O advogado Lee Jae-myung, 61, ex-operário de fábrica, foi eleito presidente da Coreia do Sul na votação desta terça (3). Com mais de 94% dos votos já contabilizados, Lee, candidato do oposicionista Partido Democrático, recebeu 48,85% dos votos, enquanto Kim Moon-soo, do governista Partido do Poder do Povo, aparecia com 41,99%, uma tendência irreversível.

Perto da meia-noite no horário local (meio-dia de Brasília), já com três redes de TV projetando sua vitória, Lee surgiu diante de sua residência e afirmou: "Se este resultado for confirmado, gostaria de expressar meu respeito pela grande decisão do público. Farei o meu melhor para cumprir a grande responsabilidade e missão e não decepcionarei as expectativas do público. Obrigado".

Lee disse ainda que vai buscar diálogo e paz com a Coreia do Norte, ditadura comunista comandada por Kim Jong-un - os dois países nunca am um acordo formal de paz, e o status quo é regido por um acordo de armistício que data de 1953. O novo presidente deve ainda buscar reaproximação com a China.

Segundo a Comissão Nacional Eleitoral, a participação nas urnas foi de 79,4%, 2,3 pontos acima da eleição de 2022 e a maior em 28 anos.

Se confirmado o cenário, o pleito põe fim a meio ano de crise institucional, iniciada na tentativa de autogolpe do ex-presidente Yoon Suk-yeol, que decretou lei marcial e suspendeu a Assembleia Nacional em 3 de dezembro ado.

Em resistência liderada por Lee Jae-myung, que está no segundo mandato de parlamentar, o Legislativo derrubou o decreto horas depois e, ados dez dias, votou pelo impeachment de Yoon.

O resultado da eleição culmina esse processo, segundo correligionários de Lee. "O povo proferiu um julgamento estrondoso contra o regime insurrecionista", declarou o líder em exercício do Partido Democrático, Park Chan-dae, na rede KBS.
Yoon e sua mulher, cuja investigação por corrupção foi um dos motores dos protestos por impeachment há seis meses, se mantiveram no foco durante a campanha eleitoral e voltaram a chamar a atenção nesta terça, ao votarem juntos.

O ex-presidente chegou a anunciar sua saída do PPP, há pouco mais de uma semana, no que foi visto por analistas como uma tentativa de elevar as chances de Kim Moon-soo, que foi ministro de seu governo.

Entre 7h e 9h locais de quarta (noite desta terça em Brasília), a comissão eleitoral deve se reunir para proclamar o vitorioso —e começa o mandato de cinco anos do novo presidente, inclusive sua "autoridade de comando militar".

Lee deve visitar em seguida o Cemitério Nacional, como é tradição no país, e participar por volta do meio-dia de uma breve cerimônia na Assembleia Nacional. Fará, então, o seu discurso de posse.

Sobre relações internacionais, deve repetir o que falou na campanha, inclusive em entrevista coletiva na véspera do pleito: que será pragmático nas relações com a China, maior parceiro comercial, mas também que a aliança com os Estados Unidos, maior aliado militar, é a base da política externa sul-coreana e será aprofundada.

Ele deve adiantar também como vai encaminhar a negociação com o governo Donald Trump, que impôs tarifas sobre os produtos do país, suspensas temporariamente até o dia 8 de julho. A expectativa é que, como indicou na campanha, ele aguarde outras negociações, de países como o Japão.

O impacto das tarifas americanas levou a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a reduzir a projeção de crescimento da Coreia do Sul neste ano para 1%, como divulgado na própria terça, em comparação com uma projeção de 2,1% em dezembro. As exportações do país caíram 1,3% em maio, em comparação ao mesmo mês de 2024.

Antes mesmo de Trump, a economia vinha mal e pesou na eleição, segundo Park Chan-dae, do Partido Democrático. "O apoio a Lee reflete o desejo público de se recuperar da economia descontrolada e do colapso dos meios de subsistência, que pioraram nos três anos sob o governo de Yoon", disse ele.