-
Esposa de MC Poze defende cantor após declaração de facção em prisão
-
Fernanda Campos revela que recusou participar de reality por conta de "cláusula Neymar"
-
Paulo Cupertino nega ter matado ator de Chiquititas em depoimento
-
Paulo Cupertino é condenado a 98 anos de prisão por morte de ator
-
Isabel Veloso revela não ter expectativa de ver filho crescer, mesmo após anunciar remissão
‘Vale Tudo’: Entenda por que a novela ainda é considerada referência na teledramaturgia
Exibido originalmente em 1988, folhetim se tornou um fenômeno e ganha remake na estreia do sucesso que a história ainda faz
Era noite de 16 de maio de 1988 quando a Globo levou ao ar o primeiro capítulo de “Vale Tudo”, novela escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres. Naquele dia, a história que trazia no elenco nomes como Regina Duarte, Gloria Pires, Beatriz Segall, Antonio Fagundes e Renata Sorrah, registrou 56 pontos de audiência, e não parou de crescer à medida que a trama, que provocava o público se valia a pena ser honesto e se valia tudo para vencer na vida, se desenvolvia - chegou a atingir média de 72 pontos nas últimas semanas de exibição, algo inimaginável nos dias atuais - e os personagens cativavam o público. A novela se tornou um fenômeno da teledramaturgia brasileira e parou o país com uma pergunta: quem matou Odete Roitman?
Agora, às vésperas de completar 37 anos da sua primeira exibição, “Vale Tudo” ganha um remake, que estreia nesta segunda-feira (31), na Globo, pelas mãos da autora Manuela Dias. Apresentada como a novela dos 60 anos da emissora - que será comemorado no dia 26 de abril -, a nova versão chega na esteira do sucesso que a história fez no ado e sendo lembrada até hoje, povoando o imaginário de quem assistiu a original - seja em 1988, nas reprises ou no Globoplay - e despertando o interesse de quem só ouviu falar da trama - seja por memes ou pelo buzz em torno da estreia do remake. Mas, por que “Vale Tudo” fez tanto sucesso e ainda hoje é uma referência no gênero?
Leia mais: 'Vale Tudo': Manuela Dias diz que remake é novela 'atualizada' com 'cheiro vintage'
“Acho interessante e engraçado a especulação das pessoas sobre a novela, os comentários sobre como vai ser e como não vai ser. Mostra que as pessoas estão envolvidas, engajadas. A TV Globo faz uma novela atrás da outra há anos, e as pessoas seguem interessadas. 'Vale Tudo' virou esse clássico, e clássicos sobrevivem à agem do tempo”, comenta Debora Bloch, que no remake interpreta a vilã Odete Roitman - na versão original, o papel foi de Beatriz Segall. “É a novela das novelas”, defende Taís Araujo, que na “Vale Tudo” de 2025 interpreta a heroína Raquel, que na primeira versão foi vivida por Regina Duarte. Opinião também compartilhada por Manuela Dias, por Paulo Silvestrini (diretor artístico do folhetim) e por iradores.
Roteirista, professor e pesquisador de teledramaturgia, Reynaldo Maximiano endossa o coro e elenca o que considera ser um dos principais pontos do fenômeno “Vale Tudo”: abordar questões do dia a dia da sociedade brasileira de forma mais realista e bem atrelada a um bom melodrama, com uma história em constante movimentação. “Quando você pega ‘Dancin’ Days’, ‘Água Viva’ e ‘Corpo a Corpo’, por exemplo, que também são obras de Gilberto Braga, você percebe uma crescente na abordagem da sociedade brasileira: a ética, corrupção e uma classe média mais abastada, que ganha um espaço muito grande nas novelas do autor. Porém, o mais complicado de abordar questões do cotidiano brasileiro, como política e economia, trazendo personagens que falam quanto custa o preço da carne e debater o que se é capaz de fazer para melhorar a vida, é aliar isso ao melodrama”, explica.
De acordo com o pesquisador, nos anos 1970 e 1980, a teledramaturgia brasileira já apresentava uma estrutura de melodrama que fugia um pouco das demarcações clássicas de herói, vilão, vítima e palhaço. Ele cita, como exemplo, o personagem Carlão, de “Pecado Capital” (1975), que não se encaixa no perfil de “herói tolinho”. “Você tem ali tipos que parecem mais próximos dos brasileiros, um aspecto naturalista de representação do melodrama no Brasil”, pontua Maximiano - ou seja, personagens que carregam características que podem ser identificadas nas pessoas na vida real. “Esse tipo de tematização de realidades socioculturais, econômicas e políticas brasileiras, com a qualidade do melodrama é que era a grande dificuldade; essa alquimia que era difícil. Ali, em ‘Vale Tudo’, a coisa deu certo”, afirma. “É uma novela cheia de plot, de evento, de virada, de estratagema. Uma hora você se dá bem, outra hora você se dá mal; tem sempre alguma coisa acontecendo”, acrescenta.
Leia mais: 'Vale Tudo': Por que recontar a história nos dias de hoje?
Impacto cultural que atravessa gerações
“Em termos de impacto cultural, talvez existam outras novelas que tenham sido mais impactantes do que ‘Vale Tudo’”, avalia a professora e doutora em história e culturas políticas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Gabriela Galvão. “Eu entendo que ‘Vale Tudo’ tenha um impacto político muito grande, porque promove a discussão. Porque assistir novela é algo coletivo; você não só assiste: você discute com o seu filho, com o seu parente, com o seu vizinho, com o seu colega de trabalho. Então, a novela tem essa característica muito forte. Acho que ‘Vale Tudo’ teve essa questão de suscitar essas discussões”, observa ela, que no doutorado defendeu a tese “‘Enquanto os homens exercem seus podres poderes’: movimentos sociais, censura e repercussão na imprensa das telenovelas Um Sonho a Mais (1985), Mandala (1987) e Vale Tudo (1988)”.
Para a professora, essa novela sempre fez parte do imaginário das pessoas e lembra que a reprise do folhetim no canal pago Viva, em 2010, também foi um grande sucesso. “É a primeira novela do Viva a repercutir em rede social, principalmente no Twitter (agora, X). Nessa época (da reprise), as pessoas discutiam a novela, foram criados perfis com as pessoas se ando pelos personagens da novela. Então, eu acho que ‘Vale Tudo’ tem esse impacto cultural que vai além de 1988”, analisa.
“Vale Tudo” foi exibida em mais de 30 países, entre eles, Cuba. Segundo Gabriela, a novela fez muito sucesso no país no início dos anos 1990, no governo Fidel Castro. “Naquela época, Fidel estava permitindo que as pessoas abrissem restaurantes privados, fora do domínio do Estado. Esses restaurantes am a se chamar Paladar, em homenagem ao primeiro restaurante que Raquel abre, o Paladar”, conta a professora, frisando a grande identificação do público latino com a trama.
Leia mais: 'Vale Tudo': Veja o elenco do remake e quem interpretou os personagens na versão original
Por conta disso, em 2002, a Globo e a Telemundo, braço hispânico da rede americana NBC, realizaram, em coprodução, um remake de “Vale Tudo”, gravado nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, e que contou com Antonio Fagundes no elenco. Porém, ela afirma: “Foi um fracasso retumbante”.