GOVERNO LULA

De volta da Ásia, Lula tem que lidar com críticas ao crédito consignado e pressão por anistia

Governo busca melhorar índices de aprovação e precisa também aprovar medidas importantes no Congresso

Por Ana Paula Ramos
Publicado em 01 de abril de 2025 | 07:24

BRASÍLIA - Depois da viagem ao Japão e ao Vietnã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou nesta semana sua agenda interna e já enfrenta temas complicados com os quais terá que lidar, principalmente na busca pela melhora nos índices de aprovação do governo

Uma das apostas do governo para alavancar sua popularidade, por exemplo, o lançamento do crédito consignado para o trabalhador da iniciativa privada, acabou virando um problema para Lula, após postagem da ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, chamando o crédito de “empréstimo do Lula”.  

A petista apagou o vídeo, mas a postagem gerou desgaste nas redes sociais e pode ter consequências mais sérias. O partido Novo pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue essa personalização de um ato de governo. 

Além disso, influenciadores como Nath Finanças e Gil do Vigor, bastante populares nas redes, criticaram a medida do governo, por haver a preocupação com o endividamento dos trabalhadores e o comprometimento do FGTS. 

Preocupada com o impacto negativo dessas críticas, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República planeja uma campanha publicitária com dicas sobre esse tipo de empréstimo. 

Pressão pelo PL da Anistia 

Nos últimos dias, o ex-presidente Jair Bolsonaro aumentou a pressão pela aprovação da anistia no Congresso aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. A Primeira Turma o tornou réu junto com outros sete membros de seu governo acusados de integrar o núcleo central da suposta trama golpista em 2022. 

O ex-presidente convocou a militância, no próximo dia 6, para um ato na Avenida Paulista, com a presença de governadores e parlamentares. No Congresso, a oposição ameaça trancar a pauta de votações. 

Governistas acreditam que a chance de o projeto avançar é “pequena”, mas item que casos como o da cabelereira Débora Rodrigues podem gerar uma “comoção” na sociedade. Ela foi presa por pichar 'perdeu, mané' de batom na estátua “A Justiça”, durante os atos de 8 de janeiro de 2023, e pode ser condenada a 14 anos de prisão. Neste fim de semana, a cabelereira foi autorizada a cumprir prisão domiciliar. 

Até o momento, o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) não indicou que aceitará a pressão da oposição e colocará o tema da anistia em pauta.   

Isenção do Imposto de Renda 

A aprovação do projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil é considerada uma das prioridades do governo. Para compensar a perda de arrecadação com a ampliação da faixa de isenção, estimada pelo Ministério da Fazenda em R$ 27 bilhões em 2026, a proposta prevê taxar quem ganha mais de R$ 50 mil por mês, o equivalente a R$ 600 mil por ano. A alíquota será gradual até 10% para quem ganha R$ 1,2 milhão ou mais por ano. 

Promessa de campanha de Lula, em 2022, a proposta deve enfrentar resistências e mudanças no Congresso. A oposição já sinaliza que não quer entregar tão facilmente um triunfo desse para o governo, o que vai exigir uma negociação complexa do Parlamento com Gleisi Hoffmann e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Por isso, há a expectativa de que o presidente Lula tenha que entrar pessoalmente na articulação pela aprovação da medida.

'Tarifaço’ de Trump 

A entrada em vigor, nos próximos dias, de novas tarifas comerciais anunciadas pelo governo dos Estados Unidos vai testar a capacidade de negociação do governo brasileiro no campo internacional. 

O presidente Lula já afirmou que está disposto a dialogar com Donald Trump para buscar soluções diplomáticas. Durante entrevista no Vietnã, antes de retornar ao Brasil, Lula disse que não hesitará em entrar em contato com o presidente americano “na hora que sentir necessidade de conversar”. 

“O Brasil vai tentar negociar ao máximo, mas não teremos nenhuma preocupação em recorrer à OMC se não for resolvido. Também temos direito de impor reciprocidade aos Estados Unidos. É simples assim”, afirmou. Lula ainda itiu que pode telefonar diretamente para Trump.  

“Na hora que eu sentir necessidade de conversar com o presidente Trump, não terei nenhum problema em ligar para ele. Não é porque temos divergências ideológicas que não podemos conversar”, pontuou.   

A economia brasileira pode ser diretamente afetada com o “tarifaço” de Trump. O presidente norte-americano já anunciou que vai taxar em 25% todas as importações de aço e de alumínio. O Brasil é o segundo maior importador desses produtos aos Estados Unidos. Há também a expectativa de que outros setores sejam taxados, como o etanol.