BRASÍLIA - Ao discursar no pré-lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, nesta quarta-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que o combate à fome “exige decisão política” e que a insegurança alimentar enfraquece a democracia.
“A fome e a pobreza inibem o exercício pleno da cidadania e enfraquecem a própria democracia. Erradicá-las equivale a uma verdadeira emancipação política para milhões de pessoas”, discursou em evento no Rio de Janeiro.
Em seguida, ressaltou que a fome não resulta apenas de fatores externos de um país ou região. “Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficiente para erradicá-la. O que falta é criar condições de o aos alimentos”, completou.
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza é uma iniciativa brasileira, que atualmente ocupa a presidência do G20. A reunião de cúpula do grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo vai ocorrer em novembro no Rio de Janeiro.
Ao falar ainda sobre a insegurança alimentar, Lula declarou que os governantes precisam olhar para aqueles que estão distantes de espaços de privilégios, a exemplo de palácios e ministérios.
“Eu, quando falo isso, eu fico emocionado porque a fome não é uma coisa natural. Fome não é uma coisa natural. A fome é uma coisa que exige decisão política. Nós, governantes, não podemos olhar o tempo inteiro só para quem está próximo de nós. É preciso que a gente consiga fazer uma radiografia e olhar aqueles que estão distantes, (...) aqueles que não conseguem chegar numa escola, aqueles que são vítimas de preconceito todo santo dia”, frisou.
Brasil no Mapa da Fome
Segundo relatório divulgado nesta quarta-feira pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), mais de 730 milhões de pessoas aram fome no mundo no ano ado.
Em relação ao Brasil, o relatório da agência da ONU aponta que 3,9% da população brasileira ou fome entre 2021 e 2023, o que corresponde a 8,4 milhões de pessoas.
Ao discursar, Lula reafirmou que a meta da gestão dele é tirar o Brasil do Mapa da Fome até 2026. O país voltou a figurar neste ranking em 2022.
“Ainda temos mais de 8 milhões de brasileiras e brasileiros nessa situação. Este é o compromisso mais urgente do meu governo: acabar com a fome no Brasil, como fizemos em 2014”, declarou.
Ele disse ainda que os dados divulgados pela ONU nesta quarta-feira sobre a insegurança alimentar no mundo são “estarrecedores”.
Em um discurso de pouco mais de 20 minutos de duração, o presidente brasileiro criticou de forma geral a concentração de renda dos super-ricos e as desigualdades econômicas e sociais entre nações mais desenvolvidas frente ao Sul Global.
“Subsídios agrícolas em países ricos solapam a agricultura familiar no Sul Global. O protecionismo discrimina contra os produtos de países em desenvolvimento”, criticou.
“A discriminação étnica, racial e geográfica também amplifica a fome e a pobreza entre populações afrodescendentes, indígenas e comunidades tradicionais”, discursou.
Para uma plateia formada por representantes de vários países, Lula listou uma série de programas sociais e políticas públicas lançadas pelo governo federal durante gestões petistas, como exemplos que podem ser seguidos por outras nações para erradicação da pobreza, fortalecimento da agricultura familiar e combate à insegurança alimentar.
“Aproveitaremos essas experiências e o conhecimento acumulado e ampliar o alcance dos nossos esforços. Nenhum programa vai ser mecanicamente transposto de um lugar a outro. Vamos sistematizar e oferecer um conjunto de projetos que possam ser adaptados às realidades específicas de cada região”, explicou o presidente brasileiro.