BRASÍLIA – O PT apresentou nesta sexta-feira (14) no Conselho de Ética da Câmara um pedido de cassação contra o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) pelo comentário em rede social de que imaginou um trisal entre a ministra das Secretaria de Relações Institucionais Gleisi Hoffmann (PT), o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

O pedido de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar é assinado pelo presidente nacional do PT, senador Humberto Costa, de Pernambuco. No documento enviado ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-SP), Costa diz que o comentário de Gayer “claramente não se vislumbra exercício de livre manifestação do pensamento, de postagens aleatórias simplesmente jocosas”. 

“As condutas aqui descritas se revestem de abomináveis agressões à honra de representantes dos Poderes do Estado Brasileiro, nas variadas instâncias representativas dos Poderes, além de uma vigorosa manifestação pejorativa e misógina para tentar desqualificar a identidade, a história política de luta e contribuição inquestionável de uma mulher valorosa e honrada como é a ministra Gleisi Hoffmann”, ressalta trecho da peça.

Gleisi, que também é deputada federal, namora Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara. “Esse deputado é um canalha, assassino. Pode olhar a história dele”, disse ele na quinta-feira (13), em referência a um acidente provocado pelo goiano em 2000, quando dirigia bêbado. Uma pessoa morreu na ocasião. O deputado chegou a ser denunciado, em 2015, pelo Ministério Público de Goiás. 

“Aqui nessa Casa [Câmara] a gente tem que ter o mínimo de respeito. [...] Nós estamos no mês das mulheres e tivemos uma agressão violenta, de baixo nível, de uma figura desqualificada, como essa que a gente viu. Esse é o tipo de coisa que não dá para aceitar. É com esse tipo de gente que a gente está disputando, infelizmente. É com o esgoto”, completou o líder do PT. 

Já Alcolumbre é presidente do Senado. Também na quinta-feira, ele anunciou que pedirá medidas contra Gayer no Conselho de Ética da Câmara e uma responsabilização criminal. O mesmo será feito pelo PT, em denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR). 

Gayer insinuou que Gleisi foi oferecida como garota de programa

A publicação de Gayer foi feita na quarta-feira (12) em sua conta no X. Ele se dirigiu diretamente a Lindbergh, que namora Gleisi desde 2020, e perguntou: “Vai mesmo aceitar o seu chefe oferecer sua esposa para o Hugo Motta e Alcolumbre como um cafetão oferece uma GP?? Sua esposa sendo humilhada pelo seu chefe e vc vai ficar calado??”. GP é a sigla para “garota de programa”. 

O questionamento foi feito após fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apontada como machista. Em um evento no Palácio do Planalto, o petista disse que deseja se aproximar de Davi Alcolumbre e Hugo Motta. Para isso, nomeou uma “mulher bonita” para cuidar da articulação política do governo com o Congresso Nacional, em referência a Gleisi. 

“É muito importante trazer aqui o presidente da Câmara e o presidente do Senado, porque uma coisa que quero mudar é estabelecer relações com vocês. Por isso, coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, porque não quero mais ter distância entre vocês”, disse o presidente da República. 

A fala gerou repercussão negativa e, na quinta-feira, foi minimizada por Gleisi. Também no X, a ministra saiu em defesa de Lula, a quem citou como o presidente que “mais empoderou as mulheres".  

“Repudio os ataques canalhas de bolsonaristas, misóginos, machistas e de violência política. Desprezam as mulheres. Não me intimidam nem me acuam. Oportunistas tentando desmerecer o presidente Lula. Gestos são mais importantes que palavras”, completou Gleisi. 

Amplamente criticado, Gayer ironizou que saiu em defesa de Gleisi. “Deixa eu ver se eu entendi. Lula humilha e trata a Gleisi como um objeto. Ninguém do PT sai em defesa dela. Eu saio em defesa da Geisi condenando a fala do LULA. Todo o PT parte pra cima de mim me acusando de machismo. É isso mesmo?”, rebateu. 

Gayer coleciona polêmicas e ações na Justiça, inclusive por corrupção

Gustavo Gayer se notabilizou por uma série de declarações que, às vezes, extrapolam a polêmica e incidem em crimes. Ele responde a ações na Justiça por causa das falas em discursos e nas redes sociais. Também é investigado por corrupção.

A Polícia Federal acusa Gayer de desvio de dinheiro público com recursos da cota parlamentar. Ele mantinha uma escola de inglês e uma loja de camisetas e órios em um espaço que deveria ser um escritório político, segundo a investigação. 

O aluguel do local, de R$ 6,5 mil mensais, era pago com dinheiro público, oriundo dos cofres da Câmara dos Deputados. Conforme a PF, Gayer pagava assessores para desempenharem funções alheias ao mandato parlamentar, prestando serviços para seus negócios privados.

O deputado já é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por difamação e injúria contra os senadores Vanderlan Cardoso (PSD-GO) e Jorge Kajuru (PSB-GO). Em fevereiro de 2023, após a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência do Senado, Gayer chamou os dois goianos de “vagabundos que viraram as costas para o povo em troca de comissão”. Kajuru também foi chamado de “doido varrido” e “caricatura”.

Ainda em, durante uma entrevista a um podcast, Gayer fez uma declaração vista como racista. Ele afirmou que regimes democráticos não prosperavam em países da África em razão da “capacidade cognitiva” dos habitantes do continente.

“Democracia não prospera na África porque, para você ter uma democracia, você precisa ter um mínimo de capacidade cognitiva de entender entre o bom e o ruim, o certo e o errado. Tentaram fazer democracia na África várias vezes. O que acontece? Um ditador toma tudo, toma conta de tudo, e o povo (aplaude). O Brasil está desse jeito, Lula chegou na Presidência e o povo burro (aplaude)”, disse o deputado.

A declaração motivou um pedido de cassação no Conselho de Ética da Câmara, mas ele não foi votado pelo colegiado. Mas, em novembro de 2024, a PGR denunciou Gayer ao STF por injúria e racismo. Se uma eventual pena for superior a quatro anos de prisão, os procuradores pedem a cassação do mandato de Gayer. O caso está sob relatoria da ministra Cármen Lúcia.

Um pouco antes, em maio de 2024, Gayer comparou nordestinos a galinhas que recebem migalhas do Estado brasileiro. A declaração ocorreu durante seminário sobre o Sistema Nacional de Educação (SNE). Ele disse que, certa vez, o ditador soviético Josef Stalin maltratou uma galinha, depenando-a, mas depois lhe deu migalhas de comidas. Após ser alimentada, segundo a anedota, a galinha ou a ficar mansa.

“Essa história representa o que a esquerda faz com o Brasil, e principalmente o que a esquerda faz como o Nordeste”, afirmou Gayer, chamando programas de assistência social de “migalhas para uma população depenada”. Sequer há a comprovação de autoria da suposta anedota narrada por Gayer.