RESPOSTA

'Não sou um biscuit de porcelana', diz Janja após fala sobre TikTok com Xi Jinping

Primeira-dama teria gerado constrangimento em jantar na China; em entrevista ela negou quebra de protocolo e mal-estar

Por Ana Paula Ramos
Atualizado em 23 de maio de 2025 | 18:11

BRASÍLIA - A primeira-dama, Janja da Silva, negou ter quebrado protocolo em jantar com o presidente Xi Jinping, na China, quando ela comentou sobre a rede social TikTok – controlada pela empresa chinesa ByteDance. A fala vazou para a imprensa por meio de um participante do encontro, que afirmou que a primeira-dama causou constrangimento ao se dirigir ao líder chinês sobre os danos causados pela plataforma.

“Não foi quebra de protocolo nenhum. Nós estávamos em um jantar conversando. Não entrei em uma sala gritando”, disse Janja.

“Eu não sou um biscuit de porcelana. Eu não vou ao jantar só para acompanhar meu marido”, declarou, em entrevista à escritora e roteirista Tati Bernardi, divulgada nesta sexta-feira (23) no podcast “Se ela não sabe, quem sabe?”, do jornal Folha de São Paulo.

A primeira-dama também negou que houve mal-estar no encontro em razão de seu comentário. Janja acrescentou que sabe os limites de sua participação e atuação. “Vamos combinar que eu tenho bom senso, né? Me considero uma pessoa inteligente”, disse.

“Eu sei os assuntos que são mais delicados. Eu poderia ter falado com o [Vladimir] Putin [presidente da Rússia]: ‘pelo amor de Deus, para com essa guerra [contra a Ucrânia]'. Mas eu sei que aquele é um assunto delicado para aquele momento. Mas eu não vou me furtar a falar de uma rede social que está matando criança”, afirmou.

Ela referiu-se ao caso de uma menina de 8 anos que morreu em Ceilândia (DF) depois de inalar desodorante como parte de um desafio lançado no TikTok.

Lula defendeu fala de Lula

Janja corroborou a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que foi ele quem iniciou o assunto sobre o TikTok no encontro, comentando sobre a necessidade de discutir com a equipe chinesa possibilidades de regulação da plataforma.

“Talvez eu tenha querido explicar um pouco melhor ao presidente Xi Jinping, não apenas a ele, mas também aos ministros e à primeira-dama [da China], porque vocês sabem que o meu marido é analógico. Ele não sabe usar os termos que a gente está acostumado a usar nas redes sociais".

A primeira-dama relatou que, na ocasião, perguntou a Lula se poderia complementar a fala dele. "E eu falei um pouco dessa questão de como o algoritmo entrega fora da China”, disse. 

Segundo ela, seu marido nunca a impediu de falar. “Eu não teria casado com ele [se ele fizesse isso]. Ele jamais vai fazer isso comigo e com nenhuma outra mulher, nenhuma outra ministra”, declarou. 

'Não me calarei', disse Janja

Na segunda-feira (19), Janja também comentou sobre o assunto, durante evento sobre combate à violência sexual contra crianças, para reforçar sua postura. A primeira-dama afirmou que, sempre que houver a oportunidade, vai repetir a abordagem.

“Em nenhum momento eu calarei a minha voz para falar sobre isso. Não há protocolo que me faça calar se eu tiver uma oportunidade de falar sobre isso com qualquer pessoa que seja, do maior grau ao menor grau, do mais alto nível a qualquer cidadão comum”, disse.

No mesmo discurso, ela afirmou que é preciso tratar do tema “de uma forma um pouco mais séria e não como fofoca de bastidor”. E ironizou o que seria o protocolo de eventos como o jantar em Pequim.

“Eu fico feliz que vocês me convidaram e que eu vou poder falar, que eu não vou precisar ficar calada. O protocolo aqui me deixa falar, né, Macaé [Evaristo, ministra dos Direitos Humanos]?", disse.

Em coletiva de imprensa antes de deixar o país, Lula questionou o fato de o episódio ter sido vazado à imprensa, sendo que estavam presentes na reunião apenas alguns ministros de seu governo e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o vice-presidente da Câmara, Elmar Nascimento (União Brasil-BA).

“Alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa que teve em um jantar que era uma coisa muito, mas muito confidencial e pessoal. E depois, eu que fiz a pergunta, não foi a Janja. Eu vi na matéria que um ministro ficou incomodado. Se o ministro estivesse incomodado, deveria ter me pedido para sair. Eu teria autorizado ele a sair da sala”, criticou.