BRASÍLIA - Peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil de São Paulo (PCSP) confirmaram que o laudo médico apresentado por Pablo Marçal (PRTB) contra Guilherme Boulos (PSOL) é falso. O documento começou a ser analisado ainda na madrugada deste sábado (5), horas após o autodenominado ex-coach publicar a imagem em seus perfis nas redes sociais. 

O documento mostrava que Boulos teria feito uso de cocaína e sido encaminhado para uma emergência psiquiátrica ainda em 2021. A conclusão da PCSP aponta indícios de falsidade que já haviam sido levantados anteriormente pela defesa do candidato do Psol. Entre eles a do médico José Roberto de Souza no laudo. 

“É FALSA a imagem da em nome do médico ‘JOSÉ ROBERTO DE SOUZA’, lançada no receituário objeto de exame, descrito no capítulo ‘Peça de Exame’, posto que tal não apresenta as mesmas características gráficas dos exemplares observados nos documentos descritos no capítulo ‘Padrões de Confronto'”, diz o documento assinado pelos peritos Nicia Harumi Koga, Marina MIlanello do Amaral Pais e Raphael Parisotto.

Ainda neste sábado, uma ex-secretária e as filhas do médico, falecido em 2022, vieram a público afirmar que a é falsa. Outro ponto destacado no relatório da PCSP é o número do RG de Boulos, que está incorreto por possuir um dígito adicional, com dois dígitos verificadores em vez de somente um - padrão estabelecido para a Carteira de Identidade expedida pelo Governo do Estado de São Paulo.

Em uma live na sexta-feira (4), o candidato do Psol ainda apontou que o proprietário da clínica é amigo de Marçal - esse mesmo dono foi condenado no ano anterior pela Justiça Federal por falsificação de diploma de medicina e de uma ata de colação de grau. Ele ainda afirmou que, no dia em que supostamente teria sido internado na clínica ligada a Marçal, estava distribuindo cestas básicas em uma favela de São Paulo, e chegou a compartilhar uma foto do momento em suas redes sociais.

A publicação de Marçal desencadeou reações em diferentes esferas. A equipe de Boulos entrou com ações tanto na Justiça Eleitoral quanto na Criminal, nesta última pedindo a prisão de Marçal e do proprietário da clínica mencionada no suposto laudo médico. Já a Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito para investigar o caso.  O pedido de abertura do inquérito foi feito pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). 

O post foi removido pelo próprio Instagram ainda na noite de sexta-feira, mas o TRE-SP já havia determinado, na manhã deste sábado, que o ex-coach apagasse o conteúdo de outras plataformas - como Youtube e TikTok. Além disso, o juiz Rodrigo Capez mandou que o perfil do influenciador fosse retirado do ar por 48 horas. 

O juiz alega que a divulgação do laudo médico falso pode configurar quatro crimes tipificados no Código Eleitoral: divulgar fatos inverídicos, difamação eleitoral, falsificação de documentos e uso de documento falsificado. Essa não é a primeira vez que a Justiça Eleitoral derruba uma conta do Instagram de Marçal. 

Em agosto, o perfil foi retirado do ar em uma ação movida pela campanha de Tabata Amaral (PSB), que acusou o ex-coach de espalhar fake news por meio de "cortes" nas redes sociais. A equipe do candidato do PRTB recorreu da decisão, mas o TSE não acolheu os argumentos. Ainda na tarde deste sábado, ele criou o terceiro perfil no Instagram para driblar a decisão. 

A divulgação do suposto laudo por Pablo Marçal ocorreu após Guilherme Boulos, durante o debate na Rede Globo na última quinta-feira (3), apresentar um exame toxicológico comprovando que não havia vestígios de cocaína em seu organismo. Ao longo de toda a campanha, Marçal havia desafiado Boulos a realizar o teste e, sem apresentar provas, o acusou repetidamente de ser usuário de drogas.

Pablo Marçal justificou neste sábado (5) a publicação do laudo. "Eu recebi e publiquei. Não fui eu que dei o laudo. Eu só publiquei", disse à Folha de S. Paulo. "Eu, Pablo, na minha rede social foi postado. Eu não tenho nenhuma ligação com o laudo. Pode perguntar para o Tassio Renan, que é meu advogado, e checar", disse.