INVESTIGAÇÃO

Exército nega que militares presos pela PF atuassem na segurança de autoridades no G20

Quatro militares das Forças Especiais foram presos nesta terça-feira (19) por participação em um suposto plano para matar o presidente Lula

Por O TEMPO Brasília
Atualizado em 19 de novembro de 2024 | 19:06

BRASÍLIA — O Exército Brasileiro negou que os quatro militares detidos pela Polícia Federal nesta terça-feira (19) atuassem na segurança de autoridades durante a Cúpula de Líderes que ocorre no Rio de Janeiro. O general de brigada Mario Fernandes e o tenente-coronel Helio Ferreira Lima acabaram detidos na cidade, mas estavam ao Rio de Janeiro para participar de formaturas da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. 

Investigações indicam que o quarteto elaborou um plano de atentado contra o Estado e um planejamento para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à época recém-eleito, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O grupo integrava as Forças Especiais com treinamentos para operações sigilosas e com alto desempenho. A operação desta terça-feira prendeu ainda um agente da própria Polícia Federal. 

Quatro integrantes do grupo conhecido como "Kids Pretos" foram presos preventivamente na operação desta terça-feira. São eles:

  • Mario Fernandes

General reformado, foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) e ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro. Após deixar o governo, assumiu, entre 2023 e o início de 2024, um cargo na liderança do PL na Câmara dos Deputados, lotado como assessor de Pazuello, com um salário de R$ 15,6 mil. 

Foi desligado da função em 4 de março deste ano, após o ministro Alexandre de Moraes determinar seu afastamento das funções públicas. Quando foi chamado a depor pela PF em 22 de fevereiro de 2024, Mário Fernandes, contudo, optou por ficar em silêncio, alegando não ter tido o ao inteiro teor dos conteúdos da investigação e, em especial, à delação do tenente-coronel Mauro Cid.

  • Helio Ferreira Lima

Ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus, foi destituído de sua posição em fevereiro de 2024, durante investigações sobre planos antidemocráticos. Quando convocado a depor à PF sobre sua suposta ligação com o golpe de Estado, optou por permanecer em silêncio. Com formação em Operações Especiais, integra o grupo de elite do Exército conhecido como "kids pretos".

  • Rafael Martins de Oliveira

Major das Forças Especiais, é acusado de negociar com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o financiamento de R$ 100 mil para levar manifestantes a Brasília, como parte de um suposto plano de golpe de Estado. Em mensagens de novembro de 2022, ele discutiu custos de logística com Cid, incluindo hospedagem e alimentação para grupos vindos do Rio de Janeiro.
Rafael foi preso pela PF em fevereiro de 2024 durante investigações sobre sua participação na organização de movimentos antidemocráticos. Ele havia sido solto e usava tornozeleira eletrônica.

  • Rodrigo Bezerra de Azevedo

Considerado um militar altamente qualificado, é doutorando em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e tem especialização em operações de guerra não convencional. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 2003, serviu como instrutor no Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, nos EUA.

O militar participou de missões no exterior, como na Costa do Marfim. Comandou a Companhia de Comando do Comando Militar da Amazônia e tem expertise acadêmica em terrorismo e relações internacionais. Ele também integra o grupo "kids pretos".

O quinto alvo da operação é o policial federal Wladimir Matos Soares. A reportagem de O TEMPO Brasília tenta contato com as defesas dos presos, assim como o Exército e a Polícia Federal. O espaço segue aberto para manifestações. 

Operação Contragolpe

Os cinco mandados de prisão preventiva foram cumpridos pela PF na operação Contragolpe para desarticular uma organização criminosa que planejou impedir a posse do presidente eleito em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de seu vice Geraldo Alckmin (PSB). 

O plano era ass os dois no dia 15 de dezembro de 2022, antes da posse presidencial. Equipes de investigação identificaram “a existência de um detalhado planejamento operacional, denominado ‘Punhal Verde e Amarelo’”, que seria executado na data. 

“As investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022”, informou a PF. 

O plano também previa a restrição do livre exercício do Poder Judiciário e a execução de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que vinha sendo monitorado continuamente. Esse ministro seria Alexandre de Moraes.  

“O planejamento elaborado pelos investigados detalhava os recursos humanos e bélicos necessários para o desencadeamento das ações, com uso de técnicas operacionais militares avançadas, além de posterior instituição de um ‘Gabinete Institucional de Gestão de Crise’, a ser integrado pelos próprios investigados para o gerenciamento de conflitos institucionais originados em decorrência das ações”, destacou a PF.