SIGILO DERRUBADO

Bolsonaro exigiu que Moraes fosse monitorado e temia encontro do ministro com Mourão, aponta delação

Declarações do ajudante de ordens no âmbito da colaboração premiada indicam que o então presidente Jair Bolsonaro determinou que aliado monitorasse Moraes

Por Lara Alves
Atualizado em 19 de fevereiro de 2025 | 17:06

BRASÍLIA — O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou o sigilo da colaboração premiada firmada pelo ajudante de ordens Mauro Cid com a Procuradoria-Geral da República (PGR) no âmbito da investigação sobre tentativa de golpe de Estado no Brasil.

A delação premiada aberta nesta quarta-feira (19) indica que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) determinou que Marcelo Câmara, seu assessor, monitorasse o paradeiro e os deslocamentos do ministro Alexandre de Moraes — relator do inquérito. Segundo Mauro Cid, Bolsonaro temia que o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, se encontrasse com o ministro em São Paulo.

“Indagado quem solicitou ao colaborador que fizesse o acompanhamento do ministro Alexandre de Moraes, respondeu que foi o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, quem pediu para verificar a posição e a localização do ministro”, indica o inquérito da Polícia Federal (PF) citado pela PGR na denúncia ao STF. 

Cid completa, ainda, que o pedido de Bolsonaro para Câmara não era atípico, mas corriqueiro. “Respondeu que quando o então presidente Jair Bolsonaro precisava fazer análise de alguma pessoa para nomeação, ou alguma outra demanda, o coronel Marcelo Câmara era o encarregado de realizar o levantamento”, acrescentou. O acompanhamento acontecia a partir de uma análise de dados.

Sobre o monitoramento de Alexandre de Moraes, Cid ite que Bolsonaro temia um encontro do ministro do STF com seu vice Hamilton Mourão. “Indagado sobre o motivo da determinação feita pelo então presidente Jair Bolsonaro para que fosse realizado o acompanhamento do ministro Alexandre de Moraes, respondeu que um dos motivos foi que o então presidente havia recebido uma informação de que o general Mourão estaria se encontrando com o ministro Alexandre de Moraes em São Paulo”, diz o inquérito.

Marcelo Câmara começou a rastrear a movimentação de Alexandre de Moraes em 15 de dezembro de 2022, e manteve o monitoramento até o final daquele ano. Na delação, Cid também indicou que nenhuma outra autoridade foi monitorada a pedido de Bolsonaro.

Defesa reage à denúncia após entrega do documento ao STF

Ainda na terça-feira (18) à noite, advogados de Jair Bolsonaro expressaram indignação com a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. O grupo nega a participação do então presidente da República em uma arquitetura golpista para mantê-lo no poder e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente democraticamente eleito em 2022.

“A despeito de quase dois anos de investigações, nenhum elemento que conectasse minimamente o presidente à narrativa construída na denúncia, foi encontrado”, argumentam os advogados. “Não há nenhuma mensagem do presidente da República que embase a acusação”, acrescentam.

A nota distribuída nos canais de Bolsonaro no Telegram, no WhatsApp e nas redes sociais encerra a manifestação afirmando que ele 'confia na Justiça' e 'acredita que a denúncia não prevalecerá por sua precariedade, incoerência e ausência de fatos verídicos'.