Hacker preso no episódio conhecido como Vaza Jato, que expôs as conversas de integrantes da força-tarefa da Lava-Jato no Telegram, tinha plano para invadir o telefone celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de olho em “podres” do magistrado que poderiam beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, filhos, outros parentes e aliados políticos.
O mesmo hacker, Walter Delgatti Neto, afirma trabalhar para a deputada federal Carla Zambelli, uma das expoentes do bolsonarismo. O serviço seria pago com bitcoin.
De acordo com Delgatti, ele trabalha com a parlamentar desde agosto de 2022, após se reunir com ela e Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, em Brasília. Encontro confirmado à época por Zambelli.
Já sobre a mais recente revelação, primeiro, a deputada negou. Depois, ao saber que o hacker gravou a informação, disse apenas que “não tem qualquer relação com Walter no que tange grampear o Moraes”.
As informações foram publicadas nesta terça-feira (7) pelo The Brazilian Report, site em língua inglesa dedicado ao noticiário do Brasil e da América Latina. Logo após tornar o conteúdo público e gratuito, inclusive com versão em português, o veículo sofreu um ataque que derrubou a sua página na internet, sofrendo oscilações.
“Nos áudios trocados via Telegram e enviados à reportagem, os dois hackers combinam que o pagamento pelo serviço não poderia ser feito por PIX, mas com bitcoin ou mesmo dinheiro vivo. As duas opções são mais difíceis de rastrear”, diz trecho da reportagem.
Em conversas gravadas com o Brazilian Report, Delgatti confirmou que se trata de sua voz. Ele disse que presta serviço para Zambelli, ganhando R$ 6 mil para gerir as redes sociais da deputada. Ela teve as redes sociais bloqueadas até recentemente, e ele foi impedido pela Justiça de sequer ar a internet, ressalta a reportagem.
Zambelli atacou hacker da Vaza Jato quando Moro integrava governo Bolsonaro
Quando as mensagens da Vaza Jato vieram à tona, Carla Zambelli atacou os hackers de várias formas. Ela chegou a comparar Walter Delgatti a Adélio Bispo – o homem que deu uma facada em Bolsonaro na campanha de 2018 – e enfatizou suas agens na cadeia por furto qualificado, apropriação indébita, falsificação e estelionato.
À época das revelações da Vaza Jato, Moro integrava o governo Bolsonaro. O então ministro da Justiça era amigo de Zambelli, tanto que foi padrinho de casamento dela. Já o presidente da República e seus seguidores apoiavam a Lava Jato, essencial para o crescimento do bolsonarismo e derrotas do petismo.
Delgatti Netto foi preso em julho de 2019, na Operação Spoofing, que desarticulou uma "organização criminosa que praticava crimes cibernéticos", segundo a Polícia Federal. As investigações apontaram que o grupo ou contas do aplicativo de Telegram usadas por autoridades.
À época, Walter Delgatti Neto, itiu à PF que entrou nas contas de procuradores da Lava Jato e confirmou que reou mensagens ao The Intercept Brasil. Ele disse não ter alterado o conteúdo e não ter recebido dinheiro por isso. Parte das mensagens foi publicada no site, a partir de junho de 2019.
O juiz federal Vallisney de Oliveira, que autorizou as prisões, viu indícios de que os hackers se uniram para invadir as contas do Telegram. Investigadores disseram que os hackers tiveram o ao código enviado pelos servidores do aplicativo Telegram ao celular das vítimas para abrir a versão do aplicativo no navegador.
Revelações da Vaza Jato ajudaram na anulação das condenações de Lula
No primeiro semestre de 2021, Moro foi declarado parcial pelo STF nos processos envolvendo Lula. As mensagens da Vaza-Jato, que mostram constantes diálogos dos procuradores com o então magistrado, revelaram, entre outras coisas, Moro orientando integrantes da força-tarefa para levantar provas e até apontando quem deveria ser ouvido como testemunha.
Ainda há trechos em que os procuradores debocham de Lula e parentes do ex-presidente. Também mostram que estavam empenhados em evitar que o petista fosse candidato a presidente em 2018. De fato, as ações da Lava-Jato impediram que Lula continuasse a campanha, vencida por Bolsonaro. Logo depois, Moro foi anunciado ministro da Justiça do governo Bolsonaro.
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