HÁ UMA SEMANA

De vice desconhecido para prefeito reeleito: a estratégia da campanha de Fuad Noman

Impulsionar a imagem de político trabalhador e confiar na rejeição de adversários foram algumas apostas de Fuad para conquistar a reeleição

Por Mariana Cavalcanti
Publicado em 03 de novembro de 2024 | 06:00

Há exatamente uma semana, a população da capital mineira ia às urnas para decidir se escolheria entre o candidato, de 77 anos que já ocupava a cadeira; ou o adversário, de 27, com atuação no Legislativo, mas ainda sem experiência em cargos executivos. No domingo (27 de outubro), Fuad Noman (PSD) foi reeleito prefeito de Belo Horizonte com 53,73% dos votos. Na semana seguinte à vitória, a reportagem de O TEMPO buscou a campanha do prefeito e alguns outros interlocutores ligados a ele para entender as estratégias principais. Impulsionar a imagem de um prefeito trabalhador e confiar na rejeição dos adversários foram algumas delas.

Logo no início da pré-campanha, Fuad tinha um enorme desafio a ser superado: o de seu desconhecimento. Na DATATEMPO divulgada em abril de 2024 (TRE-MG é 02336/2024), ele aparecia numericamente em quinto lugar, com 7% das intenções de voto, e continuou assim até meados do primeiro turno. Entretanto, com uma campanha focada em fazer propaganda de seus feitos durante dois anos na prefeitura, em reforçar sua imagem de “prefeito trabalhador” e se apoiando na rejeição de seus adversários, Fuad terminou o primeiro turno em segundo lugar e se elegeu, no segundo turno, com 53,73% dos votos, contra 46,27% de Bruno Engler (PL).

Conforme apurou a coluna APARTE, o primeiro objetivo da campanha de Fuad Noman era reverter o desconhecimento do candidato, que se tornou prefeito em maio de 2022 após Alexandre Kalil (sem partido) deixar a prefeitura para tentar o governo de Minas. Como um vice já sem muito espaço, Fuad se tornou um prefeito apagado para o público geral, mas tinha uma carta na manga: diversas obras que herdou do governo anterior e outras que começou já na sua gestão. As intervenções pela cidade, ao contrário de quem era o prefeito, estavam sendo percebidas pela população.

O próprio Fuad, em conversa com a imprensa, itia que sua estratégia era fazer propaganda das obras, que envolviam recapeamento de vias, bacias de captação de água para evitar enchentes, novos viadutos, reforma de escolas e centros de saúde. Em conversa com a coluna, o marqueteiro de Fuad, Paulo Vasconcelos, contou que tem sido frequentemente perguntado se a campanha trabalhou, por querer, na construção da imagem de um “bom velhinho” para lançar o nome do prefeito, mas negou que esse tenha sido o caso. Segundo ele, a estratégia foi apenas reforçar a figura que Fuad já vinha demonstrado ser: a de um senhor experiente, moderado e com projetos concretos para entregar.

Com o primeiro desafio do desconhecimento superado, o próximo objetivo da campanha era evitar que Fuad Noman sofresse rejeição por parte do público geral. Sabendo que seria alvo de ataques dos demais candidatos, Fuad evitou debates e focou em agendas externas, muitas vezes no horário de almoço, argumentando que no restante do tempo estava trabalhando na prefeitura. Ele angariou, ainda, muitos votos de esquerda e centro-esquerda, se colocando como o único candidato que poderia vencer nomes de direita no segundo turno. Com o apoio de diversos partidos, de direita, centro e esquerda, a estratégia acabou dando certo. Mauro Tramonte (Republicanos), que liderou durante toda a campanha as pesquisas de intenção de voto, desidratou na última semana, deixando espaço para Fuad alcançar o segundo lugar na disputa pelo primeiro turno, com 26,54% dos votos. 

Naquela fase, já conhecido pelo público e chancelado como o candidato escolhido para enfrentar Bruno Engler (PL), afilhado político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a estratégia de Fuad Noman mudou ligeiramente de rumo. O foco ou a ser se consolidar como o nome moderado, em contrapartida ao que ele chamava de “radicalismo” do Engler. Outro ponto também chamou atenção na campanha: o uso das idades dos candidatos. Fuad, com 77 anos, era o candidato mais velho do pleito, e Engler, com 27, o mais jovem. Essa diferença foi amplamente explorada pela campanha do prefeito, que sem lançar mão de ataques pessoais, conseguiu convencer o eleitor de que Fuad era mais experiente.

Com sua imagem de político moderado consolidada com o público geral, a última cartada da campanha de Fuad Noman foi deixar Bruno Engler “se queimar sozinho”, conforme alguns interlocutores informaram a O TEMPO. O candidato do PL, que no primeiro turno teve um tom mais tranquilo, mais moderado, usou as últimas duas semanas de campanha para atacar o atual prefeito, tentando nacionalizar a disputa ao apontar que Fuad teria relação com o presidente Lula (PT). 

O principal ataque, no entanto, teve relação a um livro de ficção publicado por Fuad em 2020, quando ele ainda não era vice-prefeito. No romance, que conta a história de uma jovem que viaja pelo interior de Minas Gerais para se reconectar com as memórias da sua infância, há cenas explícitas de relações sexuais e a descrição de um abuso sofrido pela protagonista. Engler e seus apoiadores usaram a história para acusar Fuad de ser “pervertido”, tentando angariar o voto dos mais conservadores e religiosos. 

A estratégia do PL, segundo apurou a coluna, teve algum sucesso, e fontes de dentro da campanha de Fuad revelaram que pesquisas internas mostram que o prefeito perdeu alguns votos devido aos ataques do adversário. Para fugir de polêmicas, Fuad decidiu não responder às críticas relacionadas ao livro, e, segundo Paulo Vasconcelos revelou à coluna, a campanha ou a “adocicar o tom cada vez que Engler engrossava os ataques”. 

Apostando em um eleitorado com predisposição de fugir do debate ideológico e nacionalizado, Fuad Noman conseguiu a vitória sob Bruno Engler com cerca de 93 mil votos a mais. O total de votos nulos, brancos e abstenções, que superou a votação de ambos, foi visto como natural pela campanha, que destacou que as pesquisas internas já apontavam a tendência de “não-voto” do eleitor belo-horizontino.

Três dias depois de vencer o pleito, O TEMPO perguntou diretamente a Fuad Noman, durante entrevista, a que ele atribuía sua vitória. Segundo o prefeito, "foi uma conjugação de fatores", incluindo o maior conhecimento da população sobre quem era o prefeito que executava as obras aprovadas na cidade; o apoio do partido, o PSD, o voto útil das frentes progressistas e a comparação com o adversário Bruno Engler, pela maior experiência.