Explosão de farmácias no Brasil preocupa o mercado e afeta ações da líder do setor
Abertura desenfreada de novos pontos de venda pressiona margens e derruba lucros da Raia Drogasil, que perdeu R$ 6 bilhões em valor de mercado
A Raia Drogasil (RD), maior rede de farmácias do Brasil, perdeu quase R$ 6 bilhões em valor de mercado em um único pregão, após registrar queda de 17% no lucro líquido mesmo com aumento de receita. O colapso nas ações, que acumulam recuo de 23% em 2025, acende o alerta para a possível saturação do setor farmacêutico, que vem registrando crescimento acelerado e abertura desenfreada de novas lojas em todo o país.
O cenário revela um paradoxo: embora a RD tenha alcançado mais de R$ 10 bilhões em faturamento bruto, os custos para sustentar esse crescimento comprometeram a rentabilidade. O aumento nas despesas com vendas, o giro de estoque mais lento e a compressão das margens brutas indicam que o modelo de expansão agressiva começa a cobrar seu preço.
Crescimento sem controle gera efeitos colaterais
Somente em 2024, o Brasil registrou quase 6 mil novas farmácias, uma média de 15 inaugurações por dia. O avanço supera o número de novas padarias gourmet, lojas de conveniência e cafeterias. Com farmácias ocupando esquinas, centros comerciais e até corredores de supermercados, a concorrência direta acirrou-se de forma intensa.
Atualmente, três grandes grupos concentram 40% do mercado:
- Raia Drogasil (RD): 28%
- Grupo Pague Menos (incluindo Extrafarma): 11%
- Grupo DPSP (Pacheco e São Paulo): 11%
Fora do radar das grandes nacionais, redes regionais como a Drogaria Araujo mostram fôlego mais sustentável. Com forte presença em Minas Gerais, a Araújo se destaca por sua gestão eficiente e rentabilidade acima da média do setor, mesmo sem o mesmo número de lojas das líderes. Seu modelo evidencia a importância de estratégias mais equilibradas, com foco em margem, atendimento e inovação (e não apenas em expansão física).
Indústria pressionada e consumidor diluído
A guerra de território entre redes pressiona toda a cadeia produtiva: fabricantes, distribuidores e até o modelo de exposição nas gôndolas, que depende de verbas extras das marcas. Fatores externos também impactam o desempenho das farmácias. Um exemplo recente é a redução nos casos de dengue, que derrubou as vendas de repelentes e afetou diretamente o ticket médio.
Esse conjunto de variáveis reforça um sinal: o setor farmacêutico, antes considerado porto seguro do varejo, começa a apresentar sintomas de excesso. A "febre" de farmácias, se não for tratada com equilíbrio e estratégia, pode evoluir para uma superdosagem com efeitos colaterais graves: margens em queda, lojas canibalizadas e investidores inseguros.
O futuro exige revisão da posologia
Enquanto algumas redes ainda apostam em expansão acelerada, o mercado começa a valorizar modelos com mais controle e sustentabilidade. O caminho para a recuperação da confiança e da lucratividade pode estar menos em novas lojas e mais em inteligência de gestão, diferenciação e uso eficiente de recursos.
Se o varejo farmacêutico é o remédio da vez, talvez seja hora de rever a receita e ajustar a dose com mais cautela.