BRASÍLIA - No lançamento de um programa de crédito consignado nesta quarta-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fugiu do script durante evento no Palácio do Planalto. Diante de lideranças do Congresso, sindicalistas e representantes da área econômica, o petista defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; e mencionou divergências na Esplanada; e criticou os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Argentina, Javier Milei.
Além disso, Lula cometeu deslizes ao dizer que escolheu uma "mulher bonita" para comandar a articulação política do governo e, assim, aproximar o Executivo do Legislativo. A declaração, feita enquanto se dirigia aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil -AP), foi uma referência a Gleisi Hoffmann, que assumiu o Ministério de Relações Institucionais (SRI) na última segunda-feira (10).
A cerimônia foi marcada por afagos a Haddad, alvo constante de críticas até mesmo dentro de setores da esquerda e do próprio PT. Entre as vozes petistas que já questionaram as medidas econômicas do governo, estão, inclusive, Gleisi. No entanto, Lula disse que o ministro pode se tornar o ‘melhor da história” na pasta.
“Economia não se faz com mágica. A gente não inventa. [...] E vou dizer sem medo de errar: já tive muitos ministros, muitos companheiros na Fazenda. Mas pode ter certeza, se vocês colaborarem, a gente vai terminar o governo com o Haddad ando para a história como o melhor ministro da Fazenda que esse país já teve”, disse.
O presidente ainda fez menção a divergências entre ministros do governo em relação à política econômica - notadamente, Haddad e Rui Costa, ministro da Casa Civil. Lula se colocou como a pessoa para “separar a briga”.
“Aqui não tem tem cavalo de pau, aqui tem política serena, discutida. De vez em quando eu vejo muita gente ‘ah, porque tem briga entre Haddad e Rui Costa’. Não, quando tiver briga entre os dois eu sou o separador dessa briga. Porque tem uma mesa redonda que eles participam”.
Além disso, Lula afirmou que “não quer ser um Trump” ou “um Milei”, que segundo ele, fazem “bravata”. Segundo o presidente, o diálogo dentro do governo se dá com “serenidade”.
Ainda em defesa de Haddad, Lula criticou artigos na imprensa que contestam as medidas econômicas e fiscais do Ministério da Fazenda, sugerindo que há pessoas interferindo no noticiário de forma mal intencionada.
“Fiquei muito chateado com muitas matérias no jornal. Não sei se é plantada, mas acho que tem muito agiota fazendo sacanagem com o Brasil. Não sei se é gente que vive com especulação do dólar, que ganha com a bolsa. Mas tem tanta notícia cretina, tanta notícia falsa, que não tem explicação”, disse.
Durante o evento, Lula afirmou ainda que deseja se aproximar dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. Segundo ele, para conseguir cumprir com esse objetivo, nomeou uma "mulher bonita" para cuidar da articulação política do governo com o Congresso Nacional.
"É muito importante trazer aqui o presidente da Câmara e o presidente do Senado, porque uma coisa que quero mudar é estabelecer relações com vocês. Por isso, coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, porque não quero mais ter distância entre vocês”, disse o presidente durante evento no Palácio do Planalto.
Gleisi Hoffmann tomou posse como ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) na segunda-feira (10). A ex-presidente do PT e deputada federal licenciada pelo Paraná substitui Alexandre Padilha na responsabilidade de cuidar da articulação política do Planalto. Padilha assumiu o Ministério da Saúde no lugar de Nísia Trindade, exonerada pelo presidente.
Na mesma cerimônia, ao destacar as lideranças governistas no Congresso, Lula se referiu ao deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, como “cabeçudão do Ceará”. O presidente mencionou o parlamentar ao citar a aprovação da reforma tributária, concluída após mais de três décadas de negociações.
“E nós conseguimos fazer, com a participação de todos os deputados e senadores. E nós [PT] só temos nove senadores no Senado de 81, e só temos 70 deputados em 513. E nós fizemos isso muito por conta do trabalho primordial do Guimarães, esse cabeçudão do Ceará, e pelo companheiro Jaques Wagner [lider do governo no Senado], que é um companheiro da mais alta qualidade de negociação”, afirmou.
As declarações do presidente ocorreram durante evento de lançamento do programa "Crédito do Trabalhador", que prevê ampliar o o ao empréstimo consignado pelos empregados da iniciativa privada. Essa é mais uma das medidas anunciadas pelo governo para tentar melhorar a aprovação de Lula e se aproximar mais do seu “eleitor raiz”, pensando já em 2026.
Atualmente, o crédito consignado — descontado diretamente na folha de pagamento — só está disponível para trabalhadores cujos empregadores tenham convênio com um banco. Esse tipo de empréstimo costuma ter juros mais baixos, já que as parcelas são descontadas automaticamente do salário, reduzindo o risco para as instituições financeiras.
Com a nova medida, os bancos vão utilizar o sistema eSocial — plataforma governamental destinada ao recolhimento de tributos — para obter informações na análise da taxa de crédito.
Pela plataforma, o empregado poderá escolher a instituição financeira de sua preferência e comparar as taxas de juros em uma plataforma. O Palácio do Planalto estima que a mudança beneficiará 42 milhões de trabalhadores com carteira assinada, incluindo empregados domésticos.