CÂMARA DOS DEPUTADOS

Entenda por que resolução que suspendeu ação penal contra Ramagem pode ‘salvar’ Bolsonaro 6f20l

O texto aprovado pela Câmara dos Deputados foi apontado como inconstitucional pela base governista, que informou que irá recorrer ao STF 3h32n

Por Lucyenne Landim
Publicado em 08 de maio de 2025 | 12:54
 
 
Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem em 2019, quando o atual deputado foi chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Foto: Arquivo/Agência Brasil

BRASÍLIA - O movimento feito pela Câmara dos Deputados para suspender a ação penal da suposta trama golpista contra Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi criticado pela base governista, que viu uma brecha que pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Isso, porque pode interromper, também, o possível julgamento de Bolsonaro e outros réus arrolados no caso.

A resolução aprovada foi proposta pelo PL com base em um artigo da Constituição Federal. O trecho diz que o Congresso Nacional poderá sustar o andamento de ação contra senador ou deputado por crime ocorrido após a diplomação, ou seja, após a Justiça Eleitoral declarar que o político cumpriu todos os requisitos e está apto para tomar posse no cargo em que foi eleito. 

O relatório analisado na Câmara foi apresentado pelo deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL). Ao longo de seu parecer, o relator citou o nome de Ramagem, mas o texto que foi promulgado não especifica que a decisão favorece somente o deputado federal. 

“Fica sustado o andamento da Ação Penal contida na Petição n. 12.100, em curso no Supremo Tribunal Federal, em relação a todos os crimes imputados”, diz a resolução promulgada pela Câmara. 

Sem restringir explicitamente a decisão, parlamentares avaliaram que o texto pode atingir todos os alvos da ação penal, incluindo Bolsonaro, e adiar o eventual julgamento de todo o caso no Supremo Tribunal Federal (STF) somente para quando Ramagem não tiver mais mandato. 

A tese, no entanto, foi entendida como inconstitucional por um grupo político, que já avisou que recorrerá à Suprema Corte. É o caso, por exemplo, das bancadas do PT e do Psol na Câmara. Se for provocado, o STF pode entender que a decisão se aplica somente a Ramagem, como prevê a Constituição, e prosseguir na ação penal contra os outros alvos – incluindo Bolsonaro.  

O presidente da Primeira Turma do STF, ministro Cristiano Zanin, chegou a enviar um ofício à Câmara esclarecendo que é possível trancar a ação penal somente contra Ramagem. Além disso, apenas para dois dos cinco crimes atribuídos ao deputado. São eles dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado, relacionados aos atos de 8 de janeiro de 2023. Na ocasião, Ramagem já tinha sido diplomado.

Durante a votação da resolução, o texto foi alvo de intensas críticas por deputados da base governista. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) alegou que “a lei é clara” quando a sustação de ação penal e que “a Câmara não pode fazer isso”. 

“Causa, pelo menos, um sentimento de absurdo ver que um relatório não quer liberar apenas o deputado Ramagem, inclusive pelo crime que cometeu antes de ser deputado, mas também Jair Bolsonaro, Augusto Heleno, Braga Netto e tantos outros que cometeram crimes gravíssimos contra o povo brasileiro, contra a Constituição", disse. 

O relator, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), informou que seu parecer foi feito “respeitando” a Constituição. “Fui eu que fabriquei a Constituição, mandando sustar o andamento da ação penal? Eu queria dizer que eu não vou restringir direito constitucional onde não cabe restrição. Esse não é o meu papel! Eu estou aqui para cumprir a Constituição. E estou cumprindo a Constituição ao pé da letra”, rebateu.