Um grupo de pais e mães de garotas, que tiveram suas imagens criadas por IA em falsos nudes por alunos de uma escola particular de Belo Horizonte, estiveram no Departamento Estadual de Investigação, Orientação e Proteção à Família (Defam), da Polícia Civil, no Barro Preto, na região Centro-Sul da capital, na tarde desta quarta-feira (4) para denunciar o caso. Eles conversam com delegados da corporação, que confirmou a abertura de um inquérito para  investigar o suposto crime.

Mais cedo, a mãe de um dos envolvidos na situação conversou com a reportagem. A mulher, que pediu para não ser identificada, relatou que viu algumas das imagens criadas. Segundo ela, muitas têm cunho sexual, incluindo imagens supostamente manipuladas digitalmente e montagens malfeitas. Ela também disse que teme pela segurança das vítimas e dos próprios suspeitos.

 

Início 

Na segunda-feira (2), a mulher relatou que soube da existência de um grupo no aplicativo Telegram, onde fotografias íntimas de meninas do colégio Santa Maria estavam sendo compartilhadas. Esse grupo foi descoberto, segundo ela, após um dos membros ter enviado o link do mesmo por engano para uma das vítimas. Ao serem descobertos, alguns participantes do grupo teriam gravado áudios se eximindo de culpa, e apontando outros envolvidos.

"São fotos cortadas, com cunho sexualizado. São meninas de biquíni. A informação que tivemos é que algumas podem ter sido manipuladas por Inteligência Artificial (IA), com corpo de uma e cabeça de outra. Algumas são montagens malfeitas", contou.

A reportagem teve o a algumas imagens: são adolescentes em diversos contextos, incluindo poses de roupa de banho em praias, piscinas e banheiros, sozinhas ou acompanhadas de outras garotas. Muitas das fotos, segundo a mulher, foram ilegalmente extraídas de redes sociais privadas das vítimas e estariam sendo compartilhadas e vendidas para alunos de outras escolas e outros homens.

Medo

A mãe relatou que, após ter o a capturas de tela do grupo em questão, iniciou conversas com outros pais e mães para pedir a responsabilização do colégio e dos envolvidos. "Me preocupa até onde essas fotos foram e o que podem fazer com elas por conta disso. Não se sabe se havia pedófilos lá dentro (do grupo). Daqui um mês aparecer uma foto e ela ser ameaçada, com uma manipulação de Inteligência Artificial, é o que me assusta, é o que tem me tirado o sono", completou.

Escola

"A escola precisa cercar melhor e ter uma escuta melhor em relação a esses assuntos. Na verificação dos fatos, é preciso ter as punições previstas. A gente sabe que isso é uma situação corriqueira em todas as escolas de BH, seja pública ou privada. Na pública, quando acontece, acionam a polícia. Na pública, o bem-estar do aluno está em primeiro lugar. Na privada, a gente sabe que tem uma questão de imagem é a última coisa a ser feita é chamar a policia. Isso precisa ser discutido e padronizado não só pelo Santa Maria, mas por todas porque a tendência é acontecer cada vez mais", afirmou a mulher. 

Linchamento

A mulher também declarou que se sente muito revoltada por essa ação de meninos adolescentes. Segundo ela, isso mostra como as mulheres são, mais uma vez, abusadas. Apesar disso, ela pede que os suspeitos não sejam "linchados".

"Foi uma invasão, tem uma questão do feminino. Ser mulher não é fácil. Então ver um monte de menino em formação fazendo isso já na adolescência, com meninas, soa como ataque. Mas, a primeira coisa a se ter cuidado é que, nesse momento, a gente busca investigação e providências, mas esses meninos são amores de alguém. Para eles também um linchamento virtual, que não deve acontecer, é muito danoso e não ensina nada. O propósito é que isso não se repita, que isso aconteça cada vez menos", encerrou. 

Investigação

Iniciada por volta de 16h30, a reunião entre pais e mães de adolescentes vítimas do compartilhamento de fotos íntimas terminou no fim da tarde. Ao deixarem a delegacia os responsáveis pelos adolescentes não quiseram falar com a reportagem.

Em vídeo divulgado pela Polícia Civil no início da noite desta quarta-feira (4), a delegada Larissa Mayerhofer, chefe da Divisão Especializada em Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que a corporação já instaurou inquérito para investigar o caso e que ele será em sigilo. Ela também orientou que possíveis vítimas procurem a delegacia. O endereço é Rua Rio Grande do Sul, 661, Barro Preto.