DEPOIMENTO

Tarcísio diz que Bolsonaro ficou ‘triste e resignado’ após derrota, mas ‘nunca’ tratou de ‘golpe’

O governador de São Paulo depôs ao STF nesta sexta-feira (30) como testemunha de Bolsonaro na ação penal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado

Por Lucyenne Landim
Atualizado em 30 de maio de 2025 | 12:01

BRASÍLIA - O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estava “triste e resignado” após perder as eleições, em 2022, para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar disso, “nunca” falou com ele sobre qualquer suposta intenção de golpe de Estado ou ruptura institucional.

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), Tarcísio contou que esteve com Bolsonaro algumas vezes depois do resultado das eleições e antes do fim do governo. O primeiro encontro entre os dois foi em 15 no novembro no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente em Brasília, onde Bolsonaro se recolheu.

“Jamais. Nunca”, respondeu sobre o assunto “golpe” em conversas quando foi ministro da Infraestrutura, entre janeiro de 2019 e março de 2022, e na reta final do governo Bolsonaro.  

"Nas visitas que fiz, nas conversas que eu tive, ele jamais tocou nesse assunto, jamais mencionou qualquer tentativa de ruptura. O presidente estava triste, resignado. Na primeira visita eu vi a situação de saúde, o presidente estava com erisipela. Nós conversávamos sobre muita coisa e esse assunto [golpe] nunca veio à pauta”, declarou.

Os comentários nos encontrados, segundo o governador, era de lamentação pela derrota e de “preocue de que a coisa desandasse”, em referência às políticas do então governo. 

Tarcísio contou que buscava Bolsonaro para prestar apoio e pedir orientação do ex-presidente para montar seu secretariado em São Paulo quando ganhou as eleições. Também afirmou que não tem informações que liguem Bolsonaro aos atos de 8 de janeiro de 2023. “O presidente sequer estava no Brasil”, disse. 

Ciro relata Bolsonaro 'deprimido'

Tarcísio depôs ao STF como testemunha de Bolsonaro na ação penal que apura a suposta tentativa de golpe de Estado. Na manhã desta sexta-feira (30), também foi ouvido o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro da Casa Civil no governo anterior.  

"Logo depois [das eleições], o presidente [Bolsonaro] ficou um período um pouco deporimido e teve um problema de saúde na perna. Ele teve que se recolher a um período no Palácio da Alvorada", disse, reforçando que “em hipótese alguma” houve manifestação do ex-presidente sobre ruptura institucional.  Ciro detalhou que a ordem de Bolsonaro para que ele coordenasse a transição de governo, feita com “normalidade”.

“O presidente em nenhum momento quis obstacularizar [sic] qualquer tipo de situação”, declarou, negando, também, ligação entre Bolsonaro e os atos de 8 de janeiro. 

O senador também falou como testemunha dos ex-ministros Paulo Sergio Nogueira (Defesa) e Anderson Torres (Justiça). Sobre este último, considerou um ministro “fiel” às atribuições do cargo que ocupava e também o isentou de ligação com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes e de qualquer questionamento sobre lisura do processo eleitoral. 

Testemunha cita plano para desmobilizar acampamento no QG

Outra testemunha de Torres, a secretária de Desenvolvimento Social do Governo do Distrito Federal, Ana Paula Marra, relatou que se sentiu “convocada” para uma reunião com Torres na manhã do dia 6 de janeiro de 2023, quando o ex-ministro já era secretário de Segurança Pública do DF. Ela contou que o ministro determinou um protocolo para desmobilizar o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, de onde saíram os manifestantes do 8 de janeiro. 

Marra contou que, na reunião, ficou acertado que ela colocaria uma equipe da secretaria de comanda no acampamento no dia 10 de janeiro para filtrar presentes em vulnerabilidade social, como pessoas em situação de rua que frequentavam o local, e prestar auxílio para que, quem fosse de fora do DF, retornasse aos seus Estados. A secretária disse não saber de ligação de Torres com o 8 de janeiro.

“O que eu percebi é que de fato eles estavam com intenção firme e clara de desmobilizar o acampamento. Eu soube naquele momento que ele [Torres] iria viajar e desejei boas férias. Foi isso. A gente não tem relação muito próxima”, afirmou. Torres viajou aos Estados Unidos na noite de 6 de janeiro e estava fora do Brasil no dia dos ataques.  Em outro depoimento, o deputado distrital Hermeto (MDB) justificou que não pediu o indiciamento de Torres na Comissão Parlamentar de Inquérito (I) dos Atos Antidemocráticos por não visualizar responsabilidade do então secretário. A I funcionou na Câmara Legislativa do DF.

Dispensa de testemunhas

Relator da ação penal, o ministro do STF Alexandre de Moraes acatou pedido das defesas de Torres e Bolsonaro e dispensou testemunhas. Prestariam depoimento nesta sexta-feira e na segunda-feira (2), mas foram liberadas as seguintes testemunhas de Torres: o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, o depitado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS) e do juiz federal Sandro Vieira, além de Marcos Montes e Saulo Bastos.

A defesa de Bolsonaro pediu, na noite de quinta-feira (29), a dispensa de testemunhas que seriam ouvidas na segunda-feira. Entre elas, o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ, ex-ministro da Saúde), o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, o advogado Amauri Feres Saad e o médico Ricardo Peixoto Camarinha.