INVESTIGAÇÃO

Grupo de matadores de aluguel cobrava R$ 250 mil para espionar ministros do STF

Organização criminosa é formada por militares da ativa e da reserva, além de civis frequentadores de clubes de tiros

Por Renato Alves
Publicado em 28 de maio de 2025 | 11:49

BRASÍLIA – O grupo de espionagem e extermínio descoberto pela Polícia Federal (PF) em investigação sobre o assassinato do advogado Roberto Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”, era formado por militares da ativa e da reserva, além de civis frequentadores de clubes de tiros.

O grupo criminoso se autodenominava Comando C4 (Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos), ainda segundo investigação da PF. Ele cobrava até R$ 250 mil para monitorar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A organização criminosa também mantinha arsenal de guerra para suas “operações”. Entre eles, fuzis de sniper com silenciador; pistolas com silenciador; lança-rojão tipo AT 34 de ombro; minas magnética e explosivos com detonação remota.

Parte dessas armas foi apreendida nesta quarta-feira (28) em um endereço em Minas Gerais. Gilberto Louzada da Silva, que é instrutor de tiro, foi alvo de operação da PF nesta quarta. Ele é de Nova Lima, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 

A lista de armas está em documentos apreendidos pela PF, que incluem tabela de preços para espionar autoridades e “pessoas comuns”. A espionagem de deputados federais custava R$ 100 mil. A de senadores, R$ 150 mil.

A PF encontrou papéis escritos à mão com referências a autoridades brasileiras, incluindo congressistas e ministros do Supremo. Ainda não está claro se havia algum crime encomendado contra essas autoridades.

Rodrigo Pacheco estava na mira de grupo de extermínio

O nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) estava na lista de alvos do grupo de espionagem e extermínio descoberto pela PF. Ele presidiu o Senado por quatro anos, até fevereiro de 2025, quando foi alvo de manifestações que pediam intervenção militar e fechamento do Congresso.

“Externo meu repúdio em razão da gravidade que representa à democracia a intimidação a autoridades no Brasil, com a descoberta de um grupo criminoso, conforme investigação da Polícia Federal, que espiona, ameaça e constrange, como se o país fosse uma terra sem leis”, disse Pacheco em nota. 

Com base em relatório da PF, o ministro Cristiano Zanin, do STF autorizou a nova fase operação que investiga esquema de venda de sentenças em tribunais estaduais e no Superior Tribunal de Justiça (STJ)

Na 7ª fase da Operação Sisamnes, desencadeada nesta quarta-feira (28), agentes foram atrás dos possíveis mandantes do assassinato de Zampieri, executado com 10 tiros em frente ao escritório em Cuiabá (MT) em 2023.

Foi a partir da investigação do assassinato de Zampieri que policiais chegaram ao grupo acusado de negociar compra e venda de sentenças judiciais em diferentes tribunais.

Investigadores também descobriram que os possíveis assassinos do advogado faziam espionagem e atuavam como grupo de extermínio, com pistoleiros profissionais.

No caso de Zampieri, o fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo é apontado como mandante. Já o executor é Antônio Gomes da Silva, segundo a PF.

O instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa, o coronel reformado do Exército Etevaldo Caçadini de Vargas e Gilberto Louzada da Silva também foram indiciados por suspeita de envolvimento no crime.

Antônio Silva confessou a execução. Já o fazendeiro diz ser inocente. Hedilerson e Etevaldo também negam participação no assassinato.

Nesta quinta, policiais federais foram às ruas para cumprir cinco mandados de prisão preventiva contra os cinco, além de quatro mandados de monitoramento eletrônico e seis mandados de busca e apreensão no Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. 

Mensagens de advogado morto com 10 tiros sustentam apuração 
A investigação sobre a execução de Roberto Zampieri primeiro levou à investigação que resultou no afastamento de cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS) em outubro de 2024.

A operação que levou ao afastamento dos magistrados foi subsidiada por milhares de mensagens de texto e áudio recuperadas do celular de Zampieri.

O conteúdo do celular do advogado levantou suspeitas de vendas de decisões por gabinetes de quatro ministros do STJ. Este caso é investigado pela PF e está sob sigilo no STF, sob relatoria do ministro Cristiano Zanin. 

A investigação do assassinato é objeto de inquérito da Polícia Civil do Mato Grosso, que indica como uma das motivações processos de disputas de terras que tramitam no Tribunal de Justiça estadual. 

Os casos de supostas vendas de sentenças no MS e no MT também são investigados no STJ e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).