PUNIÇÃO

Estudante de medicina é afastado de universidade após denúncias de racismo e LGBTfobia

Jovem disse que suas declarações nas redes sociais foram feitas de forma impulsiva para extravasar "raiva e frustração"

Por Aléxia Sousa/Folhapress
Publicado em 26 de maio de 2025 | 21:49

A Universidade Federal de Roraima (UFRR) afastou preventivamente um estudante do curso de medicina após denúncias de comportamento racista e LGBTfóbico. Fábio Felipe dos Santos Nogueira, 24, é investigado por uma comissão interna da instituição, instaurada após queixas recebidas pela Ouvidoria.

O afastamento foi efetivado no dia 22 de abril e tem duração indeterminada, segundo a universidade. A medida foi adotada para garantir "isenção e lisura" na apuração dos fatos, e o processo segue em trâmite "com garantia de ampla defesa".

As denúncias envolvem postagens feitas pelo aluno em seu perfil pessoal no X. Nas redes, ele publicou declarações ofensivas, incluindo o uso de termos considerados racistas e críticas a comportamentos relacionados à sexualidade.

Em nota, o jovem disse que suas declarações foram inadequadas e que elas foram feitas por meio de uma "persona exagerada", usada de forma impulsiva para extravasar "raiva e frustração". O estudante também citou conflitos internos relacionados à própria sexualidade e à vivência religiosa como fatores que teriam contribuído para o tom das publicações.

Publicações racistas

Entre os conteúdos atribuídos a ele, estão ataques à miscigenação e à identidade brasileira. Em uma das publicações, Nogueira afirmou que "não existe nada para ter orgulho em miscigenação" e que "os dois [orgulho e antirracismo] não são possíveis".

Em outro post, escreveu: "Brasil é um país de macacos, não tem nada pelo que se orgulhar nesta nação. [...] Tudo que significa brasilidade é corrupção e ardil". 

O conteúdo gerou reações de repúdio entre alunos e mobilizou o Centro Acadêmico de Medicina da UFRR, que em nota disse ser contrário a qualquer forma de discriminação e se solidariza com os afetados pelas declarações.

"Não somos, em hipótese alguma, coniventes com os acontecimentos recentes nem com comentários ou atitudes que incentivem preconceito, ódio, violência e danos ao patrimônio público", diz o comunicado assinado pelos estudantes.

Nogueira afirmou estar em tratamento psiquiátrico e que foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas negou estar usando a condição como justificativa para os ataques. "O que direi a seguir não se trata de justificar o injustificável, mas de demonstrar que nem tudo foi interpretado da maneira correta."

Ele também afirmou que não associou o termo "macaco" a pessoas negras, mas o utilizou de forma metafórica para criticar comportamentos que, segundo ele, estariam ligados ao que chamou de "involução civilizacional." 

Disse ainda que, embora a linguagem utilizada tenha sido violenta, jamais destratou colegas ou pacientes no convívio acadêmico.

Segundo o estudante, parte das publicações foi mal interpretada devido a 'limitação de caracteres' da rede social. "ito porém, que falta de clareza em declarações gere interpretações negativas e nem culpo quem não tenha compreendido. Os escassos caracteres do Twitter [atual X] impedem uma melhor desenvoltura e meus posts não eram debates. Portanto o que mal escrito foi, mal lido é."

A UFRR ressaltou que possui uma resolução específica para lidar com casos de assédio e discriminação dentro do ambiente universitário. Entre as medidas previstas está a atuação da Comissão Permanente de Acolhimento, Prevenção e Enfrentamento às Violências na universidade, que acompanha os casos e coordena ações de acolhimento às vítimas.