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Sem cura interior, não há como ter relações saudáveis
Andrei Moreira, médico homeopata e terapeuta sistêmico, fala sobre seu novo livro
São mais de 20 anos como médico homeopata e terapeuta sistêmico mostrando às pessoas como mergulhar em si mesmas, desenvolver o autocuidado amoroso e ser uma metamorfose constante. Todo este caminhar de Andrei Moreira está no recém-lançado “Se Você Não Se Curar do que Te Feriu, Irá Sangrar em Cima de Quem Não Te Machucou”.
Conte-nos mais sobre o seu livro. O livro é baseado na minha experiência clínica com a medicina homeopática, integral – corpo, emoções, mente, espírito –, de mais de 20 anos. Ele aborda a cura interior e a imensa capacidade do ser humano de fechar as suas feridas, transcender as dificuldades, integrar as suas vivências, elaborar os conflitos, expandir a consciência de si mesmo e se tornar aquilo que deseja ser. Esse é o caminho da autonomia e do resgate da autenticidade. Quando percorremos o caminho de percepção de nós mesmos, de autoencontro e de autossuperação, aliviamos as pressões das nossas dores, defesas psicológicas e o peso de tudo aquilo que não está curado em nós. Por isso, escolhi como título uma frase que enuncia com precisão que, quando não nos comprometemos com o processo de cura das nossas dores interiores, acabamos projetando o peso dos nossos traumas, carências, medos e fantasias nas relações afetivas e profissionais, sobrecarregando-as. Com isso, mantemos dinâmicas relacionais adoecidas e terminamos por nutrir expectativas irreais do que as relações podem oferecer, nos frustrando com conflitos relacionais que terminam por reforçar as dores infantis que trazemos ocultas e ativas dentro de nós.
Todos temos feridas, mas muitas estão no nosso inconsciente, talvez guardadas em um local de difícil o. Como fazemos para reconhecê-las e transformá-las? Sim, todos nós as temos. Podemos reconhecê-las a partir do entendimento do que elas representam, bem como a partir das defesas que desenvolvemos para sobreviver a elas. Boa parte de nós conhece os sintomas das dores e seus efeitos nos relacionamentos, mas não consegue denominá-las ou descrevê-las. No livro, classifico as feridas infantis, as defesas de retração e de expansão que desenvolvemos para sobreviver a elas e os movimentos de solução. O processo de cura interior é semelhante à organização do quartinho dos fundos da nossa casa onde guardamos tudo que não queremos ver, que já não serve mais, com o que não sabemos o que fazer, ou as coisas das quais não nos desapegamos. Vamos entulhando o quartinho até que ele esteja cheio e surjam mofo, insetos e roedores. Então, tomamos coragem e vamos limpar o cômodo. Também temos um quartinho dos fundos na alma, onde guardamos memórias, desejos, sentimentos, opiniões, acontecimentos, sensações, sobretudo da nossa infância e da relação com os pais. E ele também anuncia, por meio de sintomas, a necessidade de ser olhado. Ao abrir esse quarto oculto dentro de nós, precisamos responder a quatro perguntas essenciais: o que é isto que eu vejo/sinto (denominação das emoções e sentimentos); a quem pertence (identificações que tenho); isto é útil para mim (percepção dos efeitos); e o que posso/decido fazer com isto (autonomia e poder pessoal)? Assim, no calor da autoconsciência, da autorresponsabilidade e do autoamor, movimentamos o que está retido ou congelado dentro de nós na direção da autonomia e da cura interior.
Como podemos nos livrar da dor das carências vividas na infância e que vão definir a qualidade dos nossos relacionamentos afetivos na fase adulta? Tendemos a repetir e confirmar as nossas feridas infantis na vida adulta, como quem vive um roteiro afetivo e modifica personagens no palco sem mudar a história. Para que isso mude, é preciso ter consciência das feridas, mas, sobretudo, compromisso consigo mesmo. Na vida adulta, todos somos chamados a nos tornar pais e mães de nós mesmos e nos dar aquilo que faltou na nossa infância ou nos liberar dos excessos que experienciamos. No entanto, não se trata de se tornar a cópia do seu pai ou da sua mãe, mas sim de ser para si mesmo o pai e a mãe de que você precisou na sua infância. Quem se sentiu abandonado precisa estar presente para si mesmo; quem se sentiu rejeitado precisa se aceitar e se acolher; quem se sentiu injustiçado precisa ser justo e fiel consigo mesmo; quem se sentiu humilhado ou violentado precisa se ofertar um amor generoso. Parece paradoxal que tenhamos que nos dar o que não recebemos, mas é o único caminho de cura real. Para isso, devemos nos comprometer conosco e nos acercar de pessoas, comunidades e práticas que ofereçam senso de segurança, pertencimento e acolhimento sem julgamento moral, para nutrir em nós a força do autocuidado, da compaixão e da amorosidade incondicionais. Todos merecemos amar e ser amados.
Muitas vezes as pessoas sustentam um padrão de comportamento doentio e limitante e nele persistem a vida inteira por comodismo. Por que mudar é tão difícil? Nós nos acomodamos nas defesas que nos ajudaram a sobreviver, ainda que hoje elas nos custem um preço tão alto nas relações, pois, ao mesmo tempo que nos protegem, também reforçam as feridas e as confirmam. Muitas pessoas estão paralisadas nos efeitos do trauma ou emaranhadas nos vínculos familiares sistêmicos de tal forma que se sentem congeladas ou sem recursos para a mudança. Permanecermos os mesmos, repetindo padrões familiares, nos faz sentir pertencentes ao grupo, sem ameaça de exclusão e, frequentemente, com ganhos secundários, tal como ser falsamente importante (aquele que faz tudo para os outros para ser amado, por exemplo, e ganha atenção por ser servidor) ou permanecer vítima (e não precisar assumir a responsabilidade), mantendo-se infantil e dependente. As mudanças requerem desenvolvimento de autonomia e poder pessoal, desidentificações e individuação, pois crescer e se curar representa fazer escolhas, assumir um posicionamento interior e pagar os preços das decisões, como fazem os adultos.
A espiritualidade pode ser um caminho de cura? A espiritualidade é um lindo caminho de cura quando ela representa uma postura e um movimento de conexão com o sagrado, com o divino e com o essencial. Por meio dela, aliviamos as nossas dores cultivando um senso de dignidade, segurança interior e valor pessoal, base fundamental de uma estima segura. Por meio da espiritualidade, podemos nos abastecer daquilo que precisamos e nutrir as sementes dos potenciais que não tiveram a oportunidade de serem cultivados na nossa infância e desenvolvidos ao longo da nossa história. Com uma espiritualidade viva e transformadora, nos aproximamos mais de nós mesmos, da nossa verdade e autenticidade.
Como acontece a cura interior? Ela é um processo no tempo, feito de etapas que requerem foco, persistência e coragem. Ela começa quando retiramos das nossas costas a pressão do “tenho que” e o substituímos por “estou amorosamente convidado a”, aliviando as culpas, as cobranças e o perfeccionismo que impedem o processo de continuar ou de atingir o seu mais amplo resultado. Para isso, é essencial cultivar a humildade e pedir ou aceitar a ajuda médica, psicológica, afetiva e espiritual que esteja à nossa disposição na vida. Ninguém tem que dar conta sozinho. Essa é uma cobrança do orgulho e um efeito do desamparo. A vida é pródiga de amor, e abrir-se para receber, quando ele bate à porta, ou buscá-lo, quando se necessita, é um ato de humildade e autocuidado curativo. É importante declararmos o nosso amor para as pessoas e relações que são importantes para nós. Muito sofrimento decorre do afeto guardado e reprimido, do perdão não dado ou não pedido, do silêncio e da vergonha, resultantes dos traumas. Sofremos mais pelo amor que retemos do que pelo amor que não temos. Amar é curativo. Mas, para isso, precisamos cuidar bem de nós mesmos, do(a) filho(a) dos nossos pais, para que o amor declarado e partilhado seja o mais amplo equilíbrio do dar e do receber, sustentando relações saudáveis e abastecedoras. Desejo que todos que leiam a obra possam encontrar inspiração, força e recursos para se aproximar um pouco mais de si mesmos, de sua verdade e autenticidade, com amor e compaixão.
AGENDA: O lançamento do livro “Se Você Não Se Curar do que Te Feriu, Irá Sangrar em Cima de Quem Não Te Machucou” acontece no próximo dia 26, das 11h às 14h30, na Livraria da Rua, na rua Antônio de Albuquerque, 913, Savassi.
“Se Você Não Se Curar do que Te Feriu, Irá Sangrar em Cima de Quem Não Te Machucou”
Andrei Moreira
Editora Infinda
296 páginas
R$ 85