O governo de Romeu Zema (Novo) deve sair vitorioso em plenário na votação que estabelece o reajuste de 4,62% e, ainda, na rejeição das emendas que propõem índice maior, mas, conforme fontes ligadas à base do Executivo na Assembleia, é evidente que o governo sai, mais uma vez, desgastado junto aos deputados que o apoiam.
Desde o início da tramitação do projeto, há um mês - quando o governo enviou uma proposta de 3,62% -, o governo, além de enfrentar a indignação dos servidores, tem que lidar com a insatisfação também dos deputados estaduais da base.
Prova disso é que a emenda que autorizava o governo a acrescentar mais 5,79% ao reajuste - fazendo com que o índice pudesse chegar a 10,67% - ainda no primeiro turno só foi derrotada por uma diferença de quatro votos. Foram 30 a favor dela (ou seja, contra o governo), e 34 contra a proposta (a favor do governo), na última terça (4). Outra proposta, de autoria do deputado Sargento Rodrigues (PL), que previa esse índice apenas para a segurança pública, foi rejeitada por um placar ainda mais apertado, por apenas um voto: 33 votos contra e 32 favoráveis.
Para a oposição, os números no plenário demonstraram uma “derrota” do governo, e os deputados ainda têm esperanças de convencer os parlamentares indecisos a votarem a favor de uma emenda que aumenta o reajuste proposto em 5,79% (correspondente à inflação de 2022) junto com a proposta de 4,62% do governador, o que contemplaria os dois dígitos desejados pelos servidores:
“O governador saiu derrotado do plenário. O governo Zema não tem maioria na Assembleia. Ele teve que fazer uma movimentação para convencer parte da sua base a votar favorável ao projeto e contrário às emendas. Se nós somarmos a nossa votação da emenda e somarmos aqueles deputados que não votaram, o governo foi derrotado. Ele não teve maioria”, avaliou a deputada de oposição, Beatriz Cerqueira (PT).
Essa avaliação, inclusive, não é exclusiva da oposição. Fontes ligadas à base do governo contaram à reportagem que a sensação de muitos parlamentares que costumam apoiar o Executivo em plenário é de que “o governo não se importa com a base”. Os deputados que votaram junto com o governo e contra o aumento do reajuste para 10,67% teriam a sensação de que Zema “não entende como a questão do funcionalismo público é sensível” também aos parlamentares e não teria “se dedicado o suficiente na negociação”. Uma fonte, inclusive, afirmou que o governador seria “incompetente” no diálogo com a base. A reportagem procurou o governo, que não respondeu até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
Expectativas para o segundo turno
Após aprovação da emenda na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO), nesta quarta (5), governo e oposição se esforçam, agora, para convencer os indecisos no momento da votação em segundo turno, na quinta (6). Romeu Zema quer que o projeto seja aprovado sem emendas referentes ao aumento do índice, mantendo os 4,62% propostos. Já a oposição luta para aumentar esse índice em 5,79%, além de conseguir o pagamento do retroativo em parcela única e gratificações para algumas categorias.
Os dois lados lutam pelo voto dos indecisos: dos 71 deputados presentes em plenário, sete não votaram, todos da base do governo, sendo que um deles é a vice-líder de governo, deputada Chiara Biondini. À reportagem, um parlamentar confidenciou que sentiu que seus colegas que se ausentaram da votação estavam “abatidos” e não quiseram se indispor nem com os servidores nem com o governador. O Executivo, por sua vez, espera que, caso esses deputados decidam registrar voto, registrem a favor do projeto e contra as emendas, garantindo sua vitória em plenário.
O que diz o governo
A reportagem procurou o líder de governo na Assembleia, deputado João Magalhães (MDB), que não retornou ao contato. Entretanto, após votação em primeiro turno nesta terça-feira (4), o parlamentar afirmou em coletiva de imprensa que o governo já esperava um “placar apertado”, já que muitos deputados da base são ligados às forças de segurança pública. Ainda assim, ele garante que não há de se falar em vitória nem derrota do governo:
“Isso é o debate e isso é legítimo. Nós que estamos no parlamento estamos sujeitos a essas nuances. A gente tinha alguma dificuldade com alguns deputados ligados à força de segurança e um placar um pouco apertado. Mas era esperado, diante do quadro da semana anterior, a gente já trabalhava com esse cenário”, afirmou. Ele foi procurado nesta quarta (5), mas não ainda não retornou.
É preciso melhor diálogo com o servidor, diz deputado da base
O deputado Adriano Alvarenga (PP) votou a favor do governo estadual e contra a emenda dos deputados que propunham o reajuste de 10,67%, porque, segundo ele, parlamentares não podem criar projetos que geram despesas para o Executivo, não sendo prerrogativa do Parlamento. No entanto, o deputado criticou a condução do Executivo no trato com o servidor.
“O governador tem a chave do governo na mão, e atrás dele tem milhares de servidores que querem continuar confiando na pessoa dele. Então, esse trato do governador com o servidor tem que melhorar. Tem que melhorar o diálogo, tem que melhorar a sensibilidade e enxergar o servidor como parceiro do Estado. Prefeito, governador, presidente, ninguém governante faz nada se não estiver com o servidor do lado”, disse.