Recuo do IOF expõe um governo indeciso
Divisão no Planalto põe credibilidade em risco
O mínimo que o eleitor espera quando registra seu voto na urna a cada quatro anos é que o governo eleito saiba o que está fazendo. Não foi essa a impressão que o governo Lula III ou no episódio do recuo do IOF. E essas idas e vindas têm implicações políticas e econômicas.
Menos de cinco horas após anunciar com pompa e circunstância as medidas para cumprir as necessárias exigências do ajuste fiscal, o Ministério da Fazenda postou na rede social X uma mensagem em economês indecifrável recuando da cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras em aplicações de fundos nacionais no exterior e mantendo em 1,1% a alíquota sobre remessas destinadas a investimentos.
Sem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava em um avião para São Paulo, o núcleo político e de imagem, Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Sidônio Palmeira (Comunicação) se reuniram no Planalto para reagir à queda da Bolsa, à alta do dólar e à repercussão negativa ao pacote. Quando precisaram de um apoio técnico, chamaram o presidente do BC, Gabriel Galípolo, antes de qualquer membro da Fazenda.
Equívocos
Se a ideia era “corrigir rotas”, como disse um constrangido Haddad na manhã seguinte, a disparada do dólar na abertura do mercado sinalizou que a confiança no condutor havia espatifado.
O processo foi todo cercado de equívocos. Representantes dos bancos e do setor produtivo reclamaram de não terem sido consultados sobre mudanças em estudo no IOF. BC e Fazenda divergiam sobre as medidas. E o círculo político, a exemplo do que havia ocorrido na questão do Pix, explicitou que o cálculo eleitoral para 2026 vem primeiro que o interesse nacional.
O país vive grave crise fiscal, as contas de 2025 não fecham, e a projeção de déficit primário para 2026 é de R$ 76 bilhões. Além disso, a inflação deve fechar o ano a 5% – meio ponto acima da meta. Um governo dividido, tíbio e que aparenta não pesar prós e contras antes de entregar soluções só produz incerteza e fumaça. E o Brasil precisa mais do que isso para crescer.