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Após vitória, prefeito Fuad Noman concede entrevista exclusiva a O Tempo; assista

A reportagem com a íntegra da conversa foi exibida no programa Café com Política, da rádio O Tempo FM 91,7 nesta quinta (31)

Por Deanne Gherardi e Lucas Negrisoli
Publicado em 02 de novembro de 2024 | 09:19

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), recebeu O Tempo com exclusividade após vencer a eleição. A entrevista foi concedida à jornalista Cynthia Castro, editora de conteúdo de Política, na sede da prefeitura e foi transmitida no programa Café com Política, da rádio O Tempo FM 91,7, nesta quinta-feira (31). Confira:

Prefeito, queria que o senhor começasse nos falando a que que o senhor atribui a sua vitória, sei que fala sempre que são as obras, que a população enxergou o que que o prefeito estava fazendo na cidade, mas além das obras, o que que o senhor atribui essa virada. O senhor começou até desacreditado por alguns políticos, mas o senhor venceu essa eleição. 

Acho que existe uma conjugação de coisas que aconteceram. Primeiro meu partido apoiou muito, com isso conseguimos agregar mais cinco partidos, tivemos seis partidos em uma coligação que me deu um tempo de televisão bom. E deu logicamente uma força política de mais de 250 candidatos a vereador. Então isso deu uma base para que a gente conseguisse começar a campanha de uma forma mais estruturada, organizada. Montamos uma equipe de campanha muito qualificada, muito competente, e começamos a trabalhar. Logicamente, eu sempre usei as obras porque as obras para mim foram meu grande cabo eleitoral, então eu tinha que mostrar. A maioria das pessoas conheciam as obras, mas não conheciam quem estava fazendo as obras. Valorizavam, avaliavam positivamente a prefeitura, mas não conheciam o prefeito. Então, nossa expectativa foi: é preciso mostrar ao prefeito. Começamos a mostrar o prefeito, começamos a mostrar as obras e quem estava fazendo as obras. Isso deu muito resultado, tivemos um crescimento importantíssimo nos primeiros dez dias das eleições. Aí começou a convergir três candidaturas possíveis a chegar no segundo turno. Duas da direita e a minha. E as de esquerda ficaram mais afastadas. Então as pessoas mais progressistas, as pessoas que representavam os partidos começaram a trabalhar pelo chamado voto responsável, ou voto útil. Então no final do primeiro turno eu acabei recebendo um manifesto de personalidades importantes da política mineira, da política brasileira, da política belo-horizontina, pedindo apoio para não deixar duas candidaturas de direita subirem. Isso logicamente deu um impulso à minha candidatura. E tivemos a candidatura do então primeiro colocado (Mauro Tramonte) reduzindo e essa força nos levou para o segundo turno. Segundo turno mudou completamente a eleição, é outra eleição. Os partidos mais progressistas estavam com a gente, eleitores dos outros candidatos em um número significativo migraram para o nosso lado e começamos a mostrar a diferença entre o candidato Fuad e o outro candidato. Experiência, a preparação para gerir uma cidade deste tamanho. Começamos a explorar muito esse aspecto. Compara, compara, compara. E a comparação é muito favorável para nós. Temos 55 anos de experiência no setor público, temos história nos diversos níveis de governo, governo federal, governo estadual, governo municipal… enquanto o outro candidato está começando, não tem ainda nenhuma experiência istrativa. Acho que essa conjugação: forças progressistas que nos apoiaram, as obras que nós fizemos e essa comparação no segundo turno é que nos levou à vitória. 


Prefeito, o senhor está na prefeitura, começou como vice de Alexandre Kalil, Kalil saiu e o senhor assumiu o posto e agora é um governo de Fuad Noman. Qual é a marca que o senhor quer neste governo?

Desde que assumi, há 2,5 anos, procurei imprimir, primeiro, concluir as obras que já estavam sendo discutidas e construir novas obras. Minha marca vai ser daquele prefeito progressista que vai construir, que vai resolver problemas históricos da cidade, por exemplo Anel Rodoviário, por exemplo o aeroporto, por exemplo corredor da Amazonas, a urbanização de vilas e favelas, do Dandara, do Izidora, do Getsêmani, o prefeito que vai cuidar das pessoas, um programa de proteção dos idosos, das mulheres em situação de risco, da comunidade LGBT que está na rua, das crianças que possuem algum tipo de deficiência, ou seja, um prefeito que vai trabalhar para o povo de Belo Horizonte. Esta é a marca que eu quero deixar. Se eu sair daqui da prefeitura daqui a quatro anos, e eu espero que isso aconteça, vou sair com uma cidade muito melhor do que vai estar hoje. Com as pessoas protegidas, com a cidade protegida, e com aquilo que for possível preparar para o próximo governo. Eu quero entregar uma cidade melhor e mais inclusiva. Vou trabalhar muito nessa preocupação, trazer à prefeitura para junto das pessoas. É o governo das vilas e favelas, porque as vilas e favelas ficaram muito abandonadas e são áreas importantes que precisam do apoio da prefeitura. Se eu for fazer tudo isso eu até desanimo de tanto serviço que tem pela frente.


O senhor falou do Anel Rodoviário. Havia uma previsão de que as obras começassem neste ano. Tem um convênio com o DNIT, o que tem disso até então, o senhor tem uma previsão mais factível, o que está pegando para não começar essas obras?

É preciso entender que o Anel pertence ao governo federal e que ele estava dividido. Metade dele estava com a ANTT, em uma concessão que foi dada na BR-040, e a outra metade no DNIT. Quando nós começamos o projeto, começamos com um projeto que foi feito pelo Atlético Mineiro, naquela compensação da Arena MRV. O Atlético cedeu o projeto para a prefeitura. E esse projeto estava na área da ANTT. Estava aprovado, tudo pronto e nós fomos buscar recurso para fazer isso, só que disseram que a ANTT não poderia entregar (o Anel) agora porque ainda tem a concessão. Terminada a concessão, faltavam dois, três meses, entrega para o DNIT. O DNIT falou que o projeto precisa ser reanalisado. E aí é diferente, parece engraçado, mas são dois órgãos do governo que cuidam da mesma coisa, mas têm visões completamente diferentes das coisas. E aí atrasou, o DNIT começou a estudar e por esse motivo resolvi mudar o meu pedido. Falei: me dá o Anel, municipaliza isso. É uma grande avenida. E aí mudamos um pouco o processo, o que atrasa um pouco mais, e entrou no período eleitoral, que aí não tem como fazer. Quero, semana que vem, se possível, estou tentando marcar uma agenda com o presidente, com o ministro dos Transportes. A última reunião que tive com eles me falaram que estava tudo bem encaminhado, que dependia só do prazo eleitoral terminar. Terminado o prazo eleitoral, quero ver se consigo trazer o Anel debaixo do braço. A hora que o Anel estiver com Belo Horizonte nós vamos poder cuidar do Anel, não só fazer as obras que precisam ser feitas nos viadutos, mas trabalhar na gestão, na operação do Anel. O Anel hoje é muito abandonado. Ali am todos os caminhões que vem do Sul, do Sudeste, para o Centro-Oeste para o Nordeste. E não tem muitas regras, os níveis de serviço ali são baixíssimos. Um caminhão daquele estraga fica quatro, cinco, seis, dez horas o Anel parado por conta disso. Temos que encontrar soluções para melhorar isso, o pessoal nosso já está estudando como fazer isso.


E já tem uma reunião, na semana que vem o presidente deve estar nessa reunião?

Já pedi, está bem encaminhado. O presidente logicamente só nos receberá para uma foto, não participará da discussão.


E ele ligou para o senhor para falar da eleição?

Ligou. Ligou para mim no primeiro turno, no final do primeiro turno, desejando sorte, felicidades e agradeci ele e falei que quando terminar a eleição vou visitar o senhor. E aí estou tentando marcar. O presidente Lula tem ajudado muito Belo Horizonte, ele já nos encaminhou R$1 bilhão. As obras, muitas delas, virão com esse dinheiro. Não posso abrir mão desse contato com o presidente e com os ministros, porque é lá que tem o dinheiro. Temos que contar com quem pode ajudar Belo Horizonte.


Já que o senhor citou o presidente, em 2026 o senhor já pensou nisso, o senhor vai estar com o Lula?

Olha, todo o apoio que dei em 2022 com o presidente não teve nenhum compromisso eleitoral. Tanto é que ele foi apoiar no primeiro turno o candidato do PT. Não tenho nenhum compromisso com ele. O que eu tenho dito é que em 2026, primeiro, está longe, depois, o nosso partido vai se posicionar. Sou filiado do PSD, sou um homem do partido, e vou apoiar quem o partido escolher como candidato. Se tiver candidato próprio, vou apoiá-lo, se apoiar o presidente Lula em uma reeleição, estarei junto com o partido.


Tanto no Estado quanto no nacional?

Eu só não vou apoiar a extrema-direita. Se meu partido falar: vamos apoiar, eu não vou. Esse aí eu não vou. Essa é a vantagem do PSD, é um partido que dá liberdade para seus membros escolherem. Mas eu acho que em uma eleição nacional, e eu confio muito no presidente Kassab, é um grande líder nosso, eu acho que a posição nossa é assim: o que o partido vai decidir, e vamos estar juntos.


Voltando para a prefeitura, qual que o senhor pretende que seja a participação do PT no governo do senhor. Vai estar junto, de que forma?


As pessoas falam disso como se fosse uma novidade. O PT trabalhou no governo Kalil e no meu governo o tempo inteiro. Não escolhi ninguém, não sentei ainda para escolher quadros, acabou a eleição há dois dias, três dias. Eu vou refletir um pouco mais, descansar um pouco mais, avaliar os quadros que nós temos, entender quem quer ficar e quem quer sair, quem eventualmente nós precisamos de trocar, procurar nomes, escolher currículos bons. Avaliar. E logicamente esses partidos que nos apoiaram…


PSDB também vai estar junto?

Qualquer um. Não tenho nenhuma restrição partidária-ideológica, minha restrição é currículo, é experiência, e qualificação. “Ah, eu sou do PT”. Mas tem currículo, é bom, tem trabalho mostrado? Então vem para cá. Esquece que você é do PT, agora você virou Prefeitura de Belo Horizonte. Esquece que você é do PSDB, tem currículo, tem qualificação? Esquece que você é do PSDB, agora você é da Prefeitura de Belo Horizonte. É assim que eu vou trabalhar, com pessoas qualificadas. Mas como eu disse, ainda não foi o momento, temos dois meses para fazer isso.


Não tem nenhum nome, independente do partido, pensando no secretariado, que já esteja definido?

Ninguém. Como eu disse, não parei para refletir ainda sobre isso. Estava trabalhando focado na campanha, há muita gente que nos ajudou na campanha, mas campanha é campanha, prefeitura é prefeitura, quatro anos são os novos desafios, eu vou trabalhar focado nesses desafios.Temos um plano de governo que eu vou modernizar, recebemos muitas demandas, coisas que eu nem sabia. Estou com um pacote de demandas que ainda nem consegui ler.


Algumas propostas dos adversários do senhor serão aproveitadas?

Vou aproveitar. Por exemplo, uma proposta que a Duda apresentou de um projeto que tem no Piauí de redução de roubo de celulares. Gostei do projeto, achei interessante, vou mandar nosso pessoal ir lá no Piauí para entender direitinho como que é, é um projeto muito interessante. No debate, o próprio candidato Bruno apresentou uma proposta de mandar merenda no fim de semana, achei boa a proposta, vou incluir na nossa proposta. Tem mais. Por exemplo do Rogério Correia de fazer um parque na Serra do Curral. Para mim é o seguinte, não importa quem tenha a boa ideia, se a boa ideia ajuda Belo Horizonte eu quero incorporá-la. Eu sei que não sou o dono da verdade, sei que não sei tudo e se tem pessoas de outros partidos que têm ideias para Belo Horizonte e essas ideias podem ser implantadas, eu abraço de coração.


Prefeito, além de organizar a casa, a prefeitura gostaria que o senhor falasse da relação com a Câmara, que é uma relação fundamental para que o senhor consiga ter um desempenho de acordo com o que o senhor espera. Qual o papel do seu vice, Álvaro Damião, ele vai ter um papel de ser um articulador com a Câmara?

O Álvaro é um companheiro, uma pessoa que nos ajudou muito na campanha e é uma pessoa com uma liderança muito grande. Meu governo vai ser um governo muito voltado para atender as demandas das vilas e favelas. O Álvaro nasceu em uma vila, o Álvaro cresceu no meio de uma comunidade muito carente. Montou uma ONG para atender as pessoas carentes. Uma das coisas que quero que ele cuide bem é essa interlocução com as vilas e favelas. Estou criando uma coordenadoria de vilas e favelas, que vai ter sua estrutura junto à Urbel, mas coordenada pelo vice-prefeito para que possa ter um diálogo. Esse é o grande problema que vejo nas vilas e favelas, eles não conseguem falar com a prefeitura, não conseguem chegar no prefeito. Com esse canal, com o vice-prefeito, que é uma autoridade na prefeitura, vai dar a eles uma visibilidade e dar às vilas e favelas um grande trabalho. Esse é um trabalho, é o trabalho mais importante que ele tem lá. Mas preciso muito de auxílio, fui vice-prefeito do Kalil e trabalhei muito. Já falei com o Damião: se prepara que o senhor vai trabalhar muito aqui. Tem muita coisa para fazer, e como ele é muito dinâmico, muito atuante, acho que nós vamos fazer uma parceria muito boa. 


A Câmara sem Gabriel Azevedo vai ficar mais fácil para o Fuad?

Olha, a gente teve um problema lá atrás, mas já nesse último período está tudo harmonizado com ele. Não tem mais um problema. A Câmara, eu espero, seja uma Câmara harmônica que trabalhe por Belo Horizonte. Hoje o seu jornal falou que eu tenho candidato lá, e não tem candidato, não. Eu não vou me meter na eleição da Câmara. A prefeitura não vai participar.


E esse grupo aí que anunciou um nome para a sucessão na Câmara, de 23 vereadores, da Família Aro mais outros, como é que o senhor vê?

Olha, o nome que eles estão apresentando é um nome muito bom. Vou respeitar quem a Câmara vai decidir, não me parece que está decidido ainda porque tem outros candidatos que estão interessados na presidência, está longe ainda a eleição, mas o que quero dizer é o seguinte: qualquer que seja o nome eu vou conversar com ele, espero que tenhamos uma relação republicana, porque Câmara tem uma função constitucional, uma função nobre, que é fiscalizar, que é corrigir as coisas da prefeitura, de estar atenta ao que está acontecendo, de propor leis, é votar leis importantes para a cidade. Se a Câmara, com a composição que for, trabalhar por Belo Horizonte, nós vamos trabalhar juntos. Só não quero uma Câmara hostil, mas também não quero uma Câmara submissa. Eu quero uma Câmara autônoma, mas extremamente refletida em projetos para a cidade de Belo Horizonte.


Prefeito, e em relação à reforma istrativa. Tem alguma novidade? O senhor pretende enviar um projeto de lei, o que o senhor pretende?


A gente já há algum tempo tem sentido uma carência muito grande em algumas áreas. Por exemplo, o combate à fome. Temos uma área muito restrita, muito pequena, quero ampliar essa área. A mobilidade urbana, precisamos ampliar essa área. Estamos fazendo um projeto de lei e devemos encaminhar hoje ou amanhã se Deus quiser com algumas alterações. Mudando um pouquinho, criando alguns cargos, criando uma ou outra secretaria, alterando algumas outras, exatamente para que possamos dimensionar um novo quadro da Prefeitura de Belo Horizonte. BH está crescendo, as demandas estão surgindo, e a gente sente que aperta às vezes de vez em quando. Vamos ter que construir mais postos de saúde, mais UPAs, porque está crescendo a demanda de postos de saúde e UPAs. Vamos ter que aumentar as escolas, porque estamos precisando de ter 100% de crianças nas escolas. Nós temos hoje 1,7% dos residentes de BH segundo o IBGE com carência alimentar. Não podemos deixar o pessoal ar fome. Se eu não tiver uma liberdade para trabalhar, orçamento, pessoal, estrutura, eu não consigo chegar lá. Essa reforma istrativa visa exatamente dar à prefeitura mais flexibilidade, mais estrutura para que nós possamos enfrentar os desafios que temos pela frente. Quero enviar hoje, se possível, é um projeto que só fizemos depois que ganhamos a eleição, porque se for possível votar rápido, a gente já começa o ano que vem com uma nova estrutura. Se eu deixar para a próxima legislatura ele só entra em trabalho em fevereiro, já terei um mês de governo novo. E aí fevereiro começará do zero, e poderá ser aprovado lá no segundo semestre. E eu gostaria de começar com o governo já estruturado, já organizado, com a prefeitura na parte estrutural pronta e aí mãos à obra.


O senhor pretende aumentar o número de secretarias?

Provavelmente. Aumenta porque vou separar algumas que estão muito complexas. Por exemplo, a Secretaria de Assistência Social e Combate à Fome. Ela tem muita tarefa. O combate à fome fica muito escondido, o orçamento fica comprometido. Quero pegar essa subsecretaria e transformar em uma secretaria. Mas eu acho que o custo final comparado com o benefício é pequeno.


Prefeito, o senhor já pensou na sua relação com outros prefeitos da região metropolitana, Marília Campos em Contagem, Heron Guimarães em Betim, que vai começar o primeiro mandato. Algum problema ou situação em comum que o senhor já está conversando com eles ou que o senhor vá priorizar?


Tivemos uma reunião durante a campanha com 18 prefeitos da região metropolitana. A região metropolitana é muito importante para Belo Horizonte, e BH é muito importante para essas regiões metropolitanas exatamente por ser uma cidade polo. Na questão da saúde. A pessoa está em uma UPA em Ribeirão das Neves e precisa de um hospital e lá não tem, onde ela tem que arremeter? Em Belo Horizonte. Então nós temos que ter um trabalho junto com todas as cidades no sentido de harmonizar e simplificar as relações. A prefeita Marília além de ser uma grande liderança, já tivemos boas conversas, falamos muito e a gente sabe o que temos que fazer juntos. Estamos conversando com todos os prefeitos. BH é muito importante para Minas Gerais, então os prefeitos precisam de BH e BH precisa apoiar. Para se ter uma ideia, se pegar o hospital Risoleta Neves, 60% dos partos que acontecem lá são de pessoas de fora de BH. 30% a 35% do atendimento médico de BH são de pessoas de fora de BH. Essas pessoas precisam de ter um canal mais simples, um processo mais rápido de atendimento. Quando se fala de transporte coletivo, a mesma coisa.


Ele (o transporte coletivo) seria o principal problema em comum?

Acho que tem muitos problemas. Transporte coletivo é um, saúde é outro problema, às vezes as questões de enchentes interferem… a água vem de um córrego de Contagem e inunda Belo Horizonte. Se nós não trabalharmos juntos, não adianta eu fazer aqui e Contagem não fazer lá. A Lagoa da Pampulha tem uma porção de moradias que joga esgoto direto na lagoa. A Copasa tem que fazer a obra, onde está a obra? Em casas de Contagem, por exemplo, então nós temos que trabalhar junto. Então tem muito trabalho. Eu sou um homem do diálogo, isso tem que ficar muito claro. A comunidade da grande BH com certeza é uma comunidade muito importante, vamos conversar com todos eles e enfrentar os problemas que temos em comum.


O senhor citou dois problemas e queria perguntar se isso está no escopo de suas medidas emergenciais ainda este ano e no ano que vem que é a questão do transporte e das chuvas. Se tem da chuva alguma obra que o senhor gostaria de citar como fundamental que a prefeitura vai investir e se no transporte, o senhor foi muito criticado durante a campanha pela questão dos contratos, se há algum tipo de revisão que o senhor pretende fazer ou não.

Vamos falar das enchentes primeiro. Estamos fazendo grandes obras, obras talvez de maior tecnologia do Brasil. Por exemplo, na Vilarinho, estamos fazendo um reservatório lá com 140m de comprimento, 40 de largura e 33m de profundidade. É um prédio de 12 andares de cabeça para baixo. É de uma tecnologia importante, está bem avançado, tem que ficar pronto ano que vem, é uma obra que me preocupa muito porque ela vai acabar com a enchente na Vilarinho. A Praça das Águas na Estação São Gabriel é outra obra importante porque ela tira a água da Cristiano Machado, deixa de inundar o Primeiro de Maio e está bem avançado as obras e precisamos de concluir. O que eu tenho dito é que nós temos hoje, e estamos nos preparando, está bem avançado, para tudo que nós conhecemos de chuva. Minha preocupação é o que ainda a gente não conhece. Para isso estou criando uma coordenadoria de estudos das mudanças climáticas. Vou trazer especialistas, professores, cientistas, para a gente discutir o que que vai acontecer ou pelo menos uma previsão do que pode acontecer e nos preparar para isso para não ser surpreendidos com essa questão. Já avançamos muito, não tem ninguém morrendo ultimamente, protegemos muito as encostas para evitar morte também. Com relação aos ônibus nós fizemos muita coisa já. Fui o primeiro prefeito a enfrentar os ônibus. Criei (o programa) Tolerância Zero exatamente para que a gente pudesse cobrar das empresas qualidades. Os ônibus estavam ruins, estavam estragados, as pessoas estavam reclamando muito, estava demorando para chegar, e hoje temos 800 ônibus novos. Belo Horizonte hoje tem a frota de idade média mais moderna do Brasil. Estamos aumentando o número de viagens no intervalo, estamos tentando reduzir o número de ageiros, logicamente que no horário de pico a gente acaba tendo um problema maior, mas estamos trabalhando para isso. A pergunta que fica é: está pronto? Claro que não. Primeiro não está pronto porque ainda tem muita coisa para melhorar. Vamos começar com alguns trabalhos para modernizar o sistema, e sabemos que o contrato vence agora em 2028. Esse contrato foi feito em 2008 com uma tecnologia completamente diferente, um mundo completamente diferente, hoje nessa área nós sabemos o que é quinze anos de diferença. Vamos nos preparar para esse novo contrato. O que quero fazer: é contratar uma consultoria internacional, pode ser nacional, mas que tenha conhecimento internacional, para ver quais são as melhores experiências de concessão de ônibus do mundo. Essa consultoria fará esse estudo para preparar para nós o termo de referência, que é o documento que faz parte da licitação e que descreve tudo que precisa ser feito. Vão dizer: a melhor experiência do mundo é essa. Vamos pegar aquilo, colocar em audiência pública, vamos pedir a sociedade para ver, a imprensa para avaliar, os usuários para avaliar, os especialistas para avaliar e vamos colher as sugestões. Como nós vamos ter tempo, essas sugestões vão ser recolhidas e encaminhadas para a consultoria. Ela vai avaliar essas sugestões. Feito isso, teremos um termo de referência moderno atualizado, que espero que sirva até de padrão para outros Estados. Uma licitação nacional, aberta, para quem quiser concorrer, e espero que tenha uma concorrência nacional, porque estamos falando de um contrato de 20 anos, que usa hoje mais de 1 milhão de ageiros/dia. Se considerar de janeiro a julho deste ano tivemos 134 milhões de ageiros. É um contrato muito importante, espero que tenha muita concorrência, vamos ser muito exigentes nesse novo contrato. O novo prefeito que assumir a partir de 2028 com um modelo de contrato muito mais moderno, mais eficiente e, espero, muito mais barato.


Queria fechar com duas perguntas voltando para a campanha. O senhor sofreu muitos ataques do seu adversário em relação ao livro do senhor. Não sei se o senhor tem algo a dizer que ainda não disse sobre este ponto.

Em primeiro lugar, fizeram uma tentativa de criar um escândalo na minha vida. Vasculharam a minha vida inteira, não acharam nada. Acabaram me dando um certificado de bons antecedentes. E aí resolveram pegar meu livro, ou não leram ou leram e resolveram fazer uma interpretação que não existe no livro. Não tem nada do que eles falaram, mas rede social e fake news, você sabe como é, um rastilho que cresce. Cresceu muito. Logicamente que me incomodou, logicamente que as pessoas não sabem separar um livro, uma ficção, um romance de uma vida real. O livro não quer dizer que é uma realidade, é uma história, é até uma denuncia que um risco que uma criança de 12 anos sofre por vingança às vezes por mal trate de padrasto, por pessoas que cuidam dela. Eu diria para você o seguinte, acabou vendendo mais livro, está esgotado.


Quando o senhor faz um balanço da campanha o que é que fica? Foi uma campanha que o senhor ou por um tratamento de câncer, muito desacreditado no início, se Fuad realmente chegaria lá. Tem Alexandre Kalil que foi apoiar outro candidato. Fica uma mágoa, do Kalil, por exemplo? Uma satisfação por ter conseguido chegar.

De jeito nenhum, pelo o que ele fez na campanha do Tramonte mostrou que eu estava certo em não tê-lo na campanha. Prefiro não falar nele, acho que ele teve um comportamento diferente do que ele sempre foi, então não quero falar de Kalil. A campanha foi muito difícil, muito trabalho, muito esforço, muita dedicação, muito empenho, uma campanha em que eu tive uma equipe de marketing brilhante, uma equipe na prefeitura que sustentou a prefeitura nesse período para que eu pudesse cuidar das duas coisas e uma equipe médica fantástica que me deu sustentação médica para fazer isso. Foi muito desgastante, estou muito cansado, mas por outro lado foi muito importante para mim. Eu nunca tinha feito uma campanha. Ser abraçado na rua como eu fui, tantos apertos de mão, tanto carinho, tantas pessoas gritando seu nome, transmitindo para você emoção, confiança, pedindo incessantemente para que lutasse, isso me deixou extremamente feliz, muito emocionado. A população de Belo Horizonte me abraçou e esse abraço eu não vou esquecer nunca.


E isso cria um sentimento, imagino, ainda mais profundo, com o tratamento de saúde. De que forma o câncer influenciou no seu sentimento mesmo, chegou a pensar em desistir, ou não? Como faria uma análise nesse sentido?

No final de junho eu estava com umas dores incomodando e fui ao médico e ele pediu uns exames. Fui para o hospital e descobriram o câncer. Gera a seguinte pergunta: eu vou conseguir fazer a campanha? Vou ficar quieto em casa? Vou curtir a doença? Conversei com a minha família, com amigos, com o meu partido, fiz muita reflexão, rezei, pedi apoio de Deus e cheguei à conclusão de uma coisa. Quando você está em uma encruzilhada você tem dois caminhos. Primeiro você se recolher e ficar se preparando. E nesse caso Deus te dá o conforto. A outra alternativa é você enfrentar, você lutar, e Deus te dá a força. A força divina, minha fé neste ponto é verdadeira, foi a família, foram os amigos, mas foi a confiança… eu sou devoto do Padre Eustáquio. Fui lá, conversei com ele e saí de lá convicto de que eu era capaz de vencer se eu enfrentasse, se eu lutasse de frente, se eu fosse corajoso, e foi o que eu fiz. E graças a Deus consegui sem problema. A doença foi tratando, tirava um dia para fazer a quimioterapia e me curei em quatro meses, não me atrapalhou na campanha e acho que teve a bênção do Padre Eustáquio, que é o beato da saúde e da paz. Ele me deu a saúde e me deu a paz.

Estou me preparado para ter um governo de produtividade. Um governo que vai melhorar a vida das pessoas. Eu não entrei nessa briga para perder, entrei para ganhar, mas para ganhar não para mim, mas para ganhar para a cidade de Belo Horizonte. Eu sou um prefeito quer trabalhar para as pessoas, estou preparado para melhorar a vida da cidade, melhorar o trânsito, melhorar tudo o que precisar, porque Belo Horizonte é uma cidade que nós gostamos e com amor é muito mais fácil e eu só sei dirigir com o coração com muito amor essa cidade.