BRASÍLIA – A disputa política em Alagoas foi um dos fatores que resultaram em uma reviravolta e, posteriormente, na falta de acordo sobre a votação da retomada da tributação de compras internacionais de até US$ 50. O tema havia sido aprovado na última semana na Câmara dos Deputados após um acordo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Foi justamente por uma "afronta" ao alagoano que o jogo virou no Senado. 

O relator do texto no Senado, Rodrigo Cunha (Podemos-AL), surpreendeu a todos na terça-feira (4) ao anunciar, pouco antes da votação, que iria retirar a cobrança de 20% de imposto federal sobre esse tipo de importação do projeto de lei que cria o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). Ele alegou que o item, conhecido no jargão político como jabuti, era um "corpo estranho" acoplado à proposta que trata de sustentabilidade para a indústria automotiva.

Por trás desse anúncio do relator estava uma articulação do atual prefeito de Maceió e pré-candidato à reeleição, João Henrique Caldas (PSB). Ele decidiu desfazer um acordo com Lira em Alagoas sem avisá-lo, escolhendo Rodrigo Cunha como seu vice na chapa para as eleições deste ano, descartando a indicação de Lira do nome de Davi Davino (PP).

A posição na chapa é estratégica. O atual prefeito deve renunciar ao cargo em 2026 para disputar as eleições gerais, permitindo que o vice se torne prefeito antes do previsto. O plano inicial de JHC era concorrer ao governo de Alagoas com o apoio de Lira. Mas, agora, já se especula que ele pode tentar uma vaga no Senado – justamente o posto que tem sido almejado pelo presidente da Câmara dos Deputados. 

Outro fator que influenciou o prefeito de Maceió a costurar esse acordo é que a mãe de JHC, Eudócia Caldas, é suplente de Rodrigo Cunha no Senado. Com o senador alagoano disputando como vice, ela assumiria a cadeira no Legislativo. Essa negociação irritou Arthur Lira, especialmente porque ele ainda enfrenta críticas nas redes sociais devido à impopularidade do projeto.

Diante do ime sobre a retomada da taxação, uma nova sessão plenária no Senado está marcada para esta quarta-feira (5). A base governista vai apresentar um destaque para que o item seja votado na Casa e aprovado, como deseja o Palácio do Planalto e lideranças no Congresso Nacional. Lira já avisou que se os senadores votarem apenas o Mover, a proposta será enterrada na Câmara