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Hora da Castanha
Oeste Outra Vez é um faroeste sertanejo sobre solidão, honra e masculinidades frágeis
Filme de Érico Rassi reinventa o western em pleno interior de Goiás, com drama seco e carregado de símbolos
Homens duros, feridos e calados
Oeste Outra Vez, novo drama dirigido por Érico Rassi, se a no sertão de Goiás e evoca o espírito dos faroestes clássicos com uma pegada bem brasileira. A história gira em torno de homens turrões, feridos no orgulho e na vaidade, em busca de vingança e do direito de reaver as mulheres que os abandonaram.
Toto (Ângelo Antônio) e Durval (Babu Santana) entram em um conflito armado — munidos de seus capangas contratados — , ao disputarem o coração de Luiza. A rivalidade cresce em uma espiral de decisões impulsivas, lembrando o clima de Fargo (1996), onde pequenas escolhas equivocadas vão escalonando a trama de forma quase cômica, e inevitavelmente trágica.
É uma trama marcada por uma masculinidade silenciada: a dificuldade em se comunicar, a incapacidade de expressar sentimentos e o impulso constante para resolver tudo com violência. A honra e o abandono feminino são os motores de uma narrativa contida, mas poderosa.
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Mulheres ausentes, mas centrais
Um dos grandes méritos do filme está justamente em colocar as mulheres como forças motoras da história — mesmo que não apareçam em cena. Isso escancara o vazio afetivo desses homens, cuja solidão se revela em cada gesto seco e olhar perdido.
Para aliviar a dor, eles se agarram à cachaça, ao sertanejo raiz e ao mito da mulher idealizada. É nesse ciclo que os personagens se conectam, formando um mosaico que representa diferentes facetas do homem do interior.
Cada um vive uma etapa da frustração, da perda e da tentativa fracassada de retomar o controle da própria vida, mesmo que nenhum deles compreenda de fato os motivos que os levaram à rejeição, o que torna a jornada ainda mais trágica e silenciosamente comovente.
Drama árido, com ritmo próprio
Oeste Outra Vez exige uma entrega do espectador. É um filme de ritmo lento, com poucos diálogos e muita contemplação — o que pode afastar quem espera uma trama mais convencional. No entanto, esse silêncio serve a um propósito: ele cria uma ambientação sólida, onde o não dito fala mais alto que qualquer linha de roteiro.
A direção é acompanhada por um bom trabalho de design de produção e som, que reforçam o clima árido e solitário da narrativa. A fotografia e a trilha sonora também merecem destaque, compondo uma experiência sensorial que amplia o peso emocional da história.
As atuações são competentes, embora falte um cuidado maior com os sotaques, que em alguns momentos comprometem a imersão. Ainda assim, os personagens funcionam bem como tipos simbólicos e expressivos de um Brasil interiorano e esquecido.
Vale a pena assistir?
Oeste Outra Vez não é um filme fácil, mas é daqueles que ficam na cabeça. Ele reinventa o faroeste para contar uma história sobre a fragilidade por trás da dureza, sobre homens que não sabem lidar com rejeição, e que acabam virando prisioneiros de si mesmos.
Se você curte dramas intensos, que fogem do convencional, vale procurar uma sala de cinema onde ele ainda esteja em cartaz. Mas se perder nos cinemas, vale a espera: o filme chegará ao catálogo do Telecine em 11 de junho.
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