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PF: Zambelli foi a quartel e cobrou de ex-comandante da FAB adesão a 'golpe'
Em depoimento à PF, o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior contou que a deputada Carla Zambelli o procurou, quando era comandante da Aeronáutica, e cobrou adesão a um suposto golpe de Estado

O brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior contou, em depoimento à Polícia Federal, que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) o procurou, quando era comandante da Aeronáutica, e cobrou adesão a um suposto golpe de Estado que visava impedir a posse Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência da República, com anulação da eleições de 2022, prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e manutenção de Jair Bolsonaro (PL) no poder.
No depoimento prestado em 1º de março, ao qual à equipe de O TEMPO em Brasília teve o, Baptista Junior contou que Zambelli o abordou após a formatura de aspirantes à oficial da Força Aérea Brasília (FAB) em 8 de dezembro de 2022, na cidade de Pirassununga (SP). “Brigadeiro, o senhor não pode deixar o presidente Bolsonaro na mão”, disse Zambelli, segundo Baptista Junior.
O então comandante da Aeronáutica disse ter repreendido a deputada imediatamente, deixando claro que não cometeria qualquer ilegalidade. “Deputada, entendi o que a senhora está falando e não ito que a senhora proponha qualquer ilegalidade”, teria dito Baptista Junior, conforme seu depoimento à PF. Mas a parlamentar bolsonarista não parou por aí, ainda segundo o oficial da FAB.
Baptista Junior relatou aos investigadores que contou ao então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, a abordagem de Zambelli. E Nogueira contou ter sido procurado por Zambelli “de forma semelhante”. Mas, diferentemente do ex-comandante da Aeronáutica, o ex-ministro da Defesa é tratado na investigação como alguém simpático aos planos de golpe de Estado de Bolsonaro.
Também em depoimento à PF em 1º de março, o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, narrou encontros no Palácio da Alvorada, convocados por Bolsonaro, em que o então presidente apresentou opções de medidas para impedir a posse de Lula, que envolviam prisões de ministros do STF e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Um dos encontros relatados pelo ex-comandante do Exército aconteceu em 7 de dezembro de 2022, quando ele esteve no Palácio do Alvorada a convite de Paulo Sérgio Nogueira. Nessa mesma reunião, o então assessor especial da Presidência Filipe Martins, leu trechos de uma “minuta golpista” que se valia de expressões de uso comum por Bolsonaro, como “jogar dentro das quatro linhas”. Bolsonaro disse que “o documento estava em estudo e depois reportaria a evolução aos comandantes”.
Em outro encontro relatado por Freire Gomes e ocorrido em 14 de dezembro, Paulo Nogueira apresentou uma nova versão do decreto que viabilizaria um golpe, segundo o ex-comandante do Exército. Nela, também constavam a decretação de Estado de Defesa e a criação de uma Comissão de Regularidade Eleitoral para “apurar a conformidade e legalidade” do pleito de 2022.
Comandante do Exército cogitou prender Bolsonaro, segundo chefe da FAB
Baptista Júnior confirmou as informações de Freire Gomes e relatou aos investigadores que o ex-comandante do Exército chegou a comunicar que prenderia Bolsonaro caso ele tentasse colocar em prática um golpe de Estado. Por outro lado, o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, colocou as tropas à disposição ao discutir as minutas apresentadas por Bolsonaro, segundo Baptista Júnior.
“Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns instituto previsto na Constituição (GLO ou Estado de Defesa ou Estado de Sítio), o então comandante do Exército, General Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o Presidente da República”, disse o ex-comandante da Aeronáutica, conforme o registro da PF.
E foi a não adesão do Exército que impediu a deflagração do plano golpista, segundo o ex-chefe da FAB. “Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta de decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante respondeu: que sim, que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente, a tentativa de golpe de Estado teria se consumado”, diz trecho do depoimento de Baptista Júnior à PF.
Pressão para apresentar irregularidades em urnas, mesmo sem provas
Baptista Júnior relatou ainda que sofreu pressões de Bolsonaro por causa da falta de provas sobre irregularidades nas urnas eletrônicas, que o ex-presidente, auxiliares e apoiadores sempre disseram existir para justificar derrotas em eleições, sem nunca apresentar qualquer evidência.
Para dar mais transparência às eleições de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) incluiu as Forças Armadas na lista de entidades que fiscalizaram o sistema eletrônico de votação. Ao final do processo eleitoral, os militares elaboraram um relatório que não identificou fraude.
Sob comando de Baptista Júnior, a Aeronáutica integrava a Comissão das Forças Armadas que acompanhava as eleições. Disse que o grupo recebeu da cúpula do governo Bolsonaro várias teses de fraudes no sistema eletrônico de votação. No entanto, todas foram rechaçadas pela comissão.
Baptista Júnior contou ainda que, mais de uma, indagou o representante da Aeronáutica na comissão fiscalizadora do TSE sobre possíveis falhas e que nunca recebeu qualquer informação sobre irregularidades no sistema eletrônico de votação.
O ex-comandante disse que relatou a Bolsonaro, mais de uma vez, que as suspeitas sobre a integridade das urnas eletrônicas não avam de “sofismas”. Bolsonaro, segundo Baptista Júnior, sempre soube que a comissão fiscalizadora nunca encontrou qualquer irregularidade nas urnas e no TSE.
“A respeito da fiscalização das eleições 2022 respondeu que sim; que o então presidente da República tinha ciência de que a Comissão de Fiscalização não identificou qualquer fraude nas eleições de 2022, tanto no primeiro, quanto no segundo turno”, diz trecho do depoimento de Baptista Júnior.
O ex-comandante da FAB contou ainda que houve uma ordem para não divulgar o relatório que não apontava irregularidade no sistema eleitoral. Ainda em outubro de 2022, o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou que o Ministério da Defesa apresentasse os documentos referentes à auditoria das urnas realizadas pelos militares. Após a divulgação do documento, o ministério publicou uma nota dizendo que o relatório não excluía “a possibilidade de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas”.
Também à PF, o ex-comandante da Aeronáutica relatou que Bolsonaro “ficava assustado” ao ouvir que não aceitaria a adoção de qualquer medida de exceção para mantê-lo na presidência após a posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023.
Ex-comandante da FAB diz que ele e familiares sofreram perseguição
Justamente por não apontar falhas nas urnas e se recusar a aderir aos supostos planos de Bolsonaro e outros generais para impedir a posse de Lula, Baptista Júnior e familiares aram a sofrer perseguição, com xingamentos e ameaças nas redes sociais, inclusive de colegas das Forças Armadas, de acordo com o ex-comandante.
Os xingamentos incluíam as expressões “melancia” (verde por fora, como o uniforme do Exército, e vermelho — comunista — por dentro) e “traidor da pátria”. Mensagens de aplicativos interceptadas pela PF com autorização judicial mostram o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro à reeleição, disparando ofensas contra Baptista Júnior em grupos de oficiais do Exército.
As defesas de todos os citados por Freire Gomes e Baptista Júnior não se manifestaram sobre os depoimentos dos ex-comandantes até a mais recente publicação desta reportagem.