BRASÍLIA — A deputada Carla Zambelli (PL-SP) ainda não recebeu ligações ou mensagens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) a condenou à prisão nessa quarta-feira (14). Zambelli recebeu uma sentença de 10 anos de prisão por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de mandados de prisão falsos.
A deputada falou à imprensa sobre a condenação nesta quinta-feira (15) e disse que atravessa um momento de injustiça, mas de fé e esperança. Zambelli disse que os filhos de Bolsonaro, o deputado Eduardo (PL-SP) e o senador Flávio (PL-RJ), manifestaram solidariedade a ela. O gesto também foi replicado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, mas a sentença não gerou reações do patriarca.
Crítica à condenação e ao trâmite de seu processo no STF, Zambelli recorreu ao advogado Daniel Bialski para explicar que protocolará dois recursos contra a sentença. A ideia é tentar reverter a condenação colocando à prova elementos da investigação da Polícia Federal (PF). A equipe de defesa de Zambelli argumenta que as provas contra ela são frágeis e que o hacker Walter Delgatti Neto, que a implica na trama, é um mentiroso compulsivo. "Ele conta uma versão, volta atrás, conta uma terceira... Em alguns momentos ele conta até três versões diferentes. A polícia nomeia ele como mitômano", justifica a deputada.
Em paralelo, Zambelli também consulta médicos e coleta atestados para impedir que, se negados os recursos, ela seja obrigada a ir para a cadeia. "Hoje não me vejo capaz [de ir para a prisão]. Estou pegando relatórios dos meus médicos, e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria à cadeia", disse. A deputada informou que esses pareceres médicos serão juntados à ação "no momento oportuno".
Além dos recursos que serão apresentados à Justiça, Zambelli também diz ter outro trunfo: a Câmara dos Deputados. Ela contou que o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) deu "sinal verde" ao líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), para apresentar um pedido de suspensão da ação penal contra ela. "Estamos procurando o melhor momento político para apresentar", declarou a deputada.
Cadeia por ataque hacker
O STF condenou a deputada Carla Zambelli a 10 anos de prisão. A sentença foi dada pela Primeira Turma da Corte na quarta-feira à noite e também atinge o hacker Walter Delgatti Neto. Ele foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão.
Os quatro ministros concordaram com o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, pela condenação. Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux votaram pela sentença a 10 anos de prisão. O último voto nesse julgamento que ocorria em plenário virtual coube ao ministro Luiz Fux. Na última sexta-feira (9), a Corte já tinha maioria para condenar Zambelli e Delgatti.
Investigações concluíram que Delgatti foi o responsável pela invasão ao sistema interno do Conselho Nacional de Justiça em novembro de 2022. Em 4 de janeiro de 2023, o hacker inseriu documentos falsos no sistema. Entre eles um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes e assinado pelo próprio magistrado.
Preso, Delgatti confessou os crimes: a invasão aos sistemas, a inserção do mandado de prisão falso e uma falsa quebra de sigilo das contas do ministro. Ele dividiu a responsabilidade com Zambelli e afirmou que a deputada pagou R$ 40 mil a ele pelos serviços. Ainda segundo Delgatti, foi a deputada quem redigiu o mandado contra Moraes.
Em janeiro de 2025, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu que o STF condenasse os dois pelos crimes de invasão a dispositivo informático e falsidade ideológica. O primeiro delito tem pena prevista de até quatro anos de prisão; para o segundo, o Código Penal prevê até cinco anos de cadeia.