O presidente americano, Donald Trump, disse, nesta quinta-feira (5), que pediu a Elon Musk, a quem chamou de "louco", que deixasse de ser seu assessor e ameaçou rescindir os contratos que o bilionário sul-africano tem com o governo.
"Elon estava se 'desgastando', pedi que fosse embora", disse Trump em sua plataforma, Truth Social. "A forma mais fácil de economizar dinheiro em nosso orçamento, bilhões e bilhões de dólares, é rescindir os subsídios e contratos governamentais de Elon", acrescentou.
Além de usar as redes sociais, Trump também expressou sua insatisfação com Musk durante encontro com o chanceler da Alemanha Friedrich Merz no Salão Oval, da Casa Branca, nesta quinta. "Estou muito decepcionado", afirmou Trump.
Desde que deixou o governo para se dedicar a seus negócios, o bilionário empreende uma campanha contra o projeto de lei tributário patrocinado por Trump que pode elevar a dívida dos EUA em US$ 2,4 trilhões (R$ 13,5 trilhões).
Trump especulou que a oposição ao projeto se deve ao fato de que subsídios a carros elétricos seriam encerrados. CEO da Tesla, Musk argumenta que não apoia o pacote tributário porque ele fará o já alto déficit americano disparar. O bate-boca, porém, fez as ações da empresa despencarem 9% durante a tarde.
"Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento. Não sei se ainda temos", disse Trump. "Ele disse coisas maravilhosas sobre mim e nunca falou mal de mim pessoalmente, mas tenho certeza de que isso virá a seguir. Mas estou muito decepcionado com Elon. Eu o ajudei muito."
Enquanto Trump falava, Musk disparava postagens no X, contestando afirmações, como a de que teve o antecipado ao projeto. "Sem mim, Trump perderia a eleição", chegou a publicar.
"Ele não é o primeiro", disse o presidente, sobre a defecção do ex-aliado. "As pessoas deixam o meu governo. Depois, em algum momento, sentem tanta falta que algumas delas am a abraçá-lo e outras até se tornam hostis."
O empresário, maior financiador da campanha republicana nas últimas eleições e até a semana ada mentor de um controverso departamento de eficiência da istração Trump, foi um dos alvos preferidos do presidente durante os mais de 40 minutos da reunião que foram acompanhados pela imprensa.
Também não economizou críticas a Joe Biden, sobre o qual determinou investigação a partir de boatos que dizem que o ex-presidente assinou documentos sem ter ciência de seu teor.
Expectativa sobre reunião
Havia enorme expectativa de como Merz se sairia no encontro depois que diversos líderes foram submetidos a constrangimentos no Salão Oval nos últimos meses. Não só ou ileso, como ainda ouviu de Trump que os EUA iriam "acabar logo com a guerra na Ucrânia".
Horas antes do encontro, a imprensa alemã projetava certa tensão com a informação publicada pelo jornal The New York Times de que a Casa Branca havia alterado a programação do dia. O encontro no Salão Oval, antes previsto para depois de reuniões e almoço, foi antecipado.
A equipe do primeiro-ministro também transpirou aos repórteres alemães que o acompanham na viagem que havia informação ada pelo estafe de Trump de que perguntas sobre liberdade de expressão e a AfD estavam no cardápio. A preparação de Merz para o encontro já imaginava que o assunto emergiria, o que não ocorreu.
J.D. Vance e Musk, à época das eleições parlamentares alemãs, declararam apoio à extremista AfD, e o vice-presidente, na Conferência de Segurança de Munique, afirmou que Europa e Alemanha cerceavam a liberdade de expressão.
O ministro da Defesa, Boris Pistorius, que estava na plateia e discursaria em seguida, correu com um assessor para uma sala para alterar seu texto. Pesada, sua resposta pública condenando a interferência dos EUA no pleito causou comoção entre alemães e líderes europeus.
Mais recentemente, quando o serviço de inteligência do país classificou a AfD definitivamente como um partido de extrema direita, Marco Rubio, secretário de Estado americano, classificou o ato como "tirania disfarçada". Tanto Vance como Rubio estavam no Salão Oval, mas a verborragia de Trump não deu espaço ao assunto.
Pelo contrário, em todos os momentos em que interagiu com Merz, Trump o adulou. Após o premiê pedir licença para responder uma pergunta em alemão, o presidente brincou: "Você fala alemão tão bem como fala inglês?". Merz é fluente em inglês, já morou nos EUA e dispensou o intérprete oficial na viagem.
Desde que o presidente americano e Vance constrangeram Volodimir Zelenski em audiência transmitida ao vivo, no fim de fevereiro, acompanhar líderes mundiais no alçapão de Trump se tornou um esporte mundial.
A última vítima foi o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, em maio, quando foi grosseiramente inquirido sobre um fantasioso genocídio branco em seu país. A argumentação de Trump, com filmes e documentos, era baseada em fake news, mostrou-se depois.
Ramaphosa lamentou não ter recursos para um presente, como o Qatar, que deu ao presidente um Boeing 747-8I de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões). Acabou elogiado na África do Sul por não responder às provocações do americano.
Merz não foi tão longe, mas apelou para o ado europeu que Trump tanto valoriza. Entregou ao presidente uma certidão de nascimento folheada a ouro de seu avô, que, em 1896, deixou a Alemanha aos 16 anos e emigrou para os EUA. Ele também se chamava Friedrich.
*Com AFP e José Henrique Mariante/Folhapress