Dois dos escritores brasileiros mais reconhecidos e considerados estavam na mesma casa quando participaram de uma disputa para decidir de quem seriam os versos da nova música de Dorival Caymmi (1914-2008). Após quase oito décadas, a história já sabe que Jorge Amado (autor de “Capitães de Areia”) venceu Érico Veríssimo (responsável pela saga “O Tempo e o Vento”) na ocasião. “É Doce Morrer no Mar” seria lançada em forma de compacto naquele mesmo ano de 1941 e relançada em 1954, no primeiro LP de Caymmi: “Canções Praieiras”, que serviu de base para “Caymmi e Seu Violão” (1959), com outras quatro canções acrescentadas ao repertório original, entre elas “O Vento” e “Noite de Temporal”.
Foi o segundo disco que apresentou BNegão, 45, à obra do autor de “O Bem do Mar”, “A Jangada Voltou Só”, “A Lenda do Abaeté”, “Saudade de Itapoã” e tantos outros clássicos do cancioneiro nacional. “Cheguei desavisado, moleque, achei que era uma coisa clássica. Nunca tinha ouvido Caymmi e foi um dos primeiros (discos) que ele gravou. Comecei bem, porque eu ficava nesse lance de achar que o Caymmi era só brejeiro, solar, e esse álbum é bem tenebroso, meio Black Sabbath”, compara BNegão.
Neste sábado (28) o cantor estreia em São Paulo “BNegão Canta Dorival Caymmi”, show em que pela primeira vez experimenta o formato voz e violão. “É a coisa mais difícil que já fiz na vida, se algo der errado não dá para se esconder atrás do baterista”, ite o músico. O trabalho ainda não tem previsão de chegar a Belo Horizonte. Apesar do entusiasmo, BNegão não pretende registrar a nova empreitada em CD. “Quero rodar com esse projeto por muito tempo, estamos vendo possibilidades de levar para fora do Brasil. Mas vai ser só o show, como uma sessão de descarrego. Espero que as pessoas saiam com vontade de ouvir na íntegra o disco do Dorival Caymmi”, explica o rapper.
Além das 12 faixas que integram o álbum do homenageado, BNegão resolveu incluir mais canções com essa temática oceânica, a fim de adensar o caldo do espetáculo. “Rainha do Mar”, “Morena do Mar” e “Canção da Partida” estão entre elas. “Estou plugado 24 horas por dia no repertório do Caymmi. Outro dia mesmo eu estava a caminho de algum compromisso, e ouvi a versão da Gal (Costa) para ‘Rainha do Mar’, cheia de groove. Achei a melhor de todas! A minha deve ir por aí também”, confidencia o músico.
Encontro. BNegão ainda era conhecido apenas como Bernardo, seu nome de batismo, quando, aos 16 anos, o jovem nascido e criado no bairro de Santo Teresa (RJ) entrou em um sebo com uma intenção definida. “Decidi que era hora de conhecer Caymmi e comprei o vinil. Eu sempre ouvi uma porrada de coisas, mas esse se tornou um dos cinco discos da minha vida. Quando acabou o lado A, eu estava sem ar”, confessa. “Esse é um disco diferente na própria obra do Caymmi, não tem como explicar. É como se você entrasse nele, igual aquele livro ‘A História Sem Fim’ (do alemão Michael Ende, de 1979). O mar te leva junto”, afiança.
Vinte e três anos depois da estreia no mercado fonográfico e decorridos dez anos da morte de Caymmi, o cantor tomou coragem para investir nesse ado de memória afetiva. “Tive esse vislumbre de que era possível depois que toquei com o Wilson das Neves (1936-2017) várias músicas das antigas, dos anos 50. Aquilo foi uma aula. Agora estou preparado para entrar nesse mar e não me afogar”, garante. A permanência de um compositor que conheceu o primeiro sucesso quando Carmen Miranda lançou “O que É que a Baiana Tem?” (1939) no século ado tem a ver, segundo o cantor, com a essência das canções.
“Como todo clássico, esse disco do Caymmi que me serviu de inspiração é atemporal, assim como a ‘Dança do Patinho’, infelizmente, também se tornou atemporal”, debocha. Com uma produção considerada curta pelo tempo de carreira (20 discos em 60 anos) e sua lendária letargia, Caymmi é um dos autores mais regravados por intérpretes de diferentes gerações, indo de Dick Farney e Tom Jobim à própria neta, Alice Caymmi. “Para além da obra, vejo Caymmi como uma entidade, um avatar, é a música em forma de gente. Depois de tudo, jangada no mar e pessoas morrendo, nós saímos inteiros e renovados. É uma oração”, conclui BNegão.
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