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Política em Minas e no Brasil - Brasília, Congresso, ALMG, Câmara de BH e os bastidores
Depoimentos revelam bastidores da tentativa de golpe. Relembre o que foi dito até agora
Declarações de militares, ex-integrantes do governo e servidores expõem planos, alertas ignorados, tensões e uso da máquina para interferir nas eleições
BRASÍLIA – Os depoimentos colhidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) até terça-feira (27) no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 têm traçado um panorama detalhado da atuação de integrantes do governo Jair Bolsonaro e aliados militares e civis.
Testemunhas revelaram desde o uso estratégico da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar o o de eleitores do Nordeste às urnas, até reuniões em que se discutiram minutas golpistas e advertências diretas sobre possíveis prisões caso houvesse ruptura institucional.
As oitivas – que prosseguem na manhã desta quinta-feira (28) ouvindo novas testemunhas do ex-ministro da Justiça Anderson Torres – apontam também o envolvimento de nomes como Silvinei Vasques, Alexandre Ramagem, Walter Braga Netto e o próprio Jair Bolsonaro, além de divergências dentro das Forças Armadas sobre a adesão a planos ilegais.
Confira os principais destaques dessas declarações que reforçam a gravidade da tentativa de subversão da ordem democrática para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no governo do Brasil em 2023.
Ameaça de prisão de Bolsonaro
Em depoimento ao STF, o ex-comandante do Exército general Freire Gomes relatou que Jair Bolsonaro apresentou duas versões de uma minuta de golpe, sugerindo a decretação de estado de defesa no TSE e a prisão do ministro Alexandre de Moraes. Freire Gomes afirmou que se opôs ao plano e alertou que, caso fosse implementado, ele tomaria medidas para impedir a ação como a prisão do ex-presidente.
o à minuta do golpe
Ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior confirmou que também teve o às minutas do golpe apresentadas por Bolsonaro. Ele destacou que, se não fosse a recusa dos comandantes militares, o golpe teria grande chance de sucesso. Baptista Júnior enfatizou que a ação foi planejada por um grupo de pessoas, incluindo Bolsonaro, e que abandonou uma reunião quando percebeu que havia um plano de tomada de poder à força traçado.
Reuniões no Alvorada
Outro ex-comandante do Exército, Bernardo Romão confirmou que esteve presente em reuniões no Palácio do Alvorada após o segundo turno das eleições de 2022. Ele se manteve em silêncio quando questionado sobre mensagens que o implicam diretamente na tentativa de golpe, indicando possível envolvimento no planejamento da ação.
Uso da máquina pública para interferir na eleição presidencial
O servidor público Clebson Ferreira de Paula Vieira afirmou que houve direcionamento político no Ministério da Justiça durante as eleições de 2022 para favorecer Bolsonaro. Convocado como testemunha de acusação pela PGR, Clebson revelou que a então diretora da pasta, Marília de Alencar – ré no inquérito do "núcleo 2" – pediu análises eleitorais com foco crescente em Lula e, posteriormente, pediu a elaboração de um com a distribuição de agentes da PRF, o que gerou estranheza. Ele também mencionou uma demanda para cruzar dados de urnas com áreas controladas pelo Comando Vermelho, após visita de Lula a uma favela.
Silvinei quis fazer da PRF uma polícia de Bolsonaro
O ex-coordenador de Análise de Inteligência da PRF Adiel Pereira Gomes declarou que a proximidade do então diretor-geral Silvinei Vasques com Jair Bolsonaro gerava desconforto dentro da corporação. Silvinei, réu no inquérito, comandou blitze em rodovias do Nordeste no segundo turno para dificultar o o dos eleitores de Lula às urnas. Segundo Adiel, Silvinei, acompanhado do ministro da Defesa Anderson Torres, tentava militarizar a PRF e criava uma "polícia de governo e não de Estado".
Bolsonaro sabia que urnas não foram fraudadas
Ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior declarou ao STF que Bolsonaro sabia que não houve fraude nas eleições de 2022, apesar de questionar a lisura das urnas eletrônicas. Em depoimento no inquérito do “núcleo 1”, Baptista relatou que participou de pelo menos cinco reuniões com Bolsonaro, nas quais o ex-presidente foi informado da inexistência de provas de fraude. Ele também afirmou que Bolsonaro apresentou um relatório do Instituto Voto Legal que induzia ao erro, mas o brigadeiro identificou falhas no documento e alertou o ex-presidente. Baptista afirmou ainda que a demora de Bolsonaro em entregar esse relatório ao TSE foi proposital.
Garnier colocou a Marinha à disposição de Bolsonaro
Diferentemente de Freire Gomes, Baptista também acusou o ex-comandante da Marinha, general Garnier, de apoiar a intervenção militar e se colocar à disposição de Bolsonaro, oferecendo à tropa a possibilidade de atuação em favor do ex-presidente, o que causou preocupação dentro das Forças Armadas.
GLO para impedir posse de Lula
O brigadeiro Carlos Baptista Júnior afirmou ao STF que, dois dias após a diplomação de Lula, participou de uma reunião com os comandantes das Forças Armadas e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, na qual foi apresentado um plano de golpe de Estado. Ao perceber que o documento propunha impedir a posse do presidente eleito, recusou-se a ler e deixou a reunião. Ele relatou que apenas o general Freire Gomes também se opôs, enquanto Garnier permaneceu calado. Baptista disse ainda ter participado de reuniões anteriores com Bolsonaro para discutir as urnas e o uso de GLO, mas deixou o apoio ao entender que o real objetivo era impedir a posse de Lula.
Moraes ameaça Aldo Rebelo de prisão
Durante depoimento ao STF, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo entrou em confronto com o ministro Alexandre de Moraes ao tentar justificar a declaração do almirante Garnier de que estaria “à disposição” de Jair Bolsonaro para um possível golpe. Moraes interrompeu Rebelo e o ameaçou de prisão por desacato ao exigir respostas objetivas. Rebelo também criticou a condução das investigações, alegando que a cadeia de comando da Marinha não foi ouvida. Segundo ele, a fala de Garnier refletiria a lógica da hierarquia militar, em que ordens são cumpridas sem questionamento.
Diretor da Abin despachava do Planalto
O ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem mantinha uma sala no segundo andar do Palácio do Planalto durante o governo Bolsonaro, onde despachava todas as tardes – algo inédito em gestões anteriores, segundo o servidor Christian Schneider. Ramagem, que hoje é deputado federal pelo PL, também tinha reuniões semanais com o general Augusto Heleno, então chefe do GSI, mas se encontrava com Bolsonaro sem aviso prévio ao órgão.