A Delegacia de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Conselho Tutelar serão acionados pelo Colégio Santa Maria Minas para apuração da denúncia sobre nudes falsos criados com inteligência artificial que estariam sendo vendidos com o rosto de alunas adolescentes da instituição. A informação é da própria escola em nota divulgada à imprensa.
A denúncia aos órgãos oficiais foi divulgada pelo colégio nesta quarta-feira (4), após uma influencer de Belo Horizonte publicar um vídeo de sete minutos relatando o caso no TikTok. Além do acionamento das instituições, entre as medidas supostamente adotadas pela instituição estão a acolhida e escuta das vítimas e familiares; a convocação e escuta do suposto autor e sua família; além da aplicação de medidas disciplinares.
"O Colégio Santa Maria Minas lamenta o ocorrido e reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente escolar seguro, acolhedor e pautado pelo respeito mútuo. Todas as providências estão sendo tomadas com responsabilidade e transparência, em consonância com os valores institucionais e a legislação vigente. A instituição permanece à disposição das autoridades competentes e das famílias envolvidas para esclarecimentos e encaminhamentos necessários", completou a nota divulgada.
O TEMPO conversou mais cedo com a influencer Ive Moreira, de 21 anos, que é a autora do vídeo que viralizou nas redes sociais. Segundo ela, o problema teve início ainda em 2023, quando fotos de meninas com idades entre 12 e 17 anos aram a circular entre os estudantes do colégio.
Em apenas 16h, o vídeo publicado pela jovem foi assistido quase 90 mil vezes somente na plataforma. "Meu irmão saiu da escola no ano ado, mas, como ele ainda tem contato com várias meninas, e eu tenho algum alcance nas redes sociais, elas me procuraram e pediram para fazer essa denúncia para ver se alguma coisa seria feita. Mas isso não é de agora, em 2023 algumas alunas foram expostas e o caso foi denunciado", detalha.
Desde então, dois dos estudantes envolvidos teriam sido punidos com dois dias de suspensão. Entretanto, na última semana, foi descoberto que a divulgação de imagens ainda estaria ocorrendo, porém, desta vez, com a suspeita, até mesmo, de comercialização de imagens de "deep fake", quando o rosto das estudantes era colocado via IA em corpos nus.
"Desde que isso aconteceu (vazamento de imagens) as meninas restringiram o o ao Instagram por alguns dos envolvidos. Porém, ele tem amigos, que entram nas redes dessas meninas e pegam as fotos de biquíni, de pijama, ou até qualquer foto, e fornecem para esse menino. Aí ele transforma elas em nudes e chega a comercializar essas fotos", denunciou Ive.
Procurado, o Conselho Tutelar de BH informou, por nota, que até o momento, nenhuma de suas unidades foi acionada. "O órgão segue à disposição para apoio no acompanhamento às possíveis vítimas e suas famílias". A reportagem também procurou o MPMG, mas, até a publicação, os órgãos não tinham se manifestado sobre a situação.
A Polícia Civil também foi questionada e informou que as vítimas do caso devem procurar a Delegacia Especializada de Apuração de Ato Infracional em Belo Horizonte, que fica na rua Rio Grande do Sul, 661, Barro Preto. "Até o momento, sem registro de ocorrência", finalizou a instituições.
Possibilidade de venda para adultos
Apesar dos crimes estarem sendo cometidos por estudantes menores de idade, os conteúdos com imagens íntimas das adolescentes podem ter chegado até adultos. A suspeita ocorre após a comercialização destas imagens por meio de um aplicativo de mensagens ter sido descoberta.
"As meninas descobriram depois de um erro do suspeito, que, ao vender as imagens, acabou enviando para outra pessoa, que reou para elas. Acontece que isso acontece no Telegram, que sabemos que é utilizada por pedófilos para ar esse tipo de conteúdo. Suspeitamos, inclusive, que funcionários da escola podem ter tido o a estes conteúdos", denunciou Ive.
Há ainda a suspeita de que parte dos conteúdos tenha sido vendida para alunos de um colégio técnico de tecnologia de BH, que conta com alunos de ensino médio e, também, de cursos técnicos, com estudantes maiores de cidade.
Conversas comprovam compartilhamento
O TEMPO teve o a algumas imagens que comprovam o compartilhamento das imagens pelos estudantes em grupos de WhatsApp e Telegram. Em uma das imagens, um dos suspeitos ironiza a descoberta do vazamento. "Mas ela que postou. Se os caras tiraram foto, fod#$%. Ela que é PCD de postar foto quase pelada", escreve um dos garotos.
"Eles compartilhavam estas imagens nos grupos e faziam uma competição de quem se masturbava mais com as imagens das garotas. Depois, ainda publicavam no Instagram parabenizando o 'ganhador' e marcando a menina que foi vítima. Temos relatos que, após essas imagens, as meninas eram seguidas dentro da escola, por aqueles que viram as fotos, fazendo chacota delas. Chegaram até a receber proposta de fazer programa, vindo de meninos de 14 anos", completa Ive na entrevista.