BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados aprovou, na noite de terça-feira (17), o texto-base de um dos projetos do pacote de corte de gastos financiado pelo governo. O placar foi de 318 votos a favor e 149 contrários. O texto é o que mexe com emendas, impõe travas para despesas de pessoal e incentivos tributários se houver déficit primário, além de usar fundos para pagar a dívida pública, entre outros pontos.
O texto-base é o principal da proposta, mas deputados ainda terão que analisar os destaques apresentados, que são sugestões de alteração ao texto. Essas pendências devem ser cumpridas na sessão desta quarta-feira (18) para que o projeto seja enviado ao Senado nesta semana. Veja abaixo o que foi aprovado pela Câmara.
Emendas
O projeto de lei complementar autoriza o governo a congelar o pagamento de emendas parlamentares para cumprir regras do arcabouço fiscal. Isso significa que, quando a liberação desses recursos ultraar o limite fiscal, haverá ou contingenciamento ou bloqueio. O congelamento poderá atingir 15% do valor das emendas previsto no Orçamento.
Um dos destaques pendentes busca derrubar essa trava. Ou seja, tem o objetivo de tirar o controle do governo (previsto no texto) de bloquear recursos de emendas parlamentares para cumprir a regra fiscal.
Gasto de pessoal
A proposta impõe, até 2030, uma trava para o crescimento de despesas de pessoal. Entram na lista, por exemplo, salários e encargos de servidores e pensionistas. O texto define que esses gastos não poderão ter crescimento anual real maior que 0,6% em relação ao montante do ano anterior, se houver déficit. A exceção será para decisões da Justiça que não extrapolarem essa regra.
Incentivos tributários
Proíbe a União de conceder, ampliar ou prorrogar incentivos tributários, como desoneração, quando houver déficit primário (ou seja, quando as despesas superarem a verba que entra no cofre público) ou as contas ficarem no zero a zero. A restrição será feita até que seja registrado superávit primário (receitas maiores do que as despesas). A regra valerá a partir de 2025.
Abatimento da dívida
Fundos que financiam programas e instituições poderão ser usados para abater a dívida pública entre 2025 e 2030. Mas somente a parcela de saldo positivo, o superávit. No ano ado, esse superávit representou R$ 45 bilhões. Poderão ser usados os seguintes fundos:
- Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD)
- Fundo Nacional Antidrogas (Funad)
- Fundo da Marinha Mercante (FMM)
- Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC)
- Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (FUNSET)
- Fundo do Exército
- Fundo Aeronáutico
- Fundo Naval
SPVAT
O relator, deputado Átila Lira (PP-PI), chegou a incluir no texto um artigo que acabava com o Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT), que substituiu o extinto DPVAT.
Considerado um “jabuti” (termo usado para assuntos que tratam sobre um assunto diferente do original), o trecho foi retirado do texto antes da votação. Mas um destaque articulado pela oposição deve ser votado nesta quarta-feira para reincluir a revogação do SPVAT.
Pacote de corte de gastos
Outros projetos do pacote de corte de gastos devem ser votados nesta quarta-feira. Um projeto de lei limita o crescimento do salário mínimo para ajustar às regras do arcabouço fiscal. Dessa forma, o mínimo continuaria a ter um ganho acima da inflação, mas limitado a um intervalo entre 0,6% e 2,5%.
Atualmente, o salário mínimo aumenta a partir do cálculo da inflação do ano anterior e um crescimento real igual ao Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. Dessa forma, o ganho real em 2025 será de 2,9%.
A outra pendência do pacote na pauta desta quarta-feira é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe o o ao abono salarial. O texto prevê a restrição gradual do o ao benefício pago aos trabalhadores com carteira assinada e servidores públicos. Se houver a mudança, o abono deve ficar assim:
- Como é hoje: até um salário mínimo a mais (R$ 1.412) pago a trabalhadores que recebem até dois salários mínimos
- O que muda: fixa a renda para ar o benefício em R$ 2.640 e corrigido pela inflação até chegar a 1,5 salário mínimo em 2035.
O texto também define em R$ 44 mil o teto do funcionalismo público, veda deduções não previstas em lei para comprovação de renda para o ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e permite ao poder Executivo limitar subsídios e benefícios financeiros durante a execução do Orçamento.
Se aprovadas pela Câmara e pelo Senado antes do recesso legislativo, que começa na próxima segunda-feira (23), as propostas devem representar uma economia de R$ 327 bilhões até 2030.