Quanto tempo é necessário para esquecer um amor? Para a faxineira Gislaine Ferreira do Nascimento, 21, se for o primeiro deles, é preciso mais de um ano. “Se é uma pessoa com que você manteve contato e que esteve na sua vida por muito tempo, acho que leva um período grande para esquecer”, diz. A ciência, porém, acredita que o processo é mais longo. Pelo menos é isso o que aponta uma pesquisa publicada na revista científica “Social Psychological and Personality Science” no último mês de março. 

Segundo o estudo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, as pessoas levam em média 4,18 anos para que o vínculo com um antigo parceiro ou parceira seja parcialmente dissolvido. Para que um ex seja totalmente superado, conforme a pesquisa, a espera é mais longa: é necessário, em média, oito anos.

O estudo, que ouviu 328 pessoas, porém, não deve ser levado como regra, pontua a psicóloga Vanessa Teixeira. “A gente não pode colocar num calendário um tempo exato para que, em média, a gente esqueça uma relação. Existem vários fatores envolvidos quando um relacionamento é desfeito, e isso interfere na intensidade com que a gente vai, depois, tentar elaborar esse fim”, afirma. Ela pondera, ainda, que não há uma conta direta. “Não é porque a relação foi intensa que vou precisar de muito tempo. Às vezes ela foi tão intensa que parece que tudo que tinha que ser vivido já foi vivido dentro do relacionamento mesmo: início, meio e fim. E, quando ele vem a terminar, a pessoa já estava tão certa de que a despedida já foi feita que ela consegue seguir com mais rapidez”. 

Cláudio Paixão, doutor em psicologia social e professor da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reforça o coro, pontuando que a pesquisa apresenta apenas uma média dos participantes. “Isso quer dizer que pode ter gente que esquece em dez anos, assim como pode ter quem esqueça em seis meses, um ano. Isso depende do grau, da profundidade do relacionamento, da intensidade da relação e do quanto ela marcou”, afirma. 

Ele cita, ainda, um dado interessante da pesquisa: o fato de que casais com filhos conseguem superar mais rápido o término da relação do que aqueles que não os têm. “Quando alguém tem filhos, provavelmente essa pessoa viveu uma relação muito mais profunda no sentido de experiências e, vamos dizer, de realidade. Ter filho não é para qualquer um, envolve uma série de problemas e preocupações. Então você tem uma idealização menor desse parceiro ou dessa parceira”, explica. “É interessante isso, porque você tem dificuldade no início, claro, porque você sente falta daquela pessoa com quem estava convivendo durante determinada situação e, por outro lado, você supera rápido, porque tem um choque de realidade ali. Você não vai nutrir fantasias com uma pessoa que você já sabe que tem um monte de problema, com quem você sofreu e viveu muita coisa”.

Segundo Paixão, esse dado aponta para outros elementos que estão relacionados ao processo de superar alguém. “Temos a profundidade e o grau de idealização dessa relação. Quanto maior esse grau de idealização, mais a gente fica cheio de ‘e se?’ na cabeça, então é mais difícil superar. Você está lutando não contra uma pessoa real, para se livrar da imagem de uma pessoa real, mas para se livrar de uma pessoa idealizada, um sonho”.

Vanessa Teixeira ressalta que o término não é algo simples nem protocolar e que, nesse processo de superar, que é também um processo de luto, várias coisas precisam ser elaboradas. “É preciso observar quais eram as condições dessa relação, o que acontecia nela que você ainda precisa elaborar, o que não acontece mais”, lista. “Acho que existe uma tendência hoje de transformar os nossos processos humanos em protocolos, e uma tendência de dizer que não podemos ficar tristes, mas não é bem assim. As pessoas que nos atravessam deixam uma marca, deixam um resto delas em nós, e nós nelas. Então, algo disso precisa ser transformado em outra coisa. E, às vezes, esse processo de luto recai sobre algumas pessoas de maneira muito intensa, em que não se perde só uma parte de si; é como se você estivesse indo embora quando o outro vai embora. Você se esvazia totalmente. Então, nesses casos, a gente pode observar que vai ter uma tristeza maior, uma melancolia. Esses são casos que precisam ser olhados com mais cuidado, porque, quando a pessoa se esvazia, se apaga totalmente, é preciso que haja auxílio para que ela se erga, um auxílio profissional”, afirma.

Também é necessário ter atenção quando há dificuldade de viver a própria vida. “Às vezes a pessoa começa a rejeitar, barrar, interditar qualquer interação, qualquer aproximação com outras pessoas pelo simples fato de não querer mexer com isso, por entender que bom mesmo era o ex. Então, quando isso começa a impedi-la de sair – e eu não falo sair de casa, mas sair para a vida, se lançar na vida –, é uma coisa que começa a ser preocupante. Podem, às vezes, ar anos, meses, dias, mas nesse processo a gente vai sentindo que as coisas vão se atenuando; se não forem, aí a gente pode começar a ficar preocupado. E aí é sempre bom procurar uma terapia, conversar sobre isso, tentar entender o que tem ali, o motivo de estabelecer um vínculo tão forte com aquela pessoa que, às vezes, nem era um companheiro ou companheira tão legal assim”, elucida Cláudio Paixão.

Por outro lado, há quem lide com o processo de luto após o fim do relacionamento de forma natural. “Nesse caso, buscar uma terapia, um auxílio, também pode ajudar nisso. Mas, mesmo assim, você vai ter que atravessar um pouco esse deserto de tristeza mesmo. E aí vem um tanto de sentimentos ruins: pode vir a própria tristeza, uma raiva; pode virar um arrependimento, um ressentimento. Depende de como você vai conseguir ar por aquilo, mas experiências desagradáveis, um tempero desagradável no luto é um pouco inevitável”, aponta a psicóloga Vanessa Teixeira. 

Segundo ela, o processo de luto por uma relação é solucionado com conversa. É necessário falar sobre o assunto para superá-lo. “Cada um vai dar conta [do término] como consegue. Agora, acho que um ponto muito importante é ter com quem conversar. E não é o ChatGPT, não. Precisa de gente, alguém que vai te escutar, te acolher, te dar um abraço. Pode ser até um profissional, mas procure alguém com quem você possa conversar, pessoas confiáveis com quem você possa repetir a sua história até você conseguir elaborá-la. Ainda que você precise se isolar um pouco de vez em quando, não se isole totalmente”, aconselha.

Cláudio Paixão orienta que as pessoas não busquem seguir regras ou conselhos dos outros apenas por seguir. “Tem um monte de gente que vai dizer que você tem que ficar em casa um tempo, que você não tem que sair, que tem que se curar, ou então a outra pessoa vai te dizer que você tem que preencher sua vida, que tem que ficar com um monte de gente. Mas nenhuma das fórmulas é aplicável a todo mundo”, pontua. Segundo o psicólogo, o ideal é evitar ficar remoendo ou frequentando situações, lembranças ou lugares que remetam à pessoa. Evitar se encontrar com a pessoa de quem está se separando também é importante. “E o ideal é que as pessoas tenham todas as conversas, exponham seus sentimentos e esclareçam aquelas coisas que estão ali dentro, botem as coisas em panos limpos. E, se pintou alguém interessante, deixa acontecer”.