O entra e sai de estudantes de um colégio particular da rede Santa Maria Minas, em Belo Horizonte, nesta quarta-feira (4 de junho), revela um clima de desconforto. As adolescentes caminham em grupos, com olhares que expressam preocupação, medo e vergonha. Uma delas, aluna do 9º ano, que terá a identidade preservada, chora ao explicar o motivo da angústia: ela conta nos dedos quantas amigas já foram vítimas de exposição indevida por meio de Inteligência Artificial (IA), manipulada por um grupo de colegas da própria escola. “Eles pegam fotos das meninas, manipulam com IA e compartilham em grupos de homens. Temos medo, eles convivem com a gente e fazem isso. É assédio”, desabafou.
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A garota mostra, no celular, capturas de tela de um perfil em uma rede social de fotos usado para divulgar imagens manipuladas sem o consentimento das alunas. Segundo ela, já são mais de 20 adolescentes com os rostos expostos em montagens inapropriadas — meninas com idades entre 13 e 17 anos. Os supostos responsáveis também são conhecidos: seria um grupo de meninos, em sua maioria alunos do 1º ano do Ensino Médio. As jovens planejam uma manifestação na sexta-feira (6 de junho), se nenhuma medida definitiva for tomada pela direção.
“Isso acontece desde 2023. Na primeira vez, a história vazou, houve um posicionamento da escola, e parecia que tinha acabado. Mas foi abafado. Agora voltou tudo de novo. Eu tenho medo de ter fotos no meio disso. Todos os meninos do grupo me bloquearam nas redes sociais”, relatou a estudante.
Quando a jovem se emociona ao falar sobre o caso, uma amiga se aproxima para apoiá-la e dá continuidade à denúncia à reportagem — também sob anonimato. De acordo com ela, outra aluna do 9º ano, o medo tem sido um sentimento constante entre as adolescentes. “É muito desconfortável conviver no mesmo ambiente com esses meninos que fazem esse tipo de coisa. E parece que estamos sozinhas. Alguns chegaram a ser suspensos por alguns dias, mas isso não resolve. Só vamos nos sentir seguras quando eles deixarem o colégio. Queremos esse posicionamento do Santa Maria”, declarou.
O ponto mais alarmante para as meninas está na possibilidade de que as imagens manipuladas por Inteligência Artificial — que seriam mais de 100 — tenham sido vazadas, sem que se saiba a real dimensão da circulação desse material. “Sabemos que isso está acontecendo em outros colégios também, e as imagens estão chegando a alunos de fora da nossa escola. Isso dá medo”, desabafou uma das estudantes.
O grupo de meninas planeja realizar um protesto, com faixas que seriam penduradas na rua, se o posicionamento da instituição Santa Maria Minas não for satisfatório até esta sexta-feira (6 de junho). Em nota, o Santa Maria Minas informou que, após as denúncias, medidas pedagógicas e jurídicas foram tomadas, das quais cita: acolhida das vítimas e de seus familiares; convocação e escuta do suposto autor e seus familiares; aplicação de medidas disciplinares conforme o Regimento da Instituição e intensificação de atividades formativas nas turmas do ensino médio sobre bullying e suas consequências jurídicas. Ainda, a gestão informou que “o Conselho Tutelar, o Ministério Público e a Delegacia de Crimes Cibernéticos serão comunicados sobre o ocorrido”.
Mãe precisou tirar filha da escola após exposição: ‘Afetou o psicológico dela’ 2u3j53
Na porta do colégio, em Belo Horizonte, uma mãe se aproximou do grupo de meninas ao perceber o clima de insegurança entre elas. Rapidamente identificou o motivo da tensão: ela já havia enfrentado uma situação semelhante dentro de casa. Sua filha, hoje no 3º ano do Ensino Médio, precisou mudar de escola no ano ado após ser vítima de exposição nas redes sociais.
“Criaram um perfil em uma rede social para expô-la e ainda pediram que ela o seguisse, para que visse tudo. Eu me preocupo, porque essas imagens podem continuar circulando. Não temos o a elas, não sabemos onde estão”, contou a mãe, que também pediu anonimato.
Ela relata que, diante da gravidade do caso, precisou retirar a filha da escola. Para ela, a responsabilidade por situações como essa deve ser dividida entre a escola e as famílias para uma formação mais respeitosa entre os adolescentes.
“Posso afirmar: isso não está acontecendo pela primeira vez. No caso da minha filha, chegou a um ponto em que afetou profundamente a saúde mental dela. Até hoje, está em acompanhamento psicológico”, desabafou. Na espera para buscar a filha mais nova, ela diz repensar sobre a permanência da menina na mesma unidade.
O que diz o colégio? 1l706z
Procurado, o Colégio Santa Maria lamentou o ocorrido e informou que desenvolve "sistematicamente" atividades educativas sobre o uso ético e responsável da tecnologia, o que contemplaria "medidas de prevenção e combate das diversas formas de violência que ameaçam crianças e adolescentes, no mundo concreto e no ambiente digital".
"O Colégio Santa Maria Minas lamenta o ocorrido e reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente escolar seguro, acolhedor e pautado pelo respeito mútuo. Todas as providências estão sendo tomadas com responsabilidade e transparência, em consonância com os valores institucionais e a legislação vigente. A instituição permanece à disposição das autoridades competentes e das famílias envolvidas para esclarecimentos e encaminhamentos necessários", concluiu.
Também sou vítima, o que fazer? 292n49
A Polícia Civil afirmou que atua para levantar as informações do caso. A instituição orienta a vítima a comparecer na Delegacia Especializada de Apuração de Ato Infracional em Belo Horizonte para registrar a denúncia. O endereço da especializada é rua Rio Grande do Sul, 661, Barro Preto.