O ano começou com desaceleração da inflação em janeiro. Em teoria, esta pode ser uma boa notícia — é o maior recuo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês desde 1994, quando começou o Plano Real. A redução do índice não quer dizer, contudo, que todos os produtos tenham ficado mais baratos ou, pelo menos, deixado de ficar mais caros. É algo perceptível, por exemplo, no supermercado, já que, diferentemente do índice em geral, a inflação da alimentação teve seu quinto aumento consecutivo.

A inflação calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em janeiro foi de 0,16%, — uma queda de 0,36 pontos percentuais em comparação ao 0,52% de dezembro. Janeiro é tipicamente um mês de alta da inflação, mas neste ano ela foi contida pelo bônus da usina de Itaipu, um desconto nas contas de luz que, distribuído entre os brasileiros, soma R$ 1,3 bilhão. "É algo que foi retardado neste mês, mas voltará na mesma proporção na leitura da inflação de fevereiro. É um alívio temporário que não mudará a tendência da inflação, que continua a acelerar", pontua o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Matheus Dias

Já a inflação do grupo de alimentos e bebidas aumentou 0,96% e, no segmento de alimentação em domicílio, subiu ainda mais (1,07%). Na alimentação fora, houve alívio, com uma desaceleração de 1,19% em dezembro para 0,67% em janeiro.

A inflação sobre a comida pesa mais sobre camadas sociais mais baixas, cuja alimentação corresponde a uma fatia maior do orçamento, explica o economista Matheus Dias. Em janeiro, o índice foi impactado especialmente pelas altas da cenoura (36,14%), do tomate (20,27%) e do café moído (8,56%).

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Por trás das altas dos alimentos nos últimos meses estão os eventos climáticos extremos — grandes chuvas em algumas regiões e longas secas em outras — que prejudicaram uma série de culturas, como a do café. 2025 não é um ano de El Niño, fenômeno que intensificou a seca no Brasil. Se não houver grandes surpresas climáticas, portanto, há margem para queda no preço de alguns alimentos ao longo do ano, avalia Dias.

“Temos perspectiva de queda ou de uma alta menos intensa na medida em que tenhamos expectativa de safras melhores. Mas não no primeiro trimestre. Principalmente as grandes commodities, como milho e soja, têm um efeito em cascata e refletem diretamente sobre a carne suína e a de aves, que têm um grande peso sobre o IPCA”, projeta.