BRASÍLIA - A bronca do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última semana, direcionada a ministros que não participaram de reuniões interministeriais dos últimos meses, gerou diferentes interpretações na Esplanada dos Ministérios.

A avaliação amplamente divulgada foi de que se tratou de um puxão de orelha público ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo. No entanto, fontes do Palácio do Planalto afirmam que o episódio também reforçou a legitimidade de Macêdo para cobrar a participação dos colegas nas reuniões com movimentos sociais.

Ainda assim, esses mesmos interlocutores não deixaram de relatar a O TEMPO Brasília as dificuldades de Macêdo à frente da pasta junto a Lula, movimentos sociais, ministros e partidos que compõem a base do governo no Congresso Nacional.

Na última semana, o presidente anunciou durante evento no Palácio do Planalto um conjunto de ações com investimentos de R$ 425,5 milhões em programas voltados aos catadores e cooperativas de recicláveis.

Naquele dia, o ministro da Secretaria-Geral se mostrou à vontade, discursou, e até gargalhou quando o presidente da República brincou ao cobrar dele um novo púlpito para as solenidades no Palácio do Planalto.

Mas o tom de Lula mudou logo em seguida ao cobrá-lo, dessa vez de forma séria e enfática, sobre o comprometimento nas entregas dos programas sociais anunciados. Na mesma hora, Macêdo mudou o semblante.

Na sequência, o presidente reclamou da sigla do comitê criado no âmbito do Palácio do Planalto e da ausência dos ministros nas reuniões interministeriais. O petista disse que fica sabendo dos encontros e que os ministros apenas mandam representantes.

“Primeiro, se a gente marca a reunião, todos os ministros têm que participar. Você [Márcio] tem a responsabilidade de pegar o telefone e ligar para cada ministro. (...) Também, muitas vezes, a gente acha que está ligado no 'zap' e a uma mensagem: 'reunião amanhã às 9h'. Nem sempre todo mundo vê. É importante pegar o telefone e ligar para a pessoa "", disse na ocasião.

Sob reserva, uma fonte do alto escalão do Palácio do Planalto alegou que a fala do presidente empoderou o titular da pasta de Secretaria-Geral diante dos outros ministros. “Tem pessoas, ministros, que não querem participação social nos seus ministérios. Às vezes não é do histórico deles também”.

Questionado pela imprensa nos dias seguintes, Márcio Macêdo reconheceu que o presidente fez cobranças por mais participações nas reuniões ministeriais, ainda assim afirmou que não interpretou as falas de Lula como bronca.

“Não vi nenhuma bronca. Muito pelo contrário, vi o presidente – e quero agradecer a ele de público – fortalecer a minha coordenação nesse processo em relação às políticas públicas para os catadores”.

Ainda durante a resposta, o ministro disse que o petista “tem todo direito” de fazer as cobranças como chefe do Executivo federal na execução dos programas. “O cargo [de ministro] é do presidente, o povo o outorgou por quatro anos pelas urnas”.

Então, ele tira e bota quem ele quiser, ele chama a atenção de quem ele quiser, ele pode fazer as correções de rumo que ele achar necessário e todos nós que somos ministros temos que compreender isso”, completou.

Outros puxões de orelha 4o5m4e

Não foi a primeira vez que o presidente da República fez cobranças públicas ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência. No Dia do Trabalhador, em 1º de maio deste ano, o petista reclamou que havia poucas pessoas no ato e culpou o auxiliar pela desmobilização.

Desde o episódio, coincidência ou não, Macêdo não teve mais uma audiência exclusiva com Lula até a última quarta-feira (10). Na ocasião, o ministro foi recebido no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, horas antes do anúncio dos investimentos para os catadores.

Conforme agenda da Presidência da República, neste intervalo, ou seja, de maio até julho deste ano, o ministro da Secretaria Geral somente participou de reuniões com Lula quando outros ministros também estavam presentes.

Amigo íntimo de Lula e da primeira-dama sofre com saudosismo 6a1h2p

Macêdo é visto na Esplanada dos Ministérios como o "queridinho" do presidente e um "pau-mandado" pelos demais colegas. Ele e a esposa, Karina Marx Macêdo, de Teófilo Otoni, foram o único casal da Esplanada a ar o Ano-Novo com Lula na base militar da Restinga da Marambaia (RJ).

Além disso, Karina e a primeira-dama, Janja da Silva, são amigas. Segundo interlocutores, essa proximidade aumenta ainda mais o respeito de Lula pelo ministro, apesar de, em algumas ocasiões, essa intimidade gerar situações constrangedoras, como no 1º de Maio e na última semana.

Fontes ligadas à Presidência da República minimizam o desconforto e contam que é do perfil de Lula brincar e expor aqueles que são muito próximos a ele. “Se Lula não gostasse, não estaria com Macêdo”, frisa. 

Apesar das cobranças públicas do presidente, o nome de Macêdo está fora de consideração para a reforma ministerial que o petista deve realizar ainda este ano, após as eleições municipais. Retirá-lo do cargo também geraria outro problema: o petista não saberia onde realocar o auxiliar fiel. 

“Ele é um tarefeiro do partido, e as mulheres deles se dão bem. Macêdo trabalha para compor, compõe com o coletivo. Não trabalha isolado como outros ministros dentro do Palácio do Planalto”, conclui uma fonte sob reserva.

Um interlocutor da Esplanada reporta que o ministro tem alguns desafios, entre eles o de mostrar que “tem o tamanho suficiente” para estar no cargo frente às cobranças em relação à pasta. O outro desafio é entender que os próprios movimentos sociais mudaram nos últimos 20 anos.

Na avaliação de um auxiliar, o ministro sofre com o saudosismo de comparações sobre os dois primeiros mandatos de Lula (2003-2010), quando os movimentos sociais tiveram presença marcante no governo federal. 

“Tem muita coisa desse governo que é de comparar com os governos anteriores de Lula. É complicado isso. Até a forma de conversar e contatar os movimentos sociais atualmente são diferentes de antes", observa ao dizer que a pasta sofre com essa comparação. 

Márcio Macêdo, de 53 anos, é deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores de Sergipe desde 2011. Atualmente está licenciado da Câmara dos Deputados por ocupar uma pasta no primeiro escalão do governo Lula. 

Ele já foi vice-presidente do PT e tesoureiro nacional da legenda. Como líder estudantil, participou das campanhas de Lula à presidência da República no final da década de 1980 e nos inícios da década de 1990.