O governo de Jair Bolsonaro (PL) vai gastar cerca de R$ 3,3 milhões com o desfile de 7 de Setembro em Brasília. O evento é propagado pelo presidente, que é candidato à reeleição, e visto com preocupação por várias instituições, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Bolsonaristas se organizam para atos antidemocráticos, como os vistos em 2021 e que quase resultaram na invasão do STF, com apoiadores do presidente permanecendo quatro dias em frente ao Congresso Nacional, fechando as vias de o à Praça dos Três Poderes e ameaçando instituições e autoridades.
Ano ado, por causa da pandemia de Covid-19, não houve desfile nem outro evento oficial em Brasília. Mas, convocados por Bolsonaro, milhares de militantes se reuniram na Esplanada, com faixas de teor golpista, pedindo, entre outros, intervenção militar e até a volta do AI-5, o ato mais duro da ditadura militar.
O valor destinado aos festejos na Esplanada neste ano é mais de três vezes o gasto em 2019, o último antes das restrições impostas por causa da pandemia. Naquele ano, o governo destinou R$ 971 mil, sendo a última vez que a solenidade oficial ocorreu na capital.
As informações sobre os custos são do Ministério das Comunicações, que tem dedicado especial atenção às comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. Em função da data, o governo federal chegou a pedir ao governo de Portugal a transferência temporária do coração embalsamado de D. Pedro I, que foi recebido em Brasília com honras de chefe de Estado e está exposto no Palácio Itamaraty.
Bolsonaro pretendia fazer uma comemoração de 7 de Setembro ainda mais pomposa, com desfile militar na orla de Copacabana, no Rio deJaneiro, conhecido cenário de manifestações de apoiadores do presidente. Ele só recuou após ser convenciado por militares sobr transferir a parada de Brasília o Rio em tão pouco tempo e a Prefeitura do Rio mostrar a inviabilidade de evento como o desejado pelo presidente naquel local.
Bolsonaro não deve fazer discurso no palanque montado na Esplanada
No ano ado, quando não houve evento oficial, Bolsonaro chegou a discursar para apoiadores em cima de um trio elétrico, na Avenida Paulista, o coração financeiro da cidade de São Paulo. O presidente chegou a atacar ministros do STF, o que provocou uma crise institucional, nunca debelada por causa de constantes declarações do presidente contra integrantes do Supremo e do TSE e o sistema eleitoral brasileiro.
Os atos daquela data deram início a inquérito da Polícia Federal, que rendeu operações e até prisões de bolsonaristas, incluindo parlamentares, com condenações, como a do deputado federal Daniel Silveira, que acabou recebendo o perdão presidencial logo após a sentença. Empresários amigos do presidente são investigados por supostamente financiarem os atos de 2021 e, mais recentemente, apoiarem um golpe de Estado em 2022, caso Bolsonaro perca as eleições.
Agora, quando as comemorações voltam à Esplanada de forma oficial, Bolsonaro não deve fazer um discurso durante o desfile de 7 de Setembro. Ele manterá a tradição de chegar ao local do evento no Rolls Royce presidencial, doado há décadas pelo governo britânico. Depois dará autorização ao comandante Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, para que o desfile seja iniciado, o que também segue um protocolo. Quase 6 mil militares devem participar da parada, marcada para começar às 8h30.
Apenas presidentes de Guiné Bissau e Cabo Verde confirmaram presença
Todos os mandatários de países de língua portuguesa foram convidados para o desfile de 7 de Setembro em Brasília. Confirmaram presença no ato ao menos dois chefes de Estado: os presidentes de Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e de Cabo Verde, José Maria Neves. Ainda há a expectativa de presença do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.
Entre ex-presidentes da República, o único que deve comparecer é Fernando Collor de Mello (PTB). Ele, que é senador, está em campanha para o governo de Alagoas, com o apoio de Bolsonaro. Também foram convidados líderes religiosos, como o pastor Silas Malafaia, que confirmou participação.
Ocupantes de cargos de confiança estão em listas para ocupar assentos VIPs
As arquibancadas montadas à margem de uma das duas vias que levam à Praça dos Três Poderes terão capacidade para 20 mil pessoas. Haverá ainda espaço para outras 10 mil pessoas circularem ao longo de três quilômetros de pista por onde o desfile vai ar.
Haverá uma triagem para as arquibancadas. Servidores que ocupam cargos de confiança nos ministérios estão preenchendo uma lista eletrônica para ter o a vagas consideradas VIPs, por causa da proximidade das autoridades. Cada um pode indicar até dez nomes, que depois arão pelo crivo da Presidência da República.
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) é a responsável pelo controle dos os à Esplanada e pela segurança geral nas vias de o à área central de Brasília e em todo o perímetro do Congresso Nacional, STF e ministérios. O Palácio do Planalto e o Itamaraty são os únicos que estarão sob guarda das Forças Armadas num primeiro momento.
Caminhões estão proibidos na Esplanada dos Ministérios
A SSP-DF decidiu proibir a entrada de caminhões na Esplanada no 7 de Setembro. A restrição acontece após o temor de invasão a algum prédio público, em especial ao STF, que abriga ministros tidos como desafetos da militância bolsonarista.
A intenção é, ainda, evitar que o cenário de 2021 se repita, quando caminhões ficaram estacionados na Esplanada, em frente ao Congresso Nacional e em direção ao STF. No dia seguinte, em 8 de Setembro, manifestantes bolsonaristas tentaram furar o bloqueio policial para tentar uma aproximação do prédio da Suprema Corte.
“A corporação (Polícia Militar do Distrito Federal) estará de prontidão para atuar com policiamento ostensivo especializado, como o choque, montado e aéreo, em casos de distúrbios e tentativas de invasão a prédios públicos. A área de realização do desfile, ao longo da arquibancada e imediações, terá o policiamento reforçado com linhas de policiais”, informou a SSP-DF.
No ano ado, a Polícia Militar não impediu que os bolsonaristas fechassem as vias por quatro dias. O reforço que impediu a invasão ao STF só apareceu após ministros do STF cobrarem do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), aliado de Bolsonaro. Já os manifestantes decidiram sair da Esplanada e suspender o plano de ataque à Suprema Corte após um pedido do presidente da República.
O TEMPO agora está em Brasília. e a capa especial da capital federal para acompanhar as notícias dos Três Poderes.