Para eles, a estabilidade é mais importante do que a flexibilidade no trabalho. Se você acha que estamos falando de pessoas mais velhas, errou. É na geração Z (de 16 a 30 anos) que essa preferência aparece em destaque. A pesquisa “Perspectivas Intergeracionais no Mercado de Trabalho”, realizada pela DATATEMPO/FECOMÉRCIO MG, revela que, entre os jovens, 37,4% preferem um trabalho estável a um flexível. Já os millennials e X dão mais valor para a flexibilidade, com 50,3% e 44%, respectivamente.
Pode parecer contraditório porque, normalmente, os mais jovens tendem a ser vistos como mais desapegados. “Esse anseio por estabilidade pode ser explicado pelo fato de que essa geração ainda não está plenamente inserida no mercado de trabalho. Por sua vez, a preferência por flexibilidade entre os millennials (31 a 42 anos) e X (43 a 60 anos) pode ser justificada pelo aumento de trabalhadores autônomos nessas gerações, uma vez que esse modelo permite maior adaptação às necessidades individuais”, avalia Aldrey Guerrero, analista de pesquisa no instituto DATATEMPO/FECOMÉRCIO MG.
Outra explicação para os jovens desejarem mais estabilidade, segundo Anderson Sant’Ana, professor da Escola de istração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp), é que a geração Z já nasceu cercada por instabilidade no mercado de trabalho. “Esses jovens estão sendo adaptados, treinados e desenvolvidos para dar conta desse mundo sem emprego, cada um por si, em que você é um empreendedor de si mesmo. Nós estamos oferecendo um mundo flexível, adaptável, um mundo em que você não tem mais estabilidade. Essa geração talvez seja mais vítima do que um agente desse processo”, diz Sant’Ana.
Doutor em psicologia social e professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG, Cláudio Paixão pondera que, quando estamos analisando o comportamento geracional, é preciso considerar o recorte social, pois a renda vai influenciar diretamente as decisões. “Costuma-se dizer sobre a geração Y, e também sobre a Z, que eles escolhem muito, que não estão dispostos a se adaptar às regras e aos padrões que havia antigamente, porque agora eles têm a cabeça muito aberta, são muito ligados à diversidade, isso é uma bolha. Essa questão da abertura para a diversidade vai até onde a fome aperta. Então, muita gente hoje, se tivesse oportunidade de buscar, de ter um emprego, abraçaria com unhas e dentes e não deixaria esse emprego”, avalia Paixão.
Com 18 anos, Roberta Gonçalves, que vem de uma família de baixa renda, está começando a vida profissional. Depois de dois anos como jovem aprendiz, ela acabou de ser contratada e agora vai ganhar um salário mínimo. Antes, ela ganhava só meio. Com carteira assinada, o emprego vai ao encontro do seu maior desejo. “Meu sonho atualmente é conseguir estabilidade financeira e talvez investir em algo como faculdade ou casa própria”, diz a estudante.
O sonho da casa própria é comum a todas gerações, mas é maior na Z, da qual Roberta faz parte. A pesquisa DATATEMPO/FECOMÉRCIO MG mostra que 45,8% das pessoas de 16 a 30 anos têm como principal objetivo a compra de um imóvel. Entre os millennials, esse é o campeão de desejos (42,7%). Na geração X é o vice no ranking (36,4%), perdendo apenas para a qualidade vida (53%).
A professora e escritora Luana Tolentino, 40, é dos millennials. Quando questionada sobre qual é o seu maior sonho atualmente, ela não pensa duas vezes para responder: “O que desejo é adquirir a minha casa própria, é comprar um meu apartamento, esse é o meu sonho”.
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