BRASÍLIA - Com o intuito de replicar estratégias da direita nos Estados Unidos, a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou, nas últimas semanas, a comparação do petista com o presidente norte-americano Joe Biden, na tentativa de enfraquecer sua imagem pública. Nas redes sociais, apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) tem apelidado Lula de “Biden da Silva”, insinuando que ambos estão em declínio devido à idade.
O desempenho de Biden no debate contra o ex-presidente Donald Trump, promovido pela CNN no último dia 27, levantou questões sobre sua capacidade física e mental aos 81 anos para disputar a reeleição à Casa Branca. Durante o confronto, ele teve vários “apagões”, dificuldades em elaborar raciocínios e em rebater o candidato republicano. Vários atores políticos, inclusive democratas, defendem que Biden saia da disputa.
O presidente brasileiro tem reafirmado o seu apoio a Biden, mas com cautela. Em uma entrevista no início desta semana, Lula reconheceu a saúde fragilizada do candidato à reeleição e itiu a possibilidade de o democrata optar por não participar da corrida presidencial, mas destacou que a decisão de prosseguir cabe exclusivamente ao líder norte-americano: “Eu acho que o Biden tem que tomar uma decisão. ‘Eu tô bem? Vou continuar. Não estou bem? Então, vou parar’”.
Lula tem desabafado com auxiliares sobre a comparação e se mostra irritado. Para afastar essas críticas, o petista afirmou publicamente que "do ponto de vista de saúde", com seus 78 anos, se sente "como um menino". Durante um evento em Osasco (SP), na última sexta-feira (5), ele subiu o tom sobre o assunto: “Todos os que acham que estou cansado, eu convido a fazer uma agenda comigo no meu mandato. (...) Quando eu falo que tenho energia de 30 e tesão de 20, é por conhecimento de causa”.
Inicialmente, o presidente brasileiro desejava não concorrer à reeleição em 2026, mas sim preparar um sucessor para a corrida eleitoral. Contudo, a falta de um nome forte da esquerda para essa posição faz com que Lula considere essa possibilidade, caso necessário. Se decidir entrar na disputa presidencial, o petista estará com 81 anos.
O Coordenador do curso de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), Juca Niemeyer, avalia que o impacto político do apoio do petista a Biden contribui para o cenário de rivalidade entre campos da esquerda e da direita. “Está muito polarizada a eleição nos Estados Unidos, então o apoio explícito de Lula vai trazer resultados para a sua imagem no Brasil".
Niemeyer analisa que é muito direta a ligação entre as eleições nos EUA e o quadro político brasileiro. “Lula deve ser pressionado a seguir apoiando Biden, então ele vai sofrer também os danos desse apoio porque o presidente dos Estados Unidos está muito fragilizado com um certo grupo dos independentes e com relação ao eleitor republicano. Então, há muita crítica a Biden e essa crítica se espalha pelo mundo”.
Internamente, também há preocupação no Palácio do Planalto com a possibilidade de uma vitória de Trump, o que poderia fortalecer a extrema-direita no Brasil e influenciar o cenário político nacional. Auxiliares de Lula mencionam que esse grupo já ganhou força na Argentina, com a eleição de Javier Milei, e tem crescido na França. Assim, mesmo considerando que Bolsonaro foi considerado inelegível pela Justiça Eleitoral até 2030, há receios de que outro candidato apoiado por ele vença a disputa presidencial daqui a dois anos.
"Claro que com eventual vitória de Trump, aqueles da extrema-direita no Brasil vão se aproveitar dessa situação com relação a Milei também, para mostrar a força da centro-direita e da extrema-direita em países pelo mundo. Isso vai ser feito com base nas bandeiras conservadoras. E Trump vencendo as eleições, ele vai apoiar diretamente o candidato da centro-direita em 2026, ou da extrema-direita. Então, há um impacto político muito grande numa possível vitória de Trump”, concluiu Niemeyer.