Já virou hábito. O Brasil coleciona uma série de citações degradantes que logo viraram clichês nos roteiros cinematográficos. Certa noite de insônia tentei lembrar-me de algumas e segue aqui uma pequena lista – ainda incompleta, creio.

No filme "Cães de Aluguel", sucesso de 1992, Mr. Pink, um dos criminosos, menciona em tom de piada que vai fugir para o Brasil com o dinheiro de um grande assalto. A referência ao nosso país como refúgio perfeito, ainda que de forma cômica, estava feita. Logo depois, em 1993, veio "O Fugitivo", onde o Dr. Richard Kimble (Harrison Ford), acusado injustamente de assassinato, persegue pistas que levam a um suspeito que fugira para... o Brasil.

Leonardo di Caprio, no papel do famoso golpista Frank Abagnale Jr. em "Prenda-me Se For Capaz", antes de ser preso finalmente na França, considerava uma nova escapadela rumo a países da América do Sul – sendo o Brasil a melhor opção. Em 2005 veio às telas o "Senhor das Armas". Nicolas Cage interpreta um abominável traficante de armas que opera globalmente. Com o FBI em seu encalço, num dos diálogos ele menciona o Brasil como um dos países para o qual envia armas impune e regularmente e para onde poderia fugir e cair no anonimato.

Em "Velozes e Furiosos 5" de 2011, Dom (Vin Diesel) e Brian (Paul Walker) fogem para o Brasil após vários crimes. Lá, planejam um grande roubo e enfrentam tanto a polícia brasileira quanto um agente do FBI. O Rio de Janeiro é retratado como um refúgio para criminosos internacionais e local de corrupção policial. Imaginação do roteirista? Hum...

O Brasil como destino favorito de bandidos ainda aparece – salvo engano – em mais algumas produções. Em "Miami Vice", dois detetives infiltrados (Colin Farrell e Jamie Foxx) investigam cartéis de drogas internacionais, citando o território tupiniquim como um dos mais adequados locais para transporte e reuniões de criminosos. E em "O Infiltrado" – um dos muitos sobre Pablo Escobar e seu cartel - o Brasil aparece de novo como rota de lavagem de dinheiro – além de lugar perfeito para bandido morar.

Na semana ada, a Embaixada dos EUA emitiu um alerta aos seus cidadãos – viajantes a eio ou a negócio. Entre outros pontos, a entidade afirmou que as atividades de gangues e do crime organizado são "generalizadas" no país; recomenda aos americanos que não se dirijam a favelas, mesmo em visitas guiadas; que não se desloquem para as regiões istrativas do Distrito Federal, nas redondezas de Brasília, reforçando que funcionários consulares só poderão ir com autorização. Aqui, não deixa de ser irônica e simbólica a constatação da capital federal como centro de bandidagem.

A nota prossegue: "crimes violentos, incluindo assassinato, roubo à mão armada e roubo de carros, podem ocorrer em áreas urbanas, de dia e de noite. A atividade de gangues e o crime organizado são generalizados e frequentemente ligados ao tráfico de drogas. (...) Agressões físicas, com uso de sedativos e drogas colocadas em bebidas, são muito comuns no Brasil. Criminosos visam estrangeiros por meio de aplicativos de namoro ou em bares antes de drogar e roubar suas vítimas. Cidadãos são ainda aconselhados a não usarem ônibus pelo risco de roubo e agressão, especialmente à noite. Finalizando, a Embaixada insiste que viajantes não exibam relógios caros ou joias e até mantenham comunicação com as famílias – códigos para informarem se está tudo ok ou se correm perigo.

Dói mais constatar que o que é fora do comum para eles, para nós virou rotina. Até quando a polícia prenderá e essa “justiça” soltará assassinos, traficantes e corruptos?