O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu nesta quinta-feira (1) a retirada de todos os gradis de proteção que isolaram o Palácio do STF da Praça dos Três Poderes por cerca de oito anos. As últimas peças da barreira de proteção foram removidas pelo presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, acompanhado dos presidentes da República, Luís Inácio Lula da Silva, e do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de ministros da Corte.
O ato simbólico ocorreu após a sessão de Abertura do Ano Judiciário 2024, na volta das atividades do Judiciário após 43 dias de recesso forense. O que era para ser uma ação interna da Corte acabou virando um evento de última hora com as maiores e principais autoridades do país na Praça dos Três Poderes.
As grades de proteção começaram a ser colocadas esporadicamente na Praça dos Três Poderes a partir de 2013, com os atos de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) e aram a ser fixas no STF em 2016. De lá para cá, ao longo dos últimos anos, foi feito um reforço e ampliação da quantidade de grades, principalmente após as invasões e depredações de 8 de janeiro de 2023.
Após as invasões, o presidente Lula foi o primeiro a tomar a decisão de retirar a proteção em 10 de maio do ano ado. Já Pacheco demorou um pouco mais: só um ano depois das invasões, em 9 de janeiro deste ano, foi que decidiu pela retirada permanente dos gradis em torno do Congresso Nacional.
Celebração
Os chefes dos Poderes deixaram o plenário e saíram do Palácio do STF pela porta da frente. Na descida da rampa, Barroso, vestido com a toga que esvoaçava com o vento, liderou o grupo ao lado de Lula e da primeira-dama Janja da Silva. Os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes vieram logo em seguida, acompanhados por Pacheco e pelo futuro ministro do Supremo, senador Flávio Dino.
Nem bem chegaram na praça, Lula tomou a dianteira. “Vamos ver, Flávio Dino, se você também consegue”, brincou, enquanto segurava com uma das mãos parte do gradil. Barroso pegou o outro lado com as duas mãos.
O ato foi mais curto e rápido do que o esperavam alguns ministros, fazendo com que alguns deles sequer conseguissem se aproximar da grade de ferro antes que ela fosse prontamente carregada por Lula e Barroso. “Rapaz, esse pessoal tá muito rápido”, comentou Gilmar Mendes, sem ter encostado em nenhuma delas. “Essa grade tava muito leve. Era de plástico”, ironizou o advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, pela facilidade e rapidez de retirada da barreira. “Presidente Lula chegou e carregou sozinho”, exagerou Dino, para quem não tinha visto tudo de perto. “Seis horas da manhã ele já estava levantando peso”, emendou Janja. Todos riram.
Enquanto Lula se despedia do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que seguiria dali para ser empossado na sede do ministério, a única mulher entre os 11 integrantes da Corte Suprema, Cármen Lúcia, chegou para zombar do colega Gilmar Mendes, decano do STF que não ajudou a tirar os gradis do lugar. “Isso é só em público, porque em casa a Guimar [esposa do ministro] diz: ‘pega o lixo aí’. ‘Sim, querida’”, disse a ministra, mudando o tom de voz enquanto Janja e Alexandre de Moraes também sorriam.
O fim da solenidade teve também queixas de quem voltava do recesso e seguiria para uma sessão de julgamento. “A tradição antes era só a solenidade de abertura do ano. Agora tem votação também”, soltou Toffoli. “Vamos, Dino, já começar e acompanhar esse julgamento”, continuou Toffoli ao futuro ministro. “Agora não posso. O acúmulo [de funções] nesse caso é ilegal”, riu o senador, que exercerá pela primeira vez por tanto tempo - cerca de 20 dias - a vaga no Senado para a qual foi eleito pelos maranhenses em 2022.
A algazarra e a integração das autoridades de última hora surpreendeu Barroso, satisfeito com o tom leve do encontro, um ano depois de uma retomada tensa da reabertura do ano judiciário pós-ataque. “Está tão bom aqui. Se eu soubesse tinha mandado servir alguma coisa”, concluiu, empolgado.