MÚSICA

C6 Fest: segunda noite do evento prova que no jazz contemporâneo cabe de tudo... e um pouco mais

Bateristas Kassa Overall e Brian Blade, e a baixista Meshell Ndegeocello mesclaram hip hop, gospel, soul e R&B em suas intensas apresentações

Por Fabiano Fonseca
Publicado em 24 de maio de 2025 | 10:18

SÃO PAULO - Uma noite onde o jazz abraçou a diversidade de estilos, do hip hop, ando pelo gospel e fluindo pelo soul e R&B. Foi nessa rica miscelânia musical que a segunda noite do C6 Fest preencheu o auditório Ibirapuera, em São Paulo, nessa sexta-feira (23), se despedindo do espaço – a partir deste sábado (24), o evento toma conta do Parque Ibirapuera.

Se o experimentalismo que o jazz contemporâneo permite a criação estilística, o baterista norte-americano Kassa Overall eleva o gênero a outro patamar. Responsável por abrir os trabalhos da noite, o músico - também rapper e produtor – conduziu o público a uma experiência única, onde o hip hop preencheu a casa com uma sonoridade rica e empolgante.

Kassa Overall empolgou a plateia com uma sonoridade hip hop e jazzística muito rica. Foto: C6 Fest/Divulgação

Acompanhado por piano, sopro, contrabaixo e percussão – e cumpre dizer cada qual instrumentista repletos de virtuosismo -, Kassa, com suas rimas e baquetas, conduziu a audiência com sua música diversa, onde jazz e hip hop se encontram com maestria e eando pela sua discografia, em especial “Animals”, seu mais recente álbum de estúdio, lançado em 2023.

Clássico e com louvor

Na sequência, mais um baterista norte-americano tomou conta do auditório Ibirapuera. Brian Blade trouxe sua Fellowship Band para levar ao público uma sonoridade clássica do jazz, mas também repleta de tradições da música negra dos Estados Unidos.

Filho de um pastor batista, o compositor e instrumentista nascido na Louisiana navega entre a música gospel e o jazz tradicional, sem deixar de lado o experimentalismo que o gênero permite.

Brian Blade encerrou seu show com uma emocionante hopmenagem a Milton Nascimento e Fernando Brant. Foto: C6 Fest/Divulgação

Blade, não só um experiente e talentoso instrumentista, provou também que é um estudioso da música mundial e apreciador do Brasil e seus artistas. Ao fim da apresentação, Blade convidou três jovens músicos da Escola de Música do Parque Ibirapuera para prestar um tributo a um de seus heróis – como o próprio assim o definiu: Milton Nascimento.

Exaltando o artista e seu parceiro Fernando Brant com o álbum “O Último Trem”, Blade convocou o berimbau, a alfaia e o pandeiro dos alunos da escola para apresentar uma belíssima versão de “Os Escravos de Jó”, se despedindo do C6 Fest de forma emocionante.

Poesia e ativismo

Na última apresentação da noite, o ecletismo seguia firme no palco do C6 Fest dentro do auditório Ibirapuera. Desta vez carregado de poesia, soul, R&B e ativismo.

Nascida em Berlim, na Alemanha, mas com a vida formada pelas ruas de Nova York, a baixista Meshell Ndegeocello trouxe a poesia e o ativismo do romancista e ensaísta James Baldwin (1924-1987) para brindar o público com uma apresentação forte, ao mesmo tempo elegante e sutil – muito em parte pelos vocais de Justin Hicks, uma presença mais do que marcante no palco de Meshell.

Entre ensaios poéticos e pensamentos de Baldwin, que teve seu centenário de nascimento celebrado no ano ado, Meshell e sua banda fizeram uma apresentação muito rica, onde soul, R&B e jazz se mantiveram unidos de forma intensa. Um encerramento para deixar o público em êxtase.

*O jornalista viajou a convite da organização do C6 Fest