Apesar dos atrasos e improvisações - como a área reservada à imprensa embaixo do palco, de onde reluziam as luzes no rosto dos repórteres - , a 32ª edição do Prêmio da Música Brasileira trouxe ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro uma noite à altura da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó.
Os filhos de Mário - patriarca do sertanejo menos conhecido que o Francisco, pai de Zezé di Camargo e Luciano - , José e Durval, "cumpriram o roteiro sonhado pelo pai", como afirmou a atriz Nanda Costa, apresentadora da premiação. "O senhor Mário sonhou com filhos cantores, e quando abriu os olhos, tinha dois ídolos de milhares de pessoas em casa", disse o ator Fabrício Boliveira, que dividiu o palco com Nanda.
A jornada da dupla nascida no interior do Paraná, que uniu a tradição da música caipira ao sertanejo moderno, tendo sido muitas vezes acusados de desvirtuar o gênero, deu o tom da noite. Os relatos das dificuldades e dos feitos históricos de José e Durval foram entremeados com apresentações de seus grandes sucessos. Tanto os clássicos da música caipira e sertaneja, como
"No Rancho Fundo", como as canções que eles tornaram clássicas, como "Nuvem de Lágrimas" e, claro, "Evidências", que fechou a noite - com direito a plateia em pé, acompanhando a canção com palmas. Como ocorre tradicionalmente.
O músico Julinho Teixeira, arranjador de "Evidências", quintessência da obra de Chitãozinho e Xororó, recebeu o prêmio de músico brasileiro, agradecendo a Paulo Debétio, compositor de "Nuvem de Lágrimas", outro grande sucesso da dupla,"que nos apresentou."
O cantor Zeca Pagodinho foi o ganhador na categoria samba e melhor lançamento. Além dele, a cantora Liniker, ausente do evento, também foi premiada nas categorias melhor artista e melhor lançamento ("Caju").
Na categoria rock, os vencedores foram a banda Black Pantera e o grupo de rap rock Planet Hemp por "Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça (Ao Vivo)". Na categoria Raízes - que o comentarista Milton Cunha considera "linda"Alceu Valença, o "menestrel de Olinda", foi o vencedor. O melhor lançamento nesse segmento foi para Mariana Aydar e "Mariana e Mestrinho", de Mariana Aydar e Mestrinho.
Em projeto especial, o vencedor foi "Moraes é Frevo", da Orquestra Frevo do Mundo, Pupillo e Davi Moraes, filho de Moraes Moreira.
João Bosco, que dividiu o palco com Sandy na apresentação de "No Rancho Fundo", foi o vencedor na categoria artista de MPB. O vencedor em MPB lançamento foi "Se O Meu Peito Fosse O Mundo", de Jota.Pê. Como artista revelação, o vencedor foi o grupo Os Garotin.
Na categoria artista de funk, a vencedora foi a cantora Valesca Popozuda, "uma das mães do samba", segundo comentário da também cantora Zélia Duncan na live da apresentação. O melhor lançamento de funk foi para "Amor de Carnaval", de Jup do Bairro, Maria Alcina e Pagode da 27.
No gênero rap & trap, o cantor Emicida foi escolhido o melhor artista, e "Na Visão do Morador", de Mv Bill, foi o melhor lançamento.
Em instrumental, o músico Hermeto Pascoal foi eleito o melhor artista e "Y'Y", de Amaro Freitas, o melhor lançamento.
No segmento eletrônico, "Vera Cruz Island", de Jadsa, João Milet Meirelles e Taxidermia, foi o lançamento vitorioso.
"Invisible Woman", de Silvia Machete, foi o álbum vencedor na categoria língua estrangeira.
"Heitor Villa-Lobos: Bachianas Brasileiras N.8 (Ao Vivo)", da Orquestra Sinfônica Brasileira, foi o melhor lançamento em música erudita.
Na categoria reggae, lançada este ano, Planta e Raiz ganhou como melhor artista. O melhor lançamento foi de "Coração Âncora", de Céu e RDD.
Na música romântica, o melhor artista foi o veterano Odair José e o melhor lançamento foi "É o Grelo", de Grelo.
Em sertanejo, João Gomes, o "rei do piseiro", foi o melhor artista, e Lauana Prado ganhou como melhor lançamento por "Transcende (Ao Vivo) Vol. 1".
APRESENTAÇÕES
A premiação não deixou fora nenhuma canção marcante do repertório da dupla homenageada, mas as apresentações foram irregulares. Embora bastante aguardados, Sandy, que cantou "No Rancho Fundo" com João Bosco, e Junior, que cantou "Sinônimos" com Os Garotin, ficaram a dever na categoria emoção. Lenine e Lauana Prado cantando "Nuvem de Lágrimas" também ficaram a dever para Chitãozinho e Xororó e Fafá de Belém, que consagrou a canção.
Por outro lado, Paula Teixeira, com um figurino de "bang bang" segundo o comentarista Milton Cunha, e Tiago Iorc, que se atrasaram para entrar, demonstraram sintonia e trouxeram a emoção que caracteriza a dupla sertaneja.