As alunas de uma escola particular de Belo Horizonte que teriam sido vítimas de fotos pornográficas falsas, criadas com inteligência artificial (IA), devem procurar a delegacia para denunciar o crime. A orientação foi divulgada na tarde desta quarta-feira (4 de junho) pela Polícia Civil. O Colégio Santa Maria Minas informou que irá acionar a polícia, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Conselho Tutelar.

Segundo a instituição, as vítimas devem comparecer à Delegacia Especializada de Apuração de Ato Infracional em Belo Horizonte para registrar o fato. "O endereço da especializada é rua Rio Grande do Sul, 661, Barro Preto. Até o momento, sem registro de ocorrência", completou a instituição policial. 

O caso veio à tona na terça-feira (3), depois que uma influencer de Belo Horizonte publicou um vídeo no TikTok após ser procurada por algumas das alunas que foram expostas pelos colegas. Ive Moreira, de 21 anos, é irmã de um ex-aluno do Colégio Santa Maria e, em entrevista a O TEMPO, contou que a situação já vem se arrastando desde 2023, quando fotos reais das adolescentes foram vazadas pelos colegas, também menores de idade.

"Meu irmão saiu da escola no ano ado, mas, como ele ainda tem contato com várias meninas, e eu tenho algum alcance nas redes sociais, elas me procuraram e pediram para fazer essa denúncia para ver se alguma coisa seria feita. Mas isso não é de agora, em 2023 algumas alunas foram expostas e o caso foi denunciado", detalhou a jovem à reportagem. 

Após o caso ocorrido há 2 anos, dois dos estudantes envolvidos teriam sido punidos com alguns dias de suspensão. Entretanto, na última semana, foi descoberto que a divulgação de imagens ainda estaria ocorrendo, porém, desta vez, com a suspeita, até mesmo, de comercialização de imagens de "deep fake", quando o rosto das estudantes era colocado via IA em corpos nus. 

"Desde que isso aconteceu (vazamento de imagens) as meninas restringiram o o ao Instagram por alguns dos envolvidos. Porém, ele tem amigos, que entram nas redes dessas meninas e pegam as fotos de biquíni, de pijama, ou até qualquer foto, e fornecem para esse menino. Aí ele transforma elas em nudes e chega a comercializar essas fotos", denunciou Ive. 

Apesar de novas denúncias feitas pelas estudantes, segundo a tiktoker, a escola não teria adotado nenhuma medida ou acionado a polícia sobre os crimes.

O que diz a escola? 664ag

Procurado, o Colégio Santa Maria lamentou o ocorrido e informou que desenvolve "sistematicamente" atividades educativas sobre o uso ético e responsável da tecnologia, o que contemplaria "medidas de prevenção e combate das diversas formas de violência que ameaçam crianças e adolescentes, no mundo concreto e no ambiente digital".

A instituição alegou ainda que já adota medidas pedagógicas e jurídicas, como: acolhida e escuta das vítimas e de seus familiares; convocação e escuta do suposto autor e seus familiares; aplicação de medidas disciplinares conforme o Regimento da Instituição; intensificação de atividades formativas nas turmas do ensino médio sobre bullying e suas consequências jurídicas; o Conselho Tutelar, Ministério Público e Delegacia de Crimes Cibernéticos serão comunicados sobre o ocorrido.

"O Colégio Santa Maria Minas lamenta o ocorrido e reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente escolar seguro, acolhedor e pautado pelo respeito mútuo. Todas as providências estão sendo tomadas com responsabilidade e transparência, em consonância com os valores institucionais e a legislação vigente. A instituição permanece à disposição das autoridades competentes e das famílias envolvidas para esclarecimentos e encaminhamentos necessários", concluiu. 

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O TEMPO teve o a algumas imagens que comprovam o compartilhamento das imagens pelos estudantes em grupos de WhatsApp e Telegram. Em uma das imagens, um dos suspeitos ironiza a descoberta do vazamento. "Mas ela que postou. Se os caras tiraram foto, fod#$%. Ela que é PCD de postar foto quase pelada", escreve um dos garotos. 

"Eles compartilhavam estas imagens nos grupos e faziam uma competição de quem se masturbava mais com as imagens das garotas. Depois, ainda publicavam no Instagram parabenizando o 'ganhador' e marcando a menina que foi vítima. Temos relatos que, após essas imagens, as meninas eram seguidas dentro da escola, por aqueles que viram as fotos, fazendo chacota delas. Chegaram até a receber proposta de fazer programa, vindo de meninos de 14 anos", completa Ive na entrevista.