Elogios a Eduardo Cunha geram constrangimento em jantar oferecido a Hugo Motta

BRASÍLIA - O jantar que reuniu lideranças políticas do Rio de Janeiro, de diferentes espectros ideológicos, para selar apoio à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara dos Deputados também teve um momento constrangedor com elogios públicos a um nome controverso da política brasileira: Eduardo Cunha.

Antes de se tornar o favorito ao comando da Câmara e conquistar apoio tanto do governo quanto da oposição, Motta foi aliado de primeira hora do ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha. Foi Cunha quem lhe garantiu o primeiro cargo de destaque: a presidência da I da Petrobras. E foi no comando desse colegiado que o nome dele foi vinculado a polêmicas. 

A comissão, criada para apurar indícios de corrupção na estatal, isentou políticos de responsabilidades. O relatório final, elaborado por Luiz Sérgio (PT-SP), supostamente blindou Eduardo Cunha, que chegou a ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, mas teve a sentença anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).  

Motta permaneceu fiel à tropa de choque de Cunha até a queda dele, com a cassação em setembro de 2016. O vínculo de amizade se estende também à hoje deputada federal Danielle Cunha, filha do cacique político. E, mesmo fora do poder, o ex-presidente da Câmara, ele é sempre visto pelos corredores, inclusive no gabinete do paraibano.  

A proximidade e a gratidão nunca foram escondidas no meio político, mas, no jantar de terça-feira (29), causaram constrangimento. Não faltaram elogios a Eduardo Cunha, que evitou aparecer em fotos, em um encontro em que a “estrela” deveria ser Motta. Para alguns presentes, o clima indicou que a gestão do deputado à frente da Câmara pode representar uma espécie de retorno de Cunha - nem que seja em uma atuação mais forte nos bastidores.  

No encontro no Rio de Janeiro, entre outros nomes, estavam presentes: o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Este último integra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem Castro costuma atuar em oposição. 

Também aparecem sorridentes em uma foto ao lado de Motta quadros do PT, como o futuro líder do partido na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), e a deputada Benedita da Silva (PT). O coordenador da bancada do Rio, deputado Doutor Luizinho (PP-RJ), foi outro presente na noite de terça-feira.  

A eleição do novo presidente da Câmara será no sábado (1º). A sessão está marcada para 16h. A expectativa é que Motta seja eleito com facilidade, pois reuniu o apoio de 18 partidos que somam 496 votos, entre os 513 deputados. Os outros candidatos são os deputados Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) e Marcel van Hattem (Novo-RS).