Pressão

Delcídio delata Dilma e Lula por interferência na Lava Jato 

Ex-líder do governo diz que ex-presidente mandou pagar Cerveró e calar Marcos Valério no mensalão

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 04 de março de 2016 | 03:00

Fragilizada há meses pelas crises econômica e política, enfrentando um pedido de impeachment no Congresso e ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)que buscam sua cassação, a presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu nesta quinta seu maior golpe. As informações divulgadas pela revista “IstoÉ” acerca de uma suposta delação premiada assinada pelo ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral (PT) apontam que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) interferiram na Lava Jato e usaram uma série de expedientes para impedir investigações desde o escândalo do mensalão.

Delcídio não confirma a delação, mas também não nega categoricamente que a tenha feito (veja abaixo). Tanto o Planalto quanto o entorno do ex-presidente Lula colocam em descrédito as informações. Fato é, no entanto, que, verdadeiras ou não as denúncias, sua divulgação já foi suficiente para colocar o governo contra a parede e ampliar as pressões pelo impeachment.

A suposta delação surge em uma semana em que já apareceram informações de outro acordo feito pela Andrade Gutierrez, que teria itido ter feito caixa 2 para a campanha de Dilma em 2010, e os relatos de que o empreiteiro Léo Pinheiro, dono da OAS, havia resolvido contar tudo o que sabe sobre o escândalo na Petrobras e as reformas no triplex do Guarujá e no sítio em Atibaia, ambos ligados a Lula. Além disso, o marqueteiro das campanhas petistas João Santana está preso acusado de receber recursos ilegais no exterior.

A delação. De acordo com informações da “IstoÉ” e que também foram confirmadas por outros veículos, Delcídio teria feito a delação para deixar a prisão, o que ocorreu em 19 de fevereiro. No documento, teria revelado que o ex-presidente Lula mandou comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró com o pagamento de cinco parcelas de R$ 50 mil, que viriam do pecuarista José Carlos Bumlai.

O senador também diz que Dilma Rousseff usou sua influência para evitar a punição de empreiteiros ao nomear o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo a publicação, Dilma tentou três vezes interferir na Lava Jato com a ajuda do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. A primeira teria sido por meio do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que se negou a cumprir a missão de soltar os empreiteiros Marcelo Odebrecht e Otávio de Azevedo. Além disso, a presidente nomeou Navarro para o STJ para que ele ajudasse a soltar os investigados, após outro ministro ter se recusado a fazê-lo.

Delcídio, de acordo com a “IstoÉ”, cita outros senadores e deputados, tanto da base aliada quando da oposição. Ele também conta diversas situações em que Lula e o governo interferiram em Comissões Parlamentares de Inquérito (Is) para se livrarem de investigações. Em um dos casos, teria sido negociado o pagamento de R$ 220 milhões a Marcos Valério, operador do mensalão, para que ele não contasse o que sabia sobre aquele esquema. 

Polêmica

Proximidade. Autora da reportagem da “IstoÉ”, a jornalista Débora Bergamasco foi assessora do ministro José Eduardo Cardozo, um dos citados, e seria sua namorada, segundo rumores em Brasília.

Cláusula impediu homologação

De acordo com a “IstoÉ”, uma cláusula de sigilo por seis meses proposta pela defesa de Delcídio do Amaral fez com que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki se recusasse a homologar a delação. O objetivo do petista seria manter em segredo que teria feito um acordo enquanto ele tentava se salvar de um processo de cassação no Conselho de Ética do Senado.

A delação só terá validade para reduzir punições a Delcídio caso seja homologada, mas as informações podem ser usadas pelas autoridades para ampliarem as investigações mesmo que isso não ocorra.

Senador diz que não conhece documento

BRASÍLIA.
 Sem negar textualmente que aderiu a um acordo de delação premiada, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse, por meio de nota, que não reconhece a autenticidade de documentos divulgados pela revista “IstoÉ”. Os documentos são, segundo a reportagem, trechos da delação premiada de Amaral à Lava Jato.

FOTO: Jefferson Rudy / Agencia Senado – 24.11.2015
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Delcídio do Amaral foi solto no último dia 19, após suposta delação

“À partida, nem o senador Delcídio, nem sua defesa confirmam o conteúdo da reportagem da ‘IstoÉ’. Não conhecemos a origem, tão pouco (sic) reconhecemos a autenticidade dos documentos que vão acostados ao texto”, diz a nota divulgada nesta quinta pela assessoria do senador.

Ainda segundo a nota, a defesa de Delcídio diz que não foi procurada pela revista para que se manifestasse a respeito da “fidedignidade dos fatos relatados”, nem antes, nem depois da publicação.

Delcídio, no entanto, não nega categoricamente a existência do acordo. Ele também não pode afirmar que a delação foi feita, porque isso poderia cancelá-la, uma vez que ainda não foi homologada.

Após a manifestação de Delcídio, a revista reafirmou as informações publicadas na reportagem. Segundo a “IstoÉ”, o acordo foi firmado com os membros do Ministério Público Federal, já que trata-se de parlamentar, o que garante foro privilegiado.

Antes de o caso vir à tona, os advogados do senador realçavam que seu cliente não pretendia aderir a nenhum acordo de delação.