BRASÍLIA - A ministra Gleisi Hoffmann interveio diretamente nas articulações que antecederam a votação do pedido de cassação do mandato do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) no Conselho de Ética da Câmara nessa quarta-feira (9). Chefe da articulação política do Palácio do Planalto, ela recebeu a bancada do PSOL na última quinta-feira (3) — dia seguinte à leitura do voto do relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), com pedido de cassação.
Gleisi acumulou ligações para o próprio Magalhães e também para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na tentativa de chegar a uma conciliação. A proposta, segundo interlocutores, era que o relator revisasse o próprio voto e apresentasse uma sugestão de punição mais branda para Glauber Braga.
A intervenção da ministra das Relações Institucionais não deu certo, e Magalhães manteve o voto, aprovado em uma sessão tumultuada no Conselho de Ética.
Interferência de Lira pesou contra Glauber
Deputados do PSOL e de partidos aliados declaram abertamente que Arthur Lira (PP-AL) interviu pela cassação do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ) — como decidiu o Conselho de Ética da Câmara. Eles apontam articulações de Lira nos bastidores e criticam a conivência do presidente da Câmara, que até cancelou a reunião do colégio de líderes desta quinta-feira.
Depois da votação do relatório pela cassação de Glauber no Conselho de Ética, o deputado disse que fará uma greve de fome e permanecerá nas instalações da Câmara até que o processo seja concluído. Ele ainda pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e o processo obrigatoriamente a pelo plenário, onde são necessários os votos de pelo menos 257 deputados para cassar um mandato.
Lira intervém em cassação de Glauber, apontam aliados
Glauber é firme ao dizer que Lira quer cassá-lo pelas denúncias feitas sobre o Orçamento Secreto e a distribuição de emendas enquanto o alagoano presidia a Câmara dos Deputados. O mandato de Arthur Lira terminou em fevereiro, quando Hugo Motta assumiu graças a uma articulação capitaneada por seu antecessor.
O deputado do PSOL é alvo de um processo de cassação pelo episódio em que reagiu aos ataques de um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) e o expulsou da Câmara dos Deputados a chutes e pontapés. O episódio aconteceu em 16 de abril de 2024, e a representação contra Glauber chegou ao Conselho de Ética pelas mãos da bancada do Partido Novo. Ele diz que o caso é um pretexto para cassá-lo.
O relator do processo, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), apresentou no início deste mês um parecer favorável à cassação do mandato de Glauber. A posição do relator gerou estranhamento na bancada do PSOL. Interlocutores haviam dito a membros do partido que Magalhães sugeriria uma punição mais branda a Glauber Braga — prevendo uma suspensão por três meses. É dito nos bastidores que o relator optou por mudar a punição e sugerir a cassação pouco antes da data marcada para apresentação do parecer — por cobrança de Arthur Lira.
A realização da sessão nesta quarta-feira foi outro revés sofrido pelo PSOL, que articulava até terça-feira (8) à noite o adiamento da reunião. A líder do partido, Talíria Petrone (PSOL-RJ), contava com o apoio manifesto dos líderes de PSD, Antônio Brito (BA), e PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), para não dar quórum e evitar que a sessão acontecesse. A articulação não deu certo, e a sessão começou no início da tarde, sendo marcada por apelos de deputados do PSOL e aliados de PT e PSB. Os parlamentares disseram durante e depois da votação que "forças ocultas" interferiram na articulação que era costurada.