BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso em tom duro na Cúpula do Futuro e criticou organismos que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU). Ele declarou que o Sul Global não está representado em espaços de debate internacional "de forma condizente com seu peso político, econômico e demográfico".

O evento aconteceu neste domingo (22) em Nova York, nos Estados Unidos, e antecede os debates da Assembleia Geral da ONU. O brasileiro ainda declarou que falta “ambição e ousadia” da comunidade internacional em fazer reformas institucionais e citou a mudança climática, enquanto o Brasil enfrenta uma crise por conta da onda de incêndios

'Fracasso coletivo'

Na visão dele, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que têm metas globais, "foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos e caminham para se tornarem nosso maior fracasso coletivo". Ao reforçar a crítica ao ritmo de cumprimento da agenda, Lula indicou que, pela atual fase de implementação, apenas 17% das metas definidas na Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo. 

“Na COP28 do Clima, o mundo realizou um balanço global da implementação das metas do Acordo de Paris. Os níveis atuais de redução de emissões de gases do efeito estufa e financiamento climático são insuficientes para manter o planeta seguro”, afirmou. 

Ele informou que irá trabalhar junto ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, “por um balanço ético global, reunindo diversos setores da sociedade civil para pensar a ação climática sob o prisma da justiça, da equidade e da solidariedade” como uma preparação para a COP30”, que acontecerá no Brasil em 2025.

Lula reforçou a iniciativa do Brasil no comando do G20 de lançar a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e declarou que “naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso”, defendendo que não haja retrocessos. “Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente”, disse. 

Ainda de acordo com o presidente, o mundo não pode recuar “na promoção da igualdade de gêneros, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação”. “Tampouco podemos voltar a conviver com ameaças nucleares. É inaceitável regredir a um mundo dividido em fronteiras ideológicas ou zonas de influência”, continuou. 

Críticas à ONU 

Em seu discurso, Lula citou o Pacto para o Futuro, que deve ser assinado na ONU, e disse que o documento “trata de forma inédita temas importantes como a dívida de países em desenvolvimento e a tributação internacional”. O presidente frisou que “a criação de uma instância de diálogo entre Chefes de Estado e de Governo e líderes de instituições financeiras internacionais promete recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial”.

“O Pacto Global Digital é um ponto de partida para uma governança digital inclusiva, que reduza as assimetrias de uma economia baseada em dados e mitigue o impacto de novas tecnologias como a Inteligência Artificial. Todos esses avanços serão louváveis e significativos. Mas, ainda assim, nos faltam ambição e ousadia”, declarou. 

O presidente destacou que “a crise da governança global requer transformações estruturais”. “A pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais. A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões”, criticou. 

Segundo Lula, “a Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado”, enquanto “a legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades”. O presidente brasileiro já fez, em outras ocasiões, críticas à atuação do órgão diante de conflitos armados

O presidente declarou que “o Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico” nesses debates e apontou que “a Carta da ONU não faz referência à promoção do desenvolvimento sustentável”.  

Lula ainda citou as instituições de Bretton Woods, que atuam no cenário monetário, e declarou que elas “desconsideram as prioridades e as necessidades do mundo em desenvolvimento”. “Precisamos de coragem e vontade política para mudar [...] O melhor legado que podemos deixar às gerações futuras é uma governança capaz de responder de forma efetiva aos desafios que persistem e aos que surgirão”, finalizou.

Microfone cortado 

Lula tinha cinco minutos para discursar na Cúpula do Futuro, tempo concedido a todos que falaram no evento. O presidente, porém, estourou o tempo e teve o microfone desligado antes do fim de seu discurso. Na terça-feira (24), o presidente irá discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU.