa e a ocupa há quatro anos — por dois mandatos consecutivos.

Na última eleição, em fevereiro do ano ado, Lira alcançou recorde de votos na história da Câmara dos Deputados: ele recebeu 464 votos dos 509 parlamentares presentes na sessão, tendo o apoio de um bloco parlamentar único com vinte partidos — do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Lira calculava eleger o amigo e aliado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) como seu sucessor no pleito que acontecerá em fevereiro de 2025. E o deputado do União Brasil contava com esse apoio que não chegou.

Alegando a necessidade de repetir o bloco único que o elegeu à procura de consenso entre as bancadas, Lira indicou em outubro que seu candidato é Hugo Motta (PB), líder do Republicanos na Câmara. 

A decisão marcou o rompimento com Elmar, tratado nos meses anteriores como o sucessor óbvio de Lira. O líder do União Brasil não escondeu a decepção e repetiu ter se sentido traído por Lira. "Perdi meu melhor amigo", disse Elmar nessa quinta-feira (31) sobre o ponto final na longa amizade com o atual presidente da Câmara dos Deputados. 

Elmar Nascimento 

Com forte capital político na Bahia, Elmar Nascimento é o líder da bancada do União Brasil na Câmara dos Deputados. Desde que as discussões sobre a sucessão de Lira começaram, ainda em dezembro do ano ado, Elmar era tratado como o sucessor óbvio do alagoano, principalmente pela relação de proximidade entre eles.

Lira nunca indicou publicamente o apoio à candidatura de Elmar, mas aliados confirmaram a intenção do presidente da Câmara em eleger o amigo. 

Entretanto, algumas questões teriam pesado contra Elmar Nascimento para Arthur Lira. O ponto central é a dificuldade de trânsito de Elmar entre as bancadas; deputados questionam a capacidade de articulação e negociação do líder do União Brasil, que não era bem-visto pelo Palácio do Planalto por ser parte do grupo rival ao do ministro Rui Costa, da Casa Civil, na Bahia.

Ele também não era um nome forte entre os deputados do PL — a maior bancada da Câmara com 93 parlamentares. 

Elmar não era o nome de consenso que Lira queria e Hugo Motta apareceu como a melhor opção, para o presidente da Câmara, nessa equação. Elmar acabou isolado e optou por se movimentar na direção oposta a Lira: buscou uma aproximação com o governo Lula (PT) e se reuniu com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, rival de Arthur Lira.

O líder do União Brasil também teve encontros com os ministros que o partido mantém no governo: Celso Sabino, do Turismo, e Juscelino Filho, das Comunicações. 

E essa não foi a única cartada de Elmar. Ele ainda se uniu a outro candidato na disputa pela presidência da Câmara: Antonio Brito, líder do PSD na Casa. Os dois firmaram um pacto de apoio mútuo em um eventual segundo turno da eleição. 

Antonio Brito 

Líder do PSD na Câmara dos Deputados, Antonio Brito ostenta o título de ser um dos parlamentares com melhor trânsito entre as bancadas. É um nome querido do PL ao PT, tem relações de amizade com o líder do bloco do PL, Altineu Côrtes (RJ), e com outros importantes deputados da Casa.

Aliados acreditam que o principal trunfo dele nessas eleições é o contato corpo-a-corpo. Como os votos para a presidência da Câmara são secretos, os deputados podem divergir da orientação da bancada e votar em quem quiser. 

Interlocutores têm dito que o favoritismo antes de Elmar Nascimento e agora de Hugo Motta não assusta Brito, que, nas palavras de um aliado, "sempre esteve navegando contra o vento". Ligado à ala mais progressista da Câmara, ele não encontra resistências no governo Lula. 

O principal fiador da candidatura de Brito é o presidente de seu partido, o cacique Gilberto Kassab, que saiu fortalecido das eleições municipais. O PSD se tornou o partido com maior número de prefeituras no país no último pleito.A hipótese de desistência de Brito não está na pauta de Kassab, que deve articular a manutenção de candidatura de Elmar e o apoio do União Brasil a Brito. Na contramão, Lira tenta convencê-lo a desistir de Brito e apoiar Hugo Motta. 

Hugo Motta 

Eleito deputado com a idade mínima permitida, ele está na Câmara há 14 anos e pode se tornar o presidente mais jovem da história da Casa com 35 anos. Hugo Motta surgiu na disputa para a presidência com a desistência do então candidato de seu partido, Marcos Pereira (Republicanos-SP), que é presidente nacional da sigla. Motta é um nome tratado pelas bancadas como capaz de unir polos partidários divergentes em torno de sua candidatura. 

Ele recebeu o apoio público do presidente Arthur Lira na última terça-feira (29). Depois disso, oito partidos confirmaram que irão apoiá-lo: PP, Republicanos, Podemos, MDB, PT, PL, PCdoB e PV. Motta também dialoga com as outras bancadas, e novos acordos devem ser firmados nos próximos dias.

O deputado, que é líder do Republicanos, é franco favorito na disputa. Ele manifesta o desejo de construir um bloco único de partidos em torno de sua candidatura. Assim como Brito, Motta é um parlamentar muito querido pelos pares e recebeu o aval do presidente Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Nessa quinta-feira, Motta ligou para Elmar Nascimento e os dois marcaram um encontro. Interlocutores têm dito que o líder do Republicanos quer intensificar o diálogo com o adversário que, em breve, pode apoiá-lo. Aliados de Elmar também dizem publicamente que ele não vê empecilhos para apoiar Motta e que o problema, para ele, é apenas Lira.