BRASÍLIA — O PSB tornou público, nesta terça-feira (5), o apoio da bancada de 14 parlamentares à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara dos Deputados. Esse gesto também foi feito pela federação PSDB e Cidadania com 17 deputados. A posição desses três partidos incluem eles na aliança — agora com 11 legendas — que apoia Motta para a sucessão do atual presidente Arthur Lira (PP-AL).
As bancadas que o apoiaram até agora representam 356 deputados, mais que os 257 necessários para eleger Hugo Motta em primeiro turno — a votação é secreta, e os partidos contam com a fidelidade de seus parlamentares para garantir a eleição dele. PP e Republicanos puxaram a fila dos apoiadores de Motta, seguidos por Podemos, MDB, PT, PL, PCdoB e PV.
Aliados de Hugo Motta negociam um bloco único, ou pelo menos de uma frente majoritária como a que apoiou Lira em sua reeleição. À época, vinte partidos o apoiaram e ele obteve a maior votação da história da Câmara dos Deputados — foram 464 votos para ele em um universo de 509.
Outros partidos são aguardados na aliança de Hugo Motta. O apoio do PDT à candidatura é tratado como certo, e as únicas indefinições à mesa são o União Brasil e o PSD, que têm, atualmente, seus próprios candidatos à presidência da Câmara dos Deputados. Internamente, o União Brasil articula a desistência de seu líder na Câmara, Elmar Nascimento, em prol da candidatura de Motta. No PSD, o líder e candidato Antonio Brito indicou que não está disposto a se retirar da disputa.
Quem é quem na eleição para a presidência da Câmara
Arthur Lira
Líder do PP na Câmara dos Deputados antes de assumir a presidência, Arthur Lira (AL) assumiu a cadeira mais importante da Casa e a ocupa há quatro anos — por dois mandatos consecutivos.
Na última eleição, em fevereiro do ano ado, Lira alcançou recorde de votos na história da Câmara dos Deputados: ele recebeu 464 votos dos 509 parlamentares presentes na sessão, tendo o apoio de um bloco parlamentar único com vinte partidos — do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lira calculava eleger o amigo e aliado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) como seu sucessor no pleito que acontecerá em fevereiro de 2025. E o deputado do União Brasil contava com esse apoio que não chegou.
Alegando a necessidade de repetir o bloco único que o elegeu à procura de consenso entre as bancadas, Lira indicou em outubro que seu candidato é Hugo Motta (PB), líder do Republicanos na Câmara.
A decisão marcou o rompimento com Elmar, tratado nos meses anteriores como o sucessor óbvio de Lira. O líder do União Brasil não escondeu a decepção e repetiu ter se sentido traído por Lira. "Perdi meu melhor amigo", disse Elmar na última quinta-feira (31) sobre o ponto final na longa amizade com o atual presidente da Câmara dos Deputados.
Aliados dizem que eles retomaram o contato e discutem uma reconciliação.
Elmar Nascimento
Com forte capital político na Bahia, Elmar Nascimento é o líder da bancada do União Brasil na Câmara dos Deputados. Desde que as discussões sobre a sucessão de Lira começaram, ainda em dezembro do ano ado, Elmar era tratado como o sucessor óbvio do alagoano, principalmente pela relação de proximidade entre eles.
Lira nunca indicou publicamente o apoio à candidatura de Elmar, mas aliados confirmaram a intenção do presidente da Câmara em eleger o amigo.
Entretanto, algumas questões teriam pesado contra Elmar Nascimento para Arthur Lira. O ponto central é a dificuldade de trânsito de Elmar entre as bancadas; deputados questionam a capacidade de articulação e negociação do líder do União Brasil, que não era bem-visto pelo Palácio do Planalto por ser parte do grupo rival ao do ministro Rui Costa, da Casa Civil, na Bahia.
Ele também não era um nome forte entre os deputados do PL — a maior bancada da Câmara com 93 parlamentares.
Elmar não era o nome de consenso que Lira queria e Hugo Motta apareceu como a melhor opção, para o presidente da Câmara, nessa equação. Elmar acabou isolado e optou por se movimentar na direção oposta a Lira: buscou uma aproximação com o governo Lula (PT) e se reuniu com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, rival de Arthur Lira.
O líder do União Brasil também teve encontros com os ministros que o partido mantém no governo: Celso Sabino, do Turismo, e Juscelino Filho, das Comunicações.
E essa não foi a única cartada de Elmar. Ele ainda se uniu a outro candidato na disputa pela presidência da Câmara: Antonio Brito, líder do PSD na Casa. Os dois firmaram um pacto de apoio mútuo em um eventual segundo turno da eleição.
Antonio Brito
Líder do PSD na Câmara dos Deputados, Antonio Brito ostenta o título de ser um dos parlamentares com melhor trânsito entre as bancadas. É um nome querido do PL ao PT, tem relações de amizade com o líder do bloco do PL, Altineu Côrtes (RJ), e com outros importantes deputados da Casa.
Aliados acreditam que o principal trunfo dele nessas eleições é o contato corpo-a-corpo. Como os votos para a presidência da Câmara são secretos, os deputados podem divergir da orientação da bancada e votar em quem quiser.
Interlocutores têm dito que o favoritismo antes de Elmar Nascimento e agora de Hugo Motta não assusta Brito, que, nas palavras de um aliado, "sempre esteve navegando contra o vento". Ligado à ala mais progressista da Câmara, ele não encontra resistências no governo Lula.
O principal fiador da candidatura de Brito é o presidente de seu partido, o cacique Gilberto Kassab, que saiu fortalecido das eleições municipais. O PSD se tornou o partido com maior número de prefeituras no país no último pleito.A hipótese de desistência de Brito não está na pauta de Kassab, que deve articular a manutenção de candidatura de Elmar e o apoio do União Brasil a Brito. Na contramão, Lira tenta convencê-lo a desistir de Brito e apoiar Hugo Motta.
Hugo Motta
Eleito deputado com a idade mínima permitida, ele está na Câmara há 14 anos e pode se tornar o presidente mais jovem da história da Casa com 35 anos. Hugo Motta surgiu na disputa para a presidência com a desistência do então candidato de seu partido, Marcos Pereira (Republicanos-SP), que é presidente nacional da sigla. Motta é um nome tratado pelas bancadas como capaz de unir polos partidários divergentes em torno de sua candidatura.
Ele recebeu o apoio público do presidente Arthur Lira na última terça-feira (29). Depois disso, oito partidos confirmaram que irão apoiá-lo: PP, Republicanos, Podemos, MDB, PT, PL, PCdoB e PV. Motta também dialoga com as outras bancadas, e novos acordos devem ser firmados nos próximos dias.
O deputado, que é líder do Republicanos, é franco favorito na disputa. Ele manifesta o desejo de construir um bloco único de partidos em torno de sua candidatura. Assim como Brito, Motta é um parlamentar muito querido pelos pares e recebeu o aval do presidente Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na semana ada, Motta ligou para Elmar Nascimento e os dois marcaram um encontro. Interlocutores têm dito que o líder do Republicanos quer intensificar o diálogo com o adversário que, em breve, pode apoiá-lo. Aliados de Elmar também dizem publicamente que ele não vê empecilhos para apoiar Motta e que o problema, para ele, é apenas Lira.