RELAÇÃO ENTRE PODERES

Lula liga para Motta e Alcolumbre antes de confirmar Gleisi Hoffmann na articulação política

Publicamente, presidentes do Congresso e da Câmara desejaram êxito à ministra da articulação política; nome de Gleisi é contestado no Legislativo

Por Lara Alves e Lucyenne Landim
Atualizado em 28 de fevereiro de 2025 | 16:51

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ligou para os presidentes do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), antes de informar publicamente que Gleisi Hoffmann (PT-PR) iria para a Secretaria de Relações Institucionais.

A troca de Alexandre Padilha, agora ministro da Saúde, por Gleisi para a articulação política — principal interlocução entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional — movimentou Brasília nesta sexta-feira (28) e suscitou reações entre nomes do Centrão e da oposição no Legislativo.

Minutos após o anúncio, Motta desejou, em publicação nas redes sociais, êxito à ministra Gleisi Hoffmann e indicou que mantém bom diálogo com ela. “Sempre tive boa relação com ela no Parlamento. Desejo pleno êxito na nova função e continuaremos o diálogo permanente a favor do Brasil”, escreveu.

Alcolumbre foi mais sucinto. Ele repetiu que Lula o procurou para indicar sua escolha por Gleisi Hoffmann, mas não se estendeu sobre uma eventual relação com a deputada do PT. “Desejo muito sucesso nessa importante missão de dialogar com o Parlamento. Em nome do Congresso Nacional, reafirmo nosso compromisso em trabalhar sempre em defesa do Brasil”, mandou em nota à imprensa.

Gleisi acumula desgastes com Centrão

A confirmação de Gleisi Hoffmann para a articulação política gerou surpresa na ala política que apostava na nomeação de um perfil do Centrão com bom trânsito no Congresso Nacional. O nome da presidente do PT é tido como controverso

Anunciada nesta sexta-feira (28), ela era cotada para substituir Márcio Macêdo na Secretaria-Geral da Presidência. Na SRI, desbancou nomes como Silvio Costa Filho, atual ministro de Portos e Aeroportos, e o líder do MDB na Câmara dos Deputados, Isnaldo Bulhões (AL), além de José Guimarães (CE) e Jaques Wagner (BA), líderes do governo na Câmara e no Senado, respectivamente. 

Além da relação que a função exige, Gleisi terá que lidar com deputados e senadores no apoio a pautas do Palácio do Planalto que nem sempre agradam aos congressistas. Esse é um trabalho amplamente político nos corredores da Câmara dos Deputados e do Senado. 

A surpresa de parlamentares — inclusive de nomes que cercam Lula — é acompanhada do questionamento de como a nova ministra será recebida nas negociações políticas. Atual deputada federal pelo PT do Paraná, é experiente em circular nos corredores do Congresso Nacional, mas tem a antipatia de alguns de seus colegas. 

“O governo, que já enfrenta uma crise de credibilidade, opta por colocar à frente do diálogo com o Congresso uma figura cuja trajetória política é marcada por conflitos, radicalização ideológica e dificuldades na construção de consensos”, afirmou o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS). 

Enquanto isso, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou que “sempre” teve “boa relação” com Gleisi no Parlamento. Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), desejou “muito sucesso nessa importante missão de dialogar com o Parlamento”. 

Não é de hoje que Gleisi não economiza em opiniões e costuma subir o tom em enfrentamentos nas redes sociais, com críticas bem direcionadas, especialmente ao Centrão. O grupo é o que se articulava para substituir Alexandre Padilha, que deixou a articulação política para comandar o Ministério da Saúde. 

A intenção era ter um nome que conversasse com todas as bancadas de forma amistosa, independente do assunto a ser tratado. O anseio se fazia mais presente depois de uma série de desgastes de Padilha – chamado, inclusive, de “incompetente” pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).  

Apesar do cenário com a entrada de Gleisi no governo, não era novidade nos bastidores de que Lula buscaria se cercar de quadros do PT com a aproximação das eleições do próximo ano. A esquerda ainda não tem um nome consolidado caso o presidente decida que não será candidato à reeleição.